Michel Temer sem nada a perder porque já atingiu o fundo do poço viajou a Russia e Noruega. Foi determinado a mostrar algum controle sobre a estabilidade da economia ao mercado mundial que duvida sobre seu futuro. Enquanto no Brasil a burguesia se pergunta até que ponto vale a pena sustentar esse governo e os trabalhadores se mobilizam buscando reunir forças para derrubá-lo.
Aparentemente sem combinar com os russos, Temer ouviu de Putin promessas de perfurações de poços de petróleo, construção de hidrelétricas, investimento em ferrovias, novos interesses em carne bovina, entre outros negócios, vários deles envolvendo a Amazônia. O jornal Valor Econômico concluiu que, se o presidente brasileiro buscava um alento internacional para sua delicada situação, encontrou na Rússia um parceiro ideal. Mas faltou dizer que essa receita não é nova, alugar o Brasil já foi recomendado por Raul Seixas décadas atrás.
O objetivo de Putin com tantos projetos de energia e infraestrutura no Brasil não tem nada com alguma afinidade com Temer. Vamos lembrar que a Rússia também passa por uma crise e enfrenta a ofensiva de Donald Trump que está buscando isolá-la. Precisamos ver sua iniciativa de convidar Temer para o encontro apenas como uma busca por parcerias que sinalizem novos horizontes para as empresas russas.
Já a primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, destacou as negociações para um acordo de livre comércio entre o MERCOSUL e EFTA (bloco formado pela Noruega, Islândia, Liechtenstein e Suíça). Mas Temer amargou ouvir o apoio de Solberg à Lava Jato e seu corte da contribuição e investimentos no Fundo Amazônia, segundo a primeira-ministra, porque o Brasil não cumpre os compromissos de reduzir o desmatamento. A Alemanha também reduziu investimentos apresentando a mesma razão. Na imprensa brasileira, o episódio soou como desastrado, pontilhado por gafes e choveram opiniões de que é vergonhoso ver que a Noruega está mais interessada na preservação da floresta do que os brasileiros. Será mesmo?
Em primeiro lugar Temer representa apenas uma camarilha de mafiosos que hoje estão no comando do Estado brasileiro, incluindo o Congresso Nacional e o judiciário. É somente nessas instituições que Temer parece ter alguma sustentação, já que sua popularidade na nação é mínima. Evidência de sua desmoralização foram as manifestação em Oslo com centenas de pessoas que gritavam “Fora Temer”, e nesses protestos sim nos sentimos representados.
Em segundo lugar, defender a Amazônia, todos defendem, mas cada um defende sob seus interesses, ou sua hipocrisia. A BBC revelou na mesma semana na viagem de Temer que a Noruega é a maior acionista de mineradora Hydro, produtora mundial de alumínio, denunciada pelo MPF-PA por contaminação na Amazônia. Segundo o Instituto de Estudos Socioeconômicos, a empresa recebeu isenções fiscais de R$ 7 bilhões do governo brasileiro e possui quase 2 mil processos judiciais por contaminação de rios e comunidades de Barcarena (PA), município da região mais poluída do bioma amazônico.
Enquanto o Estado norueguês quer posar de “sustentável” e de maior defensor da floresta do que os brasileiros, sua empresa é acusada por responsabilidade na mortandade de peixes, destruição significativa da biodiversidade, contaminação dos igarapés, contaminação de pessoas por chumbo e desapropriação de moradores que aguardam as indenizações garantidas por lei. Sem contar que a Hydro deve ao IBAMA R$ 17 milhões em multas, por um vazamento de lama tóxica nos rios em 2009.
A Hydro tenta se eximir de qualquer responsabilidade e diz que a tragédia foi fruto de um período de chuvas intensas em abril de 2009. Mas é da Amazônia que estamos falando! E todos sabem que lá chove muito, é inaceitável que com toda a tecnologia e recursos científicos disponíveis se culpe a natureza pelo ocorrido. A pergunta que o Estado norueguês precisa responder é se estão preocupados com o ambiente como um todo, ou se preocupam só com as árvores e o desmatamento, enquanto os rios, o solo, o ar e a população são esquecidos nos seus empreendimentos.
Essa viagem de Termer à Rússia e a Noruega foi o retrato da burguesia brasileira. Afinal, não é ela que sempre se orgulha da credibilidade, estabilidade e da chamada capacidade de atrair investimentos? Por que um trabalhador brasileiro deveria se orgulhar de viver num país que há 500 anos é uma plataforma de exportação agromineral? O resultado dessa política é continuar subordinando o Brasil aos interesses imperialistas. Saem pelo mundo oferecendo as riquezas brasileiras ao capital estrangeiro, sem se importarem com o rastro de ruína social e ambiental que o capital russo, norueguês, canadense, estadunidense e tantas multinacionais deixam por aqui.
Seguimos nossa luta por um governo dos trabalhadores que ao se constituir no lugar do Governo Temer e desse Congresso corrupto. Isso pode muito bem começar estatizando todas as empresas envolvidas na corrupção e que são predatórias à sociedade e à natureza, além de fazer a reforma agrária que o PT tanto se recusou a implementar.
Analisaremos o Fundo Amazônia e a questão da mineração como assuntos de outros artigos.
*Flávio é professor de geografia em Niterói – RJ