Os grandes produtores de laranja apelam ao Estado que compre o excedente da produção de suco. Mas o que fica evidente é que a anarquia da produção gera, por um lado, um abominável desperdício e a vergonhosa fome de milhões de seres humanos, por outro.
Os grandes produtores de laranja apelam ao Estado que compre o excedente da produção de suco. Mas o que fica evidente é que a anarquia da produção gera, por um lado, um abominável desperdício e a vergonhosa fome de milhões de seres humanos, por outro.
O “protesto” dos produtores e anarquia da produção
O Estado de São Paulo é responsável por 90% de toda produção de laranja do Brasil. Os laranjais cobrem vastas áreas onde outrora fora a vegetação nativa do Cerrado. Segundo dados obtidos no site do Ministério da Agricultura – (www.agricultura.gov.br,2011) a área total de laranja no Estado de São Paulo ocupava 601.622 ha e produziu 354.981.988 caixas da fruta (cada caixa com 40kg). O ganho dos trabalhadores “volantes” (contratados de acordo com a demanda) é por produção (quantidade de caixas coletadas) e considerando a jornada de até 12horas diárias seus salários não ficam muito além de R$600,00. Estima-se que em 2011 esses trabalhadores eram mais de 200mil. As exportações, segundo a Citrus-Br (que representa os 4 maiores produtores do Brasi – Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Louis Dreyfuss) chegaram a 2 bilhões de dolares em 2011.
A última semana de julho foi marcada por um protesto singular na cidade de Taquaritinga, no interior do Estado. Segundo informações do Portal de Notícias G1.com, os produtores de laranjas começaram a destruir os pés de laranjas de suas plantações, pois não há para quem vender a produção. No dia 26 de julho, fora distribuído à população daquela cidade cerca de 12 toneladas de laranja e 200 litros de suco. Parte deste inclusive fora jogada em praça pública da cidade como “protesto”. Era tanta laranja que chegou um momento que a população não conseguia mais carregá-las para suas casas.
No mesmo portal, em notícia do dia 26 de julho, eles justificam dizendo que “A crise no setor é causada pelas supersafras dos últimos dois anos e a redução mundial do consumo de suco. A perda da produção em 2012 deve variar entre 50 e 100 milhões de caixas da fruta, segundo estimativas da Câmara Setorial de Citricultura do Ministério da Agricultura e da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos“. E mais a frente concluem: “A concorrência com outras bebidas, como os isotônicos e as águas saborizadas, é aponta da como a principal causa para o encolhimento do mercado, mas a crise econômica na Europa e restrições dos Estados Unidos ao produto brasileiro por causa do uso de um agrotóxico proibido naquele país – o Carbendazim – também prejudicaram as vendas.”
Produtores da Região de Bauru também tomaram medida semelhante, enterrando várias toneladas de laranjas.
Dialogando com funcionários da Secretaria de Agricultura de Bauru, o professor Silvio Durante foi informado que os produtores preferem destruir as laranjas, pois o mercado interno não teria capacidade para consumir tudo o que foi produzido. Ainda que toda essa laranja fosse levada a mercados, feiras e frutarias, seria tanta oferta que o quilo do produto ficaria a quase um centavo de Real.
Os produtores exigem que o governo do Estado compre o excedente da produção de suco, distribuindo-o nas merendas escolares e nas entidades assistenciais.
A cretinice da grande Imprensa
No Jornal Nacional no mesmo dia 26 de julho, e também no site deste mesmo noticiário, a manchete “Produtores protestam jogando laranja fora no interior de São Paulo” abordava o tema e mais a frente na matéria: “Um produtor não pensou duas vezes. Sem ter para quem vender a fruta, começou a destruir 30 mil pés de laranja. ‘Foi a pior crise do setor’, reflete.”
É incrível, mas as imagens mostram laranjas sendo jogados pelas ruas, litros e mais litros de suco sendo derramados e pés de laranjas sendo destruídos por tratores.
Você pode acessar a matéria digitando o link a seguir no seu navegador de internet: http://glo.bo/N6Dw6V
Lembremos que quando o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MS) destruiu algumas centenas de pés de laranjas da CUTRALE, plantados em terras públicas griladas, na cidade de Borebi, interior paulista, o grande mídia fez uma verdadeira pirotecnia, demonizando esta ação e acusando o MST de todo tipo de adjetivos pejorativos para que a opinião pública se posicionasse contra o que a burguesia qualifica de vandalismo, encobrindo assim que o ato do MST foi realizado para exigir que o Estado fizesse a Reforma Agrária.
Agora, a imprensa toma outra postura: curiosamente não critica a derrubada de 30 mil pés de laranja; não faz alarde em torno do suco e da laranja jogados fora e dá ênfase na exigência dos grandes produtores para que o Estado “salve” o setor, comprando o excedente da produção. Ou seja, que o Estado ajude os megaprodutores e empresários do agronegócio a saírem da crise de superprodução do produto.
Planificação da produção é a saída para a crise
Nenhuma medida do Estado sob a égide do capitalismo será suficiente para “salvar” o sistema, posto que o mercado é anárquico por natureza. A antiga tese do “mercado autorregulável” mostra-se ineficaz em seu poder explicativo a cada crise de superprodução, seja em qual setor ela ocorra.
Os defensores da teoria do “Estado Mínimo” que sempre vociferam contra a presença do Estado na esfera econômica e torcem o nariz para qualquer medida regulamentadora agora tratam de esquecer tudo o que os neoliberais escreveram em suas teses sobre a não intervenção do Estado na Economia quando se trata de “salvar” seus negócios.
Foi assim quando os governos europeus e norte-americanos “salvaram” os bancos privados da falência, as indústrias automotivas e agora, no interior paulista, exigem o mesmo para a agroindústria. Ou seja, o discurso da “mão pesada” do Estado é só para tempos de vacas gordas, pois basta uma crise para que a mão pesada do Estado transforme-se na “mão amiga”.
Por isso acreditamos e combatemos pelo Socialismo. Nossa certeza é de que este modo de produção econômica não se baseia em utopias, mas em um método de análise científica que é o materialismo histórico e dialético. Matematicamente é comprovado que dados os atuais estágios das forças produtivas a planificação do que produzir, quando produzir e como distribuir a produção eliminará a fome e as doenças no mundo e por extensão todas as mazelas que assolam a humanidade.
*Silvio Durante – graduado em História, especialista em Filosofia e membro da Executiva do PT de Bauru/SP
*Rui Deglan – professor de História da rede pública e membro do PT de Pederneiras/SP