Sempre houve um clima turbulento no governo Bolsonaro, mas nas últimas semanas tem sido pior no Ministério da Educação. O guru do governo, Olavo de Carvalho, foi quem indicou Ricardo Vélez Rodríguez como Ministro da Educação e está forçando a barra para dominar inteiramente o setor. Quinze servidores foram demitidos, incluindo o assessor do ministro, Ricardo Wagner Roquetti.
Depois de idas e vindas, o secretário executivo (substituto do ministro) Luiz Antonio Tozi também foi demitido, dando lugar a Iolene Lima como secretária executiva do MEC. A mesma que em 2013 declarou em uma entrevista ao canal de TV evangélica Feliz Cidade absurdos como esse: “Uma educação baseada em princípios é uma educação baseada na palavra de Deus. Onde a Geografia, a História, a Matemática vai ser vista sob a ótica de Deus. Então o aluno vai aprender que o autor da história é Deus. O realizador da geografia foi Deus. Deus fez as planícies, Deus fez os relevos, Deus fez o clima”. O que vemos nessas declarações não é apenas um ataque à educação laica, mas um ataque ao conhecimento científico. Porém, Iolene foi demitida antes de assumir o cargo após descobrirem que participa da mesma igreja que Michelle Bolsonaro.
Devido a todos os acontecimentos, o atual ministro Ricardo Vélez não poderá mais indicar pessoas para integrar sua própria equipe, mostrando toda a fragilidade do governo e deixando em aberto quem será o novo secretário e possivelmente o novo ministro da educação em breve. Há uma disputa entre os setores “técnicos”, apoiados pelos militares, o setor “evangélico” e os “olavetes”. E o Ministro, defendendo sua gestão no MEC na Camara dos deputados, elogiou Pablo Escobar como exemplo de combate as drogas na educação! A maioria dos jornais aposta que o Ministro cairá, mas até agora Bolsonaro o manteve, apesar de tudo isso.
O fundamentalismo religioso no Ministério da Educação é algo grave, mas se cogitaram ter uma pessoa como Iolene em um cargo de tamanha importância, provavelmente há muitos outros em cargos influentes pelo país com os mesmos princípios, outros que defendem que toda disciplina do currículo escolar seja “organizada sob a ótica das escrituras”. O método de Olavo de Carvalho é a guerra cultural, isto é, ele acredita que há uma dominação comunista nas instituições do Brasil – desde a educação até a mídia – nos últimos 50 anos, de 1969 até hoje (ou seja, toda a ditadura militar de 1968 até 1975!), mas que uma lei (Lei da Mordaça) não resolveria, a solução seria primeiramente “reunir as provas e escrever um trabalho científico a respeito”¹. Lembremos que Olavo é um ex-astrólogo que se autodenominou filósofo e que não conhece nem os filósofos de direita. Suas “aulas” não passam de uma série de ataques aos “comunistas”, “socialistas” e “marxistas”, aí inclusos burgueses como Fernando Henrique Cardoso!
Devido à crise sem previsão de melhoras do sistema capitalista, eles precisam cortar gastos em todos os níveis de serviço público, como já havia ocorrido no governo Temer com o congelamento de investimento na educação por 20 anos e com privatizações a preço de banana, mas ainda precisam manter o controle social para não haver uma revolta capaz de derrubar o governo ou até mesmo o sistema capitalista. Sendo assim, a difusão do pensamento religioso e idealista é uma forma de segurar as massas de trabalhadores e estudantes insatisfeitos com o sistema. Isto é, jogar a culpa de todos os males do capitalismo em um terceiro, seja por uma justiça divina impossível de ser oposta, demonizando o comunismo, que é “igualado” às políticas do PT, ou simplesmente acabando com as aulas que estimulam o pensamento crítico.
Segundo o censo demográfico do IBGE de 2010, 8% da dos brasileiros se diz ateu ou agnóstico. Dados da 54ª Assembleia-Geral da Conferência Nacional de Bispos do Brasil mostram que o número de brasileiros que se declaram ateus é de 8,9% em 2014. Isso com certeza tem influência da educação escolar, incentivando o pensamento crítico em aulas de Filosofia, Sociologia e História, matérias que são alvo da reforma do Ensino Médio e também da Lei da Mordaça, atacando o pensamento crítico necessário para questionar as medidas de um governo e o futuro da humanidade no atual sistema capitalista.
A classe dominante só se mantém no poder devido ao controle social principalmente na educação, sendo ela de forma repressiva como a dos militares ou de forma religiosa como a de Iolene, diferenciando a educação deles (escolas particulares de elite) e a nossa. Eles ensinam seus filhos a dominar, com a melhor qualidade de ensino possível, enquanto querem nos ensinar a obedecer e não questionar.
Mas a lógica capitalista vai além disso. É preciso buscar o lucro. Daí a necessidade de destruir as escolas públicas no Ensino Fundamental e Médio (lembramos que a maioria dos estudantes universitários estão no ensino privado). Enquanto os jornais se indagam o que vai acontecer com o ensino público, o MEC simplesmente deixa o setor ser destruído. Para a grande maioria dos trabalhadores será um desastre. Um pequeno setor pagará escolas de baixíssima qualidade, como são a maioria das faculdades particulares. Defender a educação exige defender o fim do governo Bolsonaro.