Direção da CUT, assim como frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, manobram a disposição de luta da classe trabalhadora na busca de uma negociação dos ataques por parte do governo e dos capitalistas.
Atordoados pelo volume e intensidade dos ataques que vêm sofrendo, os trabalhadores e a juventude vão buscando formas de resistir e lutar. À margem das direções e das organizações tradicionais, a juventude, em particular, é a primeira a se movimentar. Uma onda de ocupações de escolas toma o país, com pouca ou nenhuma relação com as direções das entidades clássicas – como a UNE e a UBES. Estas, paralisadas depois de anos de ‘pacífica convivência’ e relação harmoniosa com as estruturas do Estado – principalmente nos anos dos governos Lula e Dilma, assistem e são atropeladas pelos acontecimentos, reagindo com quase silenciosas declarações de apoio – que nada acrescentam à dura realidade do dia a dia das ocupações.
Os trabalhadores, por sua vez, assistem incrédulos às declarações e manifestos dos velhos dirigentes. Notas públicas que vão sofrendo alterações ao longo dos dias, num ziguezague político à altura da adaptação aos aparelhos, aos fóruns tripartites, à prática do lobby que substituiu as clássicas formas de luta da classe. À medida que cresce a insatisfação e a angústia da base, as centrais sindicais apressam-se em emitir palavras de ordem, chamados para mobilizações, enquanto os dirigentes limitam-se a compartilhá-los nas redes sociais.
Quando do anúncio feito pelo então governo Dilma, ainda em fevereiro, sobre a proposta de contrarreforma da Previdência, alguns dirigentes da CUT bradaram a necessidade da luta, enquanto a maioria da direção trabalhou fortemente para ‘esconder’ essa pauta na marcha de março, substituindo as palavras de ordem contra os ataques e pela manutenção dos direitos pela ‘defesa da democracia’ e ‘Fica Dilma’. Consolidado o impeachment e frente à materialização de ataques brutais, como a PEC 241, o PL 257, a MP da reforma do ensino médio, novamente cresce a pressão das bases para que as direções assumam a organização da resistência e da luta.
Atos espontâneos foram surgindo e crescendo nos grandes centros, exigindo o Fora Temer. As Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, agora unificadas, conduzem o movimento ao esgotamento, com sucessivas convocações de manifestações pontuais, descoladas do movimento sindical e suas formas de luta tradicionais.
A direção da CUT assiste à deflagração de greve dos professores do Paraná, do RJ e das várias manifestações de servidores Brasil afora. Não há um esforço em unificar as lutas em defesa do serviço público, contra o PL 257 e contra a reforma do ensino. Frente a todos os acontecimentos e à inquietação das bases, a executiva, reunida em 14 de setembro, declara: “Diante da urgência desse quadro, após discussão baseada em informes das estaduais e ramos de nossa central, crescem as condições para uma greve geral que derrote o conteúdo regressivo do golpe, partindo da afirmação intransigente de “NENHUM DIREITO A MENOS”. Esta reunião convoca o Dia Nacional de Paralisação e Mobilização Rumo à Greve Geral em 22 de setembro, com caráter de “esquenta” para a greve geral. Também lança o Movimento de Paralisação do Funcionalismo Público no Combate à PEC 241 para 05 de outubro, já isolando os servidores dos demais setores.
Sem qualquer movimento concreto de construção da Greve Geral e do ‘esquenta’, o dia 22/09 apresentou uma pífia participação de alguns sindicatos de servidores públicos, sem qualquer adesão importante dos grandes sindicatos cutistas. O mesmo repetiu-se no dia 5, transformado em atos isolados, panfletagens e outras manifestações ‘alternativas’. Greve, de fato, não ocorreu.
Greve Geral dia 11 de novembro?
Mas o discurso de Greve Geral prossegue. Em seguida é convocado o dia de Greve para 11 de novembro. A reunião das Centrais Sindicais, ocorrida em 19 de outubro, porém, joga um balde de água fria em quem acreditou na mobilização. Em declaração ao Estadão, Sergio Nobre – secretário-geral da CUT – afirma: “Ninguém quer fazer greve geral. Queremos impedir que essas tragédias das reformas previdenciária e trabalhista aconteçam”. Ainda segundo Nobre, em 11 e 25 de novembro, serão realizadas diversas ações diferentes em todos os estados. “Algumas categorias irão paralisar suas atividades por algumas horas, enquanto outras realizarão passeatas e outros eventos em praças públicas.” Obviamente, o esforço dos dirigentes das Centrais é aliviar a pressão, sem encaminhar uma luta coletiva e decisiva da classe trabalhadora contra o sistema. O representante da Força Sindical, Juruna, saindo da mesma reunião, foi mais preciso, ao afirmar que os sindicatos não são contrários à reforma da previdência, mas defendem a manutenção de algumas regras para a aposentadoria, como a da idade mínima para obtenção do teto do benefício. A matéria do Estadão termina citando mais uma vez o secretário-geral da CUT, ao afirmar que “apesar de considerar o governo de Michel Temer ilegítimo, a CUT disse que se colocará à disposição para dialogar sobre temas relacionados aos direitos dos trabalhadores sempre que for convocada”.
A tática da direção executiva da CUT é a mesma das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Manobram a disposição de luta da classe, com convocações confusas e até contraditórias, marcando vários atos sucessivos com o intuito de “cansar” o movimento, enquanto buscam ansiosamente a abertura de canais para “dialogar” com o governo – que eles próprios classificam como “golpista”. Não há disposição das velhas direções em levar a cabo uma luta real dos trabalhadores contra o governo, os grandes empresários e contra o sistema. Temem perder o controle da situação confortável em que se encontram. Há muito alojados nos cargos e nas estruturas sindicais, acostumaram-se com as benesses do imposto sindical, com as “ajudas de custo”, diárias, viagens e hotéis caros, mordomias jamais sonhadas pelos trabalhadores das suas bases. Vários desses ‘companheiros’ foram contemplados nos últimos anos em cargos no aparelho do Estado, Conselhos das Estatais, Comissões e Fóruns sem fim. Lenta e gradativamente, aprenderam a substituir a mobilização real das massas pelas disputas palacianas, acordos nas mesas tripartites, lobby nos gabinetes de ministérios e do Congresso Nacional. A ideia de voltar às ruas e se chocar com os trabalhadores os assusta.
Os marxistas, no interior da Central, insistentemente vêm denunciando a adaptação ao imposto sindical e às taxas assistenciais (também chamadas de negociais ou confederativas). Entidades ‘lucram’ milhões sem precisar de uma intensa campanha de filiação nas bases. Também denunciamos o perigo dos fóruns e mesas tripartites, em que se busca a conciliação e o consenso com patrões e governo. Nossos militantes chamam para a velha tradição de luta da classe trabalhadora. Os únicos métodos eficientes de combate são aqueles levados a cabo pelos próprios trabalhadores, desde seus locais de trabalho. A luta de classes nunca se fez tão necessária. Ao invés da falsa convocação da Greve Geral, é urgente que os sindicalistas se voltem às suas bases, explicando pacientemente o plano dos capitalistas em atacas uma a uma todas as conquistas históricas dos trabalhadores. Isso pode abrir a via não só de uma luta econômica pela manutenção dos direitos, mas também à luta política para a superação de todo o sistema capitalista, rumo a uma sociedade socialista, livre da exploração do homem pelo homem. Por isso participamos dos atos convocados. Nosso papel é expor as contradições e ajudar a classe a compreender e superar a momentânea fragilidade de suas direções. Somos contra a divisão e fragmentação do movimento, mas defendemos que os trabalhadores recuperem suas entidades para a luta, superando os dirigentes acomodados. Algo novo há de surgir, a partir das bases, e contaminará as atuais estruturas – ou as superará.