Em tempos de mensagens virtuais instantâneas, são várias as indagações sobre a necessidade do tradicional jornal impresso para uma organização revolucionária.
Foto: Jornal Iskra, editado inicialmente por Lenin e seus camaradas, para defender a necessidade de um partido revolucionário à altura das tarefas socialistas na Rússia do início do século 20
Em tempos de mensagens virtuais instantâneas, são várias as indagações sobre a necessidade do tradicional jornal impresso para uma organização revolucionária como a nossa. Uma resposta a essas dúvidas passa por analisarmos o movimento dos trabalhadores do Brasil, e quais tarefas se colocam para nós marxistas.
A situação política no país está marcada pela polarização entre as classes, e pela deterioração acelerada das condições econômicas. Explosões sociais ocorrem em diferentes níveis, encontrando expressões em greves, ocupações de escolas e rechaço às instituições e personagens políticos. Contudo, heranças ideológicas do passado e a resistência burguesa continuam dificultando o caminho para um desenvolvimento da correlação de forças do proletariado.
Organizações oportunistas antes hegemônicas continuam influenciando setores dos movimentos sociais, e de ativistas de vanguarda. Ao mesmo tempo, novos partidos e movimentos se projetam para ocupar o vácuo político aberto pela falência do PT. Nessa disputa, cada um desses personagens expressa seu programa político na forma literária, seja no formato impresso ou digital.
O jornal sempre foi fundamental para organizações que se apropriaram da concepção leninista de partido. Em seu combate às concepções de oportunismo no início do século 20, Vladimir Lenin defendia a necessidade de um partido centralizado, cuja expressão fosse um jornal para toda a Rússia. Esse constituiria o instrumento pelo qual seria possível a superação do isolamento dos grupos locais, a elevação ideológica do conjunto dos revolucionários e um trabalho coordenado para alcançar as tarefas históricas do proletariado.
Até algumas décadas atrás, as publicações impressas eram os únicos modos de qualquer organização fazer denúncias, analisar acontecimentos, apresentar palavras de ordem, e mobilizar para ações. Com o advento da internet, a popularização da TV e do rádio, e a queda da URSS, a maioria das entidades proletárias abandonou toda tradição militante do período anterior.
Nós também construímos um portal online, mantemos páginas em redes sociais e buscamos desenvolver comunicação digital. Contudo, continuamos editando e difundindo de forma autossuficiente o jornal Foice&Martelo e a revista teórica América Socialista. Não se trata de uma mera diferença tática. Há um fundo ideológico de divergência, teórico, de concepção de organização, de tarefas.
Na sociedade capitalista, por meio da repressão estatal e militar, a burguesia busca controlar todos os aparatos ideológicos. Apenas a organização independente do proletariado tem potencial de contrapor esse instinto de classe dos capitalistas. Toda iniciativa que enfraquece essa independência dificulta o caminho para o cumprimento das tarefas socialistas históricas.
A internet consiste em uma plataforma de transmissão de dados criada pela burguesia norte-americana, e hoje mantida por uma ação coordenada dos estados de todo o mundo. Surgiu como necessidade de aperfeiçoar a circulação de mercadorias, tendo como subproduto as possiblidades de comunicação mediadas por computador. Uma organização que tenha seu funcionamento baseado somente em sites, redes sociais e recursos digitais está refém desse controle.
Essa é a mesma armadilha em que cai quem defende o que se convenciona chamar de “democratização dos meios de comunicação”, que coloca para a burguesia o controle sobre todas as publicações e formas de comunicação do proletariado. Em períodos de estabilidade política, a classe dominante permite determinadas liberdades democráticas. Contudo, em momentos de agitação e guerra civil, o martelo da justiça e os bastões recaem sobre todos que ameacem seu domínio.
Protestamos contra todo ataque às liberdades democráticas existentes. Defendemos a mais ampla liberdade de lutar pela derrubada deste regime social, e da forma de Estado que possua. Enquanto a burguesia estiver no poder, levantamos a bandeira da liberdade de imprensa para todas as classes e organizações.
Contudo, nós marxistas não construímos uma organização para funcionar somente em tempos de paz. Nos preparamos para tempos de revolução, em que as forças de repressão capitalistas fecham sites, impedem trocas de mensagens, empastelam equipamentos gráficos, apreendem publicações, e perseguem todo tipo de militância revolucionária.
Enquanto organização leninista, mantemos nossas publicações impressas independentes, que tem como uma de suas expressões este Foice&Martelo, o qual chega à sua centésima edição. Militamos junto aos trabalhadores com nossa imprensa, e educamos toda uma camada de jovens nas tradições militantes do proletariado.
Entendemos o jornal impresso como uma necessidade ainda hoje, combinado a outros instrumentos, para unir sob o estandarte do marxismo todos os setores oprimidos pelo capitalismo. Concebemos sua existência e sua ampliação como partes inseparáveis das tarefas para construir um partido capaz de reunir todos os revolucionários, para colocar um fim ao atual regime social, e para abrir um futuro socialista para a sociedade.
Artigo publicado no jornal Foice&Martelo 100, de 8 de dezembro de 2016. Adquira com um militante da Esquerda Marxista, ou assine: http://migre.me/vzFCw