Detalhe de um cartaz de propaganda soviético. No original, lê-se: “Abaixo a escravidão da cozinha! Agora você tem um novo modo de vida!”

A luta das mulheres e a luta de classes

Andrea Dworkin, uma feminista radical e burguesa norte-americana, disse que “a opressão das mulheres não é um erro da sociedade, mas um plano dos homens.” Podemos concordar que a opressão das mulheres realmente não é um erro da sociedade, mas sim algo intrínseco à natureza do capitalismo.

Enquanto algumas feministas afirmam que a opressão da mulher tem um fator biológico — que os homens a oprimem por natureza, tornando essa opressão inevitável e eterna —, nós, marxistas, sabemos que isso não é verdade. A opressão da mulher é uma construção social, resultado das relações de produção e intensificada pelo capitalismo.

Na história, o feminismo burguês buscou apenas reformas, sem questionar o próprio sistema. Enquanto reivindicavam o direito ao voto, restrito a mulheres com propriedade ou renda, milhares trabalhavam exaustivamente em fábricas de tecido e fósforo, exploradas e precarizadas. Enquanto exigiam igualdade salarial, muitas sequer recebiam o mínimo para sobreviver, acumulando ainda a dupla jornada de trabalho. Esse feminismo não questiona a exploração, apenas deseja que as mulheres ascendam dentro da hierarquia capitalista. Mas essa não é a luta dos marxistas.

Para garantir a verdadeira libertação das mulheres, defendemos a construção de um Estado que ofereça creches públicas, restaurantes populares e lavanderias coletivas, retirando das mulheres o peso do trabalho doméstico imposto. Não somos ingênuos a ponto de acreditar que o fim do capitalismo eliminará instantaneamente todas as formas de opressão. Isso levará tempo. Mas a única forma de construir uma sociedade verdadeiramente igualitária é destruindo as bases materiais que sustentam essa exploração.

O marxismo sempre entendeu a opressão das mulheres como um fenômeno social e econômico. Friedrich Engels, em “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” (1884), argumentava que a opressão da mulher surgiu com a propriedade privada. Em sociedades pré-históricas, a organização comunal garantia às mulheres um papel central na economia e na comunidade. Com a consolidação da propriedade privada, no entanto, a família patriarcal emergiu como meio de garantir a transmissão da herança e submeter a mulher à autoridade masculina.

Outras marxistas aprofundaram essa análise. Alexandra Kollontai, revolucionária bolchevique, argumentava que a emancipação feminina só seria possível através da luta revolucionária e da criação de estruturas sociais que libertassem as mulheres da dependência econômica e do trabalho doméstico. Kollontai também defendia uma nova moralidade socialista, na qual as relações não fossem baseadas na propriedade e no controle, mas na solidariedade e na igualdade. Clara Zetkin, uma das organizadoras do Dia Internacional da Mulher, se opôs ao feminismo burguês e defendeu que as mulheres trabalhadoras deveriam se organizar junto aos homens para destruir o capitalismo.

Os marxistas não apenas teorizaram sobre a libertação das mulheres, mas também a implementaram, sempre que tiveram a oportunidade. A Revolução Russa de 1917, liderada pelos bolcheviques, promoveu transformações profundas na vida das mulheres. O governo soviético legalizou o divórcio e eliminou a necessidade de consentimento mútuo, dando às mulheres o direito de romper casamentos opressivos. Em 1920, a União Soviética se tornou o primeiro país do mundo a legalizar o aborto, garantindo o direito ao controle sobre o próprio corpo.

A participação política das mulheres também foi revolucionada. Ao contrário do feminismo burguês, que via o voto como um fim em si mesmo, o governo soviético garantiu não apenas o direito ao voto, mas a plena participação política, incluindo cargos no Partido Comunista e nos sovietes. Para libertar as mulheres do trabalho doméstico, foram criadas creches públicas, lavanderias coletivas e restaurantes comunitários, garantindo que o trabalho reprodutivo deixasse de ser uma obrigação exclusiva das mulheres. No campo do trabalho, leis foram estabelecidas para garantir salários iguais para homens e mulheres e proteger as trabalhadoras grávidas — algo que o capitalismo, mesmo hoje, ainda não assegura de forma plena.

Essas medidas demonstram que a verdadeira libertação das mulheres só acontecerá fora dos limites do capitalismo, por meio da luta revolucionária. Não ser feminista não significa ser contra os direitos das mulheres. Pelo contrário, não se limitar ao feminismo burguês nos permite lutar pela libertação total das mulheres, e não apenas pela possibilidade de que sejam exploradas em igualdade com os homens.

Nós não queremos que as mulheres sejam exploradas nos mesmos moldes que os homens. Queremos que ninguém seja explorado. O feminismo burguês fragmenta a luta de classes ao transformar os homens em inimigos, desviando o foco da verdadeira causa da opressão: a classe burguesa. Ao individualizar o problema, enfraquece a organização coletiva e dificulta a derrubada do capitalismo. Nossa luta é pela unidade da classe trabalhadora, independentemente de gênero, cor ou sexualidade.

Trabalhadores do mundo, uni-vos, independentemente do gênero, pelo fim do capitalismo!