A luta de classes continua na Grécia. Uma greve geral do transporte público em Atenas foi abortada depois de cinco dias de duração, quando o governo obrigou aos trabalhadores retomar seus postos de trabalho, utilizando uma legislação reacionária produto deste período de reação aberta. Uma semana mais tarde, acontecia o mesmo ao setor pesqueiro. O governo de Samaras está recuperando o pulso e passando à ofensiva. Somente neste ano serão destruídos 25 mil postos de trabalho no setor público como resultado dos acordos com a Troika. Contudo, não houve nenhuma resposta séria por parte dos dirigentes sindicais gregos.
Nos últimos três anos, a Grécia passou por 21 greves gerais de 24 horas e três greves gerais de 48 horas. O número total de dias perdidos por greve geral ascende a aproximadamente um mês. Estas cifras não incluem um grande número de greves parciais e greves em setores diferentes. O problema é que não foram greves unificadas e, portanto, perderam grande parte de seu impacto potencial. Como o vapor, que se dissipa no ar se não for concentrado em um recipiente com pistão, as greves e manifestações devem ser unificadas, ou se tornam inúteis ou, até mesmo, contraproducentes. Os trabalhadores sabem disto.
Os trabalhadores gregos demonstraram enorme espírito de luta. Que se pode pedir mais à classe trabalhadora grega? Já fizeram tudo o que era possível para deter o ataque ao seu nível e condições de vida, aos seus salários. Mas o constante apelo à greve geral de 24 horas produz algo similar à lei dos rendimentos decrescentes. A cada nova convocatória, os trabalhadores têm menos segurança de que isso produza algum efeito no governo. O que começou como uma demonstração de força vai se convertendo pouco a pouco em demonstração de debilidade. A confiança e o espírito de luta das massas, que estavam se alçando, começam a desinflar gradualmente.
O governo continua firme, enquanto que o espírito de luta dos trabalhadores se dissipa pouco a pouco. “Por que devo ir à greve e perder um dia de salário, quando isto não produz nenhum resultado?” Seria esta a reação de muitos trabalhadores gregos atualmente. Há uma sensação de cansaço, inclusive de impotência, um resultado lógico de repetidos esforços que não conduzem a nenhum lugar. É isto que explica a relativamente débil repercussão da última greve geral. Uma das reações foi: “não parecia uma greve geral”. Não se deve estranhar isto. Muitos trabalhadores permaneceram no posto de trabalho. As manifestações, como de costume, foram muito grandes e militantes. Contudo, se compunham principalmente de pensionistas e desempregados.
O estado de ânimo é de raiva e amargura, como sempre, mas também é de confusão. A pergunta na mente de todos é: “Que fazemos agora?”. Está claro que a tática da greve geral de um dia deixou de ser útil. Em condições de colapso econômico, de desemprego e de empobrecimento geral, os trabalhadores temem perder seus postos de trabalho. Antes de se arriscarem a fazer outra greve, os trabalhadores querem garantias razoáveis de que ela seja exitosa. Até agora, nenhuma das greves gerais de um dia fizeram o governo retroceder.
Os dirigentes sindicais parecem aterrorizados ante a necessidade de medidas mais sérias. O caso é que, definitivamente, necessitam-se medidas mais sérias. Estes dirigentes não têm perspectivas. Parece que ainda se aferram à esperança de que o governo será razoável e que chegará a um compromisso com eles. Esperança vã! A debilidade convida a agressão. Quanto mais vacilam os dirigentes sindicais, mais agressivo e confiante se converte o governo.
Uma greve geral de um dia pode ser uma arma útil em determinadas circunstâncias. Em um país como a Grã-Bretanha, por exemplo, onde não houve uma greve geral durante décadas, a palavra de ordem de greve geral de um dia representaria um grande passo adiante. Mas, na Grécia, onde a crise do capitalismo alcançou sua mais extrema expressão e onde a greve de 24 horas se repetiu várias vezes, esta palavra de ordem é tão nefasta quanto inútil. Na realidade, os dirigentes sindicais utilizaram a greve geral como um meio para dissipar a força dos trabalhadores e evitar uma ação decisiva.
A greve geral de um dia é somente uma demonstração de força. É como agitar o punho ao governo. Sob certas circunstâncias, estas manifestações poder ter o efeito de obrigar um governo a mudar de rumo. Mas não é este o caso. A crise é muito profunda e os problemas demasiado difíceis para que o governo e a classe dirigente, que está à frente deste, façam concessões sérias. O que está na ordem do dia do ponto de vista da burguesia não é fazer concessões, e sim atacar cada vez mais os níveis de vida dos trabalhadores.
Por esta razão, a única palavra de ordem correta para a Grécia seria: preparar-se para uma greve geral total. Contudo, devemos entender que uma greve geral deste tipo não é somente uma demonstração. Ela deve colocar a questão do poder. Surge a pergunta: quem é o amo da casa, eles ou nós? Não é uma arma que se deva utilizar displicentemente. Mas nas condições da Grécia é o único lema.
Os líderes reformistas tentarão assustar aos trabalhadores com advertências calamitosas. Têm medo de colocar a questão do poder. A estas sombrias advertências podemos replicar o seguinte: alguém em seu são juízo imagina que pode haver futuro para o povo grego enquanto o país estiver dominado pela mesma gang de parasitas ricos que o levaram à ruína? Para sair da crise é necessário tirar do poder os banqueiros, capitalistas, magnatas e outros parasitas. O poder deve estar nas mãos do povo, isto é, em primeira instância, da classe trabalhadora e dos camponeses que criam toda a riqueza do país, e que é roubada sistematicamente para pagar pelos crimes dos capitalistas. Qualquer outra solução é uma mentira e um engodo ao povo.
Quais são as possibilidades de êxito? A classe trabalhadora constitui a imensa maioria da nação grega. Durante os últimos três ou quatro anos ela demonstrou sua vontade de lutar mais de uma vez. Os trabalhadores estão cansados de medidas incompletas e de propostas tímidas. Necessitam de uma ação decisiva. Exigem uma ação decisiva. E os trabalhadores não estão sozinhos. Os camponeses da Grécia também mostraram sua vontade de lutar. No mês de fevereiro levantaram barricadas por toda a Grécia. Manifestaram sua solidariedade com a greve dos pescadores. Temos aqui um excelente exemplo da unidade militante na luta dos operários e camponeses – os dois componentes fundamentais dos trabalhadores gregos.
A juventude grega demonstrou ser abertamente revolucionária. Os jovens ocuparam as praças de todo o país. Estão participando ativamente em cada greve, greve geral e manifestações. Lutaram contra a polícia, arriscando suas vidas. Na Grécia, a juventude estará na primeira linha de uma greve geral revolucionária.
Os desempregados, cujo número cresce a cada dia, põem todas as suas esperanças no poder da classe trabalhadora grega. Os sindicatos devem fazer o possível para mobilizar este setor e aproximá-los de seus irmãos e irmãs nas fábricas. As mulheres na Grécia têm que suportar o peso completo da crise do capitalismo. Vêem suas famílias sem emprego, sem dinheiro, sem futuro e sem esperança. O custo de vida aumenta constantemente. É difícil pagar o aluguel e comprar comida. As mulheres gregas também lutarão nas primeiras filas do movimento revolucionário, sempre e quando existir uma direção decidida.
E a classe média? A crise arruinou a pequena burguesia grega. Lojas e pequenos negócios caem na bancarrota a cada dia por falta de crédito, enquanto que os banqueiros e capitalistas enriquecem e enviam seus lucros aos bancos suíços. Profissionais, médicos, professores, enfermeiras… vêem ameaçados seus postos de trabalho, piorados suas condições e direitos. Estão tomando seu lugar nas fileiras do proletariado, a única classe com o poder de mudar a sociedade.
Quando se contemplam todas estas forças, é difícil de ver quais razões podem os dirigentes oferecer para se negarem a dar um passo decisivo. O problema não é que os trabalhadores não estejam dispostos a lutar. O problema é que as greves que estão ocorrendo sofrem de falta de coordenação e de direção contundente. Os dirigentes sindicais foram eleitos para encabeçar a direção. Se não estão dispostos a isso, devem desocupar seus cargos para dar passagem às pessoas que estão dispostas a lutar.
Mas o problema da classe trabalhadora grega não é somente a falta de liderança no nível sindical. Também existe um grave problema no plano político. Andonis Samaras é o títere obediente de Angela Merkel e da burguesia grega. Adota uma atitude servil em relação aos seus donos em Berlin e Bruxelas, com a esperança de obter concessões. Mais corretamente, é como um cachorrinho tímido, encolhido e tremendo de medo, que espera evitar outro pontapé do dono.
Como resultado, a Troika finalmente lançou um osso ao cão. Gentilmente, desbloqueou um dinheiro que havia prometido há muito tempo e concedeu ao seu amigo Samaras um pouco mais de tempo para espremer a última gota de sangue do povo grego. Esta miserável concessão provocou uma explosão irracional de otimismo exagerado em Atenas. Samaras está convencido de que suas táticas estão funcionando. Mas isto é ilusório. As cifras econômicas mostram que não existe a menor base para este falso otimismo.
Depois de três anos de queda contínua, o PIB da Grécia enfrenta outra queda de 5% em 2013. O desemprego continua aumentando em escala vertiginosa. A cifra oficial de desemprego, que sem dúvida subestima a situação real, é de 28%. A cifra em Atenas está mais próxima de 30%. Os efeitos catastróficos do desemprego são sofridos pelos jovens entre 18 e 24 anos de idade. Pelo menos 62% dos jovens estão sem trabalho. Isto é, de cada três jovens na Grécia, dois são desempregados. Por todos os lados, vemos a queda do nível de vida.
De uma população total próxima dos 11 milhões de habitantes, quase quatro milhões (mais de 30%) vivem no e abaixo do umbral da pobreza. Estima-se que desde janeiro até agora os salários e as pensões caíram 50%. A situação é desesperadora. As massas não podem tolerar novos ataques ao seu nível de vida, mas para Merkel e a burguesia grega, estes ataques ainda não são suficientes. Exigem mais ataques, mais cortes e novas atrocidades. É a receita pronta e acabada para a intensificação da luta de classes.
Pode ser que, no curto prazo, o movimento retroceda um pouco. Isto não é um reflexo da falta de vontade de lutar por parte das massas. É um reflexo da crise da liderança, que constantemente vacila, das fraudes e dos engodos dos altos dirigentes e de sua falta de vontade de lutar até o final. No entanto, qualquer descenso na luta de classes será um fenômeno temporário. Os trabalhadores estão meditando sobre sua experiência e tratam de tirar conclusões. Mas a vida não lhes permitirá o luxo de ficar contemplando as coisas por muito tempo. Estão sendo preparadas novas explosões.
Uma recente pesquisa, publicada entre 1 a 3 de fevereiro, refletia um estado de ânimo contraditório de confusão e raiva ao mesmo tempo. À pergunta de se apoiavam as leis antigreve do governo, uns 40% dos entrevistados se manifestavam contra e 39% a favor. Quando se lhes perguntou o que era mais importante, a democracia ou a lei e a ordem, 44% disseram que a democracia era mais importante, enquanto que 32% preferiam a lei e a ordem.
Naturalmente, o resultado de qualquer pesquisa deve ser tratado com precaução. São como fotografias instantâneas que indicam parcialmente o estado de ânimo dos diferentes setores da sociedade em um momento dado. Depois de quatro anos de agitação constante, que conduziu a um grave deslocamento da vida social e econômica, uma camada da população, principalmente a pequena burguesia e as pessoas mais idosas – está cansada e assustada. Aspira por paz e tranquilidade. A crise econômica e as pressões brutais da Troika descartam tal perspectiva.
Depois de ganhar suas concessões, Samaras obteve oxigênio temporário. Sua credibilidade aumentou ante os olhos dos setores da pequena burguesia e das camadas mais conservadoras que não desejam nada além de voltar à normalidade. Mas estes estados de ânimo são superficiais e já estão desaparecendo rapidamente. São como a espuma na superfície do oceano que surge e desaparece sem deixar rastro. A mesma pesquisa produziu um resultado muito interessante que indica as fortes correntes revolucionárias que se encontram abaixo da superfície da sociedade grega.
À pergunta de se a economia é pior agora, uns 43% disseram que sim, o que representa um aumento desde janeiro. Mais importante ainda, quando se perguntou aos entrevistados o que se necessita para se resolver a crise, se pequenas reformas, reformas profundas ou uma revolução, responderam o seguinte: pequenas reformas, uns 12%; profundas reformas, uns 60%; uma revolução, uns 23%. A diferença entre reformas profundas e revolução não está muito clara. Mas o fato de que 83% do povo grego tenha se pronunciado a favor de uma destas duas opções revela claramente uma tendência revolucionária na sociedade.
No próximo período haverá novas explosões da luta de classes, acompanhadas por uma série de breves calmarias. Isto reflete, em parte, a entrada de novas camadas na luta, enquanto que outras camadas retrocederão esgotadas pelo esforço. Inevitavelmente haverá períodos de cansaço, desilusão e mesmo de desespero. Também haverá algumas derrotas. Por outro lado, não há nenhuma solução duradoura sem uma reestruturação fundamental da sociedade. Cada pausa será somente o prelúdio de novos levantamentos. Em sua busca de uma saída da crise, as massas porão à prova cada partido, sindicato e líder político. Os que não estiverem à altura das circunstâncias serão descartados inevitavelmente, como vimos com o PASOK. Outros líderes e partidos ganharão apoio e o perderão. O pêndulo se moverá bruscamente à esquerda e à direita. Mas no futuro imediato a direção geral será à esquerda.
A atual coalizão é inerentemente instável e não pode durar. O PASOK, que um dia teve uma posição dominante na sociedade e no seio da classe trabalhadora, viu seu apoio diminuir a somente uns 6 ou 7%. Os líderes do PASOK pagaram o preço por seu oportunismo e suas traições. A chamada esquerda democrática (DIMARO, não alcança mais de 4% de apoio, enquanto que a Nova Democracia, o principal partido burguês, parece ter se estabilizado em torno de 22 a 23%. Em outras palavras, se somarmos todos os partidos da coalizão de governo, tão somente obtêm 35% de apoio, e esta cifra está diminuindo. Com o propósito de se apoiarem a si mesmos recorreram às draconianas leis antigreve. Trata-se de uma primeira tentativa de se canalizarem de forma gradual na direção do bonapartismo parlamentar. Mas vão se dar conta de que estão pisando em terreno pantanoso.
Samaras está rezando para que, depois das eleições de setembro na Alemanha, Angela Merkel abrande o coração e lhe perdoe a dívida. Estarão de acordo Merkel e a Troika em perdoar as dívidas da Grécia? Se o fizerem, então a Irlanda, Portugal e Espanha exigiriam o mesmo tratamento. Pouca ajuda pode ser esperada neste trimestre. E, em qualquer caso, há muito tempo daqui até setembro. A economia continua em queda livre e está crescendo o descontentamento. 75% da dívida grega estão agora nas mãos da Troika. A dívida total da Grécia ascende a 165% do PIB. Mas o que se acordou com a Troika foi 120%. Em outras palavras, todos os esforços, sacrifícios e sofrimentos do povo grego nos últimos quatro anos foram em vão. Quanto mais caem os níveis de vida, mais aumenta o déficit.
Nos últimos meses se viu um aumento notável do apoio eleitoral a Syriza. Tratava-se de um claro voto para a esquerda. O líder de Syriza, Alexis Tsipras, despertou grandes esperanças com seus discursos radicais de esquerda desafiando à Troika e repudiando a dívida. Mas na medida em que Tsipras se vê mais próximo do poder mais moderadas se tornam suas declarações públicas. Pelo que consta, quer parecer responsável, não perante o povo grego, e sim perante os líderes da União Européia e dos EUA. Em dezembro, visitou o Brasil, a Argentina e, em seguida, a Alemanha e os EUA. Talvez não fosse acidental que a Venezuela, que já havia visitado anteriormente, não estivesse no itinerário.
Tsipras tem colocado com frequência a Argentina como modelo a seguir para a Grécia. Isto demonstra uma grave incompreensão da realidade. A Argentina logrou sair de uma depressão profunda em um período de boom econômico mundial, quando suas exportações eram solicitadas, particularmente na China. Não há nenhuma analogia com a Grécia em um contexto de recessão mundial. Por outro lado, a economia argentina já entrou na senda da recessão. Por alguma razão, Cristina Fernández de Kirschner não o recebeu. Teve melhor sorte no Brasil, onde Lula se reuniu com ele, mas somente para aconselhá-lo a colaborar plenamente com o FMI. Na Alemanha, se reuniu com o Ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, que o tratou com dureza, insistindo em que a Grécia deve cumprir todas as suas obrigações. Nos EUA, ao que parece, teve uma reunião com o Departamento de Estado, cujo conteúdo não foi tornado público.
Parece claro que os líderes de Syriza estão retrocedendo com relação as suas declarações radicais anteriores. Já não falam mais em renunciar à dívida. Em público, Tsipras ainda pronuncia discursos radicais, mas, ao mesmo tempo, falou de um governo de unidade nacional e inclusive propôs a criação de um Comitê de tecnocratas para discutir o programa do partido. Estas confusões e ambiguidades causaram grave inquietação nas fileiras de Syriza e inclusive abriu fissuras na direção.
Como resultado, o apoio de Syriza nas pesquisas caiu de 30% a quase o mesmo nível de Nova Democracia. A Bíblia diz: “não podeis servir a dois senhores”. Os líderes de Syriza ou lutam para defender os interesses da classe trabalhadora, o que significa uma ruptura decisiva com o capitalismo, ou se verão obrigados a obedecer aos ditados da Troika e da burguesia continuando com os ataques aos postos de trabalho e níveis de vida. Não há terceiras vias.
Não há como a Grécia cumprir com suas supostas obrigações à Troika e, ao mesmo tempo, evitar que o povo grego afunde no abismo. Para que Syriza tenha êxito é essencial que abandone qualquer ambigüidade e adote uma política socialista clara e audaz. Deve romper com a Troika e a burguesia, lutar por uma política socialista autêntica e expropriar os grandes bancos e monopólios, tanto gregos quanto estrangeiros. Os marxistas em Syriza formaram uma corrente de esquerda chamada “Tendência Comunista do Syriza”, que luta por um programa deste tipo. É a única maneira de avançar.
Enquanto isto houve avanços significativos no Partido Comunista (KKE). O próximo Congresso do Partido será realizado em abril de 2013 e a proposta programática central do KKE ao Congresso será o abandono da velha teoria estalinista das duas etapas e a adoção do lema de “um governo dos trabalhadores e do povo e uma economia planificada”. A direção já não fala mais em termos de “patriotismo” e sim de internacionalismo. Sem dúvida, isto marca um grande passo a frente em comparação com o passado.
O KKE critica Syriza a partir da esquerda, sendo uma série de pontos válidos. Lamentavelmente, suas frases revolucionárias são acompanhadas de uma perspectiva pessimista. Vêem uma situação de reação obscura na Grécia. Portanto, qualquer perspectiva de revolução é relegada na prática a um futuro mais ou menos remoto. Isto faz lembrar as célebres palavras de Santo Agostinho: “Senhor, torna-me casto, mas ainda não”.
Em oposição a esta virada para a esquerda no KKE, formou-se extra-oficialmente uma facção estalinista de direita, que acusa aos líderes do KKE de “trotskistas”. A página web e o jornal do KKE neste período de discussão pré-congressual estão cheias de artigos com diferentes pontos de vista. Isto é algo positivo em contraste com a asfixia da discussão interna do Partido no passado. Toda a história do Partido bolchevique de Lênin foi de discussão e debate constante. Somente desta forma se pode lograr a necessária claridade política.
A única maneira de avançar para a classe trabalhadora grega consiste na formação de uma frente única de todas as tendências genuínas comunistas e socialistas. Sobretudo, é necessário lutar por uma frente única entre o KKE e Syriza. Esta proposta encontra resistência por parte dos setores de KKE, que temem que o Partido possa se mover em direção ao oportunismo e à socialdemocracia. Apóiam-se em uma espécie de revolucionarismo abstrato, que soa muito radical, mas que, na realidade, serve como uma folha de parreira para cobrir a debilidade e a falta de confiança na classe trabalhadora e na revolução socialista.
O KKE deve repousar em uma intransigente política revolucionária. Mas isto sozinho não resolve nada. Também é necessário encontrar um caminho para as massas. Sem uma base de massas, mesmo o melhor programa do mundo será impotente. Lênin, que entendia muito bem dessas coisas, instou aos comunistas a encontrar um caminho que os levasse aos milhões de trabalhadores que permaneciam sob a influência dos líderes reformistas, oferecendo-lhes uma frente única.
Lênin também explicou que a juventude era a chave para a revolução proletária. O estado de ânimo radical no seio da juventude aparece nas pesquisas de opinião que dão a Syriza o apoio de 35% dos jovens, enquanto que o KKE obtém 15%. Isto significa que pelo menos a metade dos jovens da Grécia apóia a esquerda. Seguindo energicamente o lema dos trabalhadores, uma frente única, o KKE e sua juventude ganharão o respeito e a confiança da massa de jovens e trabalhadores que apóiam Syriza. Será um grande avanço para a causa da revolução socialista na Grécia.
Camaradas do KKE e Syriza! O destino da Grécia depende de vocês. A classe trabalhadora não entende porque seus partidos políticos estão divididos e lutam entre si ao invés de lutar contra o inimigo comum: a Troika e seus boys de escritório locais, a burguesia grega. Os trabalhadores exigem a unidade e têm razão em fazê-lo. “Unidade, sim, mas não a qualquer preço”, dirão alguns. Não pedimos que o KKE abandone seu compromisso com a revolução socialista. Pelo contrário, consideramos que é a única política correta. Mas o caminho à revolução socialista deve ser preparado concretamente por uma série de pequenas batalhas. Sem isto, é simplesmente uma idéia abstrata, uma frase vazia.
Uma frente única não significa que cada parte deve abandonar seu programa e seus princípios. Significa união para efeitos práticos, para lograr exigências concretas. É necessário lutar contra o desemprego e o fechamento de fábricas, lutar contra as reduções dos salários e das pensões, lutar pelas demandas imediatas dos camponeses, dos desempregados, das mulheres, jovens e aposentados. Não é possível elaborar um programa para isto e organizar uma luta unida em torno destas demandas?
Nas circunstâncias atuais, contudo, não é fácil ganhar este tipo de reclamações. Uma luta séria é necessária. O lema de uma greve geral total está na ordem do dia. Mas não se pode organizá-lo com um simples apelo. Deve ser bem preparada através de uma campanha massiva dos sindicatos e membros de Syriza e KKE, organizações da juventude, estudantes, camponeses e todos os que desejam lutar contra a Troika e a burguesia. Este movimento deve estar unido em comitês de ação, organizados em cada lugar de trabalho e em cada bairro, em cada escola, colégio e cidade.
Devem ser convocadas reuniões de massas para discutir a situação e formular propostas. As comissões deveria se conectar em todos os níveis: local, em nível de distrito, provincial e nacionalmente. O objetivo deve ser a eventual celebração de um Congresso Nacional de comitês de ação. Isto pode se transformar no futuro em um centro de poder do povo revolucionário.
Ao mesmo tempo, é necessário realizar uma ampla agitação contra o governo de Samaras. Pedir novas eleições! Abaixo Samaras e sua quadrilha de ladrões! Por um governo de Syriza e do KKE, com um programa anticapitalista! Expropriar aos bancos e aos monopólios sob o controle e gestão operária democrática!
Alguns objetarão: “mas não podemos ficar sozinhos contra a Europa”. Não, efetivamente, nem a Grécia nem nenhum outro país pode permanecer isolados. Se os trabalhadores da Grécia dão um passo audaz, logo descobrirão que não estão sozinhos. Toda a Europa se uniria para apoiar um estado grego dos trabalhadores; naturalmente, não os governos, que são hostis aos interesses dos trabalhadores gregos da mesma forma que são hostis aos de seus próprios trabalhadores. Mas a classe trabalhadora, que é a imensa maioria da Europa, seria totalmente favorável a uma Grécia socialista, como o foram com a revolução russa de 1917.
Uma Grécia socialista faria um apelo internacionalista aos trabalhadores e à juventude da Europa para seguir seu exemplo, derrubar aos odiados banqueiros e capitalistas e tomar o poder em suas mãos. Imediatamente receberia uma resposta dos trabalhadores da Espanha, Portugal e Itália, que estão sofrendo os mesmos ataques. Logo seriam seguidos pelo restante da Europa. Seriam colocadas as bases para uma verdadeira União Européia, não a falsa e injusta União dos banqueiros e capitalistas, mas uma Europa verdadeiramente unida baseada em interesses comuns e solidários: os Estados Unidos socialistas da Europa.
Este programa dividiria o povo? Pelo contrário: a sondagem mencionada anteriormente mostra claramente que a imensa maioria dos gregos se declara atualmente por profundas reformas ou por uma revolução. Responderiam com entusiasmo a tal programa e tal governo. É a única opção viável para a classe trabalhadora. É a única maneira de a Grécia avançar.
Traduzido por Fabiano Adalberto