“Numa época em que é uma audácia filosófica duvidar da realidade de fantasmas, quando é paradoxal manifestar-se contra a caça de bruxas, essa época é a legítima época de fantasmas e de caça de bruxas.” (Karl Marx)
Já se passaram mais de dez anos desde que Julian Assange se refugiou na embaixada do Equador em Londres, e esse caso tem gerado inúmeras discussões e debates sobre liberdade de imprensa e os limites do jornalismo investigativo. A perseguição e posterior prisão de Assange foi, sem dúvida, um ataque aos princípios fundamentais do jornalismo e um exemplo assustador do poder que os governos têm para silenciar vozes dissidentes.
Assange é mais conhecido como o fundador do Wikileaks, uma plataforma que se tornou famosa por publicar documentos sigilosos e revelar informações que muitos governos prefeririam manter escondidas, como diversos crimes de guerra. Sua prisão ocorreu em abril de 2019, na embaixada do Equador em Londres, onde ele se refugiou desde 2012, buscando evitar extradição para os Estados Unidos.
A acusação feita pelos Estados Unidos contra Assange é de conspiração por cometer invasão em computadores. No entanto, fica claro que essa acusação é apenas uma desculpa para punir alguém que expôs verdades desconfortáveis para muitos governantes. Assange não é um hacker que invade sistemas, ele é um jornalista que recebe e divulga informações sigilosas, como tantos outros antes dele.
A prisão injusta de Assange tem um impacto muito maior do que sua própria situação pessoal. Ela representa um precedente perigoso para a liberdade de imprensa em todo o mundo. Ao punir Assange, as autoridades estão lançando uma mensagem clara para outros jornalistas e organizações de mídia: “Cuidado com o que você publica, pois nós podemos te prender também”. Isso cria um ambiente de medo e autocensura, que é um ataque às liberdades democráticas, ao direito a livre manifestação, organização e expressão.
A importância da liberdade de Assange vai além de seu caso individual. A liberdade de imprensa é um pilar fundamental de qualquer sociedade que se diga democrática. É por meio da imprensa livre e independente que os cidadãos podem ter acesso a informações e debater abertamente sobre problemas e questões importantes. Não devemos aceitar que jornalistas e organizações de mídia sejam restringidos e punidos por simplesmente fazer o seu trabalho. Como Marx já explicou, “na oposição à liberdade de imprensa, bem como na oposição à liberdade geral da mente em qualquer esfera, os interesses individuais dos Estados particulares, a natural unilateralidade dos seus caráteres, aparecem em forma franca e brutal, mostrando simultaneamente seus dentes”1.
Hoje, Assange está preso em uma cela solitária, em condições desumanas, recebendo pouco sol e enfrentando um longo processo de extradição. O fundador do Wikileaks pode pegar prisão perpétua nos Estados Unidos, mesmo que esteja com sua saúde física, mental e emocional profundamente abaladas. Principalmente pelo fato de não haver um cenário esperançoso para o desdobramento dos fatos que envolvem o ativista, é extremamente fundamental que a imprensa popular atue denunciando e lutando por uma imprensa verdadeiramente livre.
É ensurdecedor o silêncio da grande mídia neste caso. A prisão injusta e um julgamento com motivações políticas não podem ser aceitos em um mundo diz prezar pela verdade, transparência e liberdade. É hora de reavaliar o caso de Julian Assange e garantir que a liberdade de imprensa seja respeitada e protegida em todos os lugares.
1 MARX, Karl. Liberdade de imprensa. Porto Alegre: L&PM Editores, 1999, p. 20.