A vitória de Dilma é uma última advertência ao PT

Nesse 2º turno da disputa presidencial, a classe trabalhadora e a juventude deram uma exemplar demonstração de consciência de classe. Reagruparam-se para barrar o PSDB e impedir a vitória de Aécio Neves. Essa também foi a posição da Esquerda Marxista, voto no PT, em Dilma, para derrotar o PSDB. Qual o significado desse resultado e que perspectivas se abrem?

Os resultados eleitorais em Pernambuco mostram que as massas estão decidindo por elas próprias, e ignorando solenemente o que as personalidades ou partidos estão indicando.

No 1º turno ignoraram Lula e Dilma e votaram massivamente “na Mudança” de Marina (e Eduardo Campos) e nos candidatos do PSB ao governo, ao senado e deputados. Arrasaram o PT que “deselegeu” todos os seus 5 deputados federais e não elegeu João Paulo (PT), até então favorito para o Senado.

No 2º Turno, o PSB, Marina e a viúva Campos, todos, apoiaram Aécio e o resultado foi, todos os dirigentes e recém eleitos de um lado, e do outro, 70% dos eleitores, votando em Dilma e barrando Aécio. Quem controla as massas em Pernambuco? Ninguém! 

Dilma só ganhou as eleições, e teve nosso voto para isso, porque velhos militantes, novos militantes, jovens e trabalhadores, mesmo tendo sido desenganados pelo governo, resolveram que era necessário utilizar o PT, apesar de tudo, para barrar o PSDB. Dilma não suscitou nenhum entusiasmo das massas e isso é provado pelo fato de que só quando Aécio surge com possibilidade de vitória é que militantes, e não mais os cabos eleitorais pagos, surgem nas ruas.

Camisas vermelhas para conseguir vencer. E camisas brancas após a vitória

O pânico que se instalou na cúpula do PT logo após o 1º Turno pode ser sentido e visto praticamente. Mas, também é uma prova da consciência que tem a direção do PT, Lula e Dilma, de sua própria política e das relações das massas com essa política.

O pavor de perder as eleições vestiu Lula e Dilma com camisas vermelhas e ressurgiram as bandeiras vermelhas e a estrela, com Dilma e Lula, como militantes dos velhos tempos. E com um discurso que “arremedava” os velhos tempos, só que agora mais difuso, “nós contra eles”, “pobres contra ricos”, “eles não querem que os pobres estudem”, etc. Insinuando de que se tratava de uma luta de classes.

Isso encheu de esperança velhos militantes e estes arrastaram jovens consigo. Isso deu ânimo para que a mobilização arrancasse votos e travasse a ascensão de Aécio. A militância vermelha mais uma vez fez a diferença que todo o ouro arrecadado com empresários e partidos burgueses aliados não podia fazer. Um coração vermelho vale mais que uma tonelada de ouro!  

Mas, no momento do anúncio da vitória, num ato preparado cuidadosamente, Lula e Dilma surgem em cena, outra vez, com as camisas brancas. Ladeados por Michel Temer, Kassab e todos os partidos burgueses da coligação, Dilma estende a mão aos perdedores. Não num protocolar “serei a presidente de todos os brasileiros”, como é comum entre os reformistas e os capitalistas.

Mas, as suas palavras centrais foram “paz”, “unidade” e “diálogo”. Unidade e diálogo com o PSDB? Paz no lugar de luta de classes? “União com os setores produtivos” (leia-se “empresários”)?

Paz, união e diálogo com os que acusam Dilma, Lula e a direção do PT de corruptos, ladrões, venais e que por acaso são os mesmos que desejam vender o país e roubar o que sobrar?

Isso só pode ter dois efeitos. Um é desarmar os trabalhadores para a luta de classes que será muito dura no próximo período. Outra é colocar um sentimento amargo na boca daqueles que se mobilizaram, mesmo superando todas as suas frustrações anteriores, para barrar o PSDB e manter o PT no governo. Sentir que tudo vai continuar igual provocará uma amarga desilusão e um sentimento de revolta e ódio de classe que se voltará inevitavelmente contra o governo e a direção do PT.

A manchete da Folha de São Paulo do dia 28/10/14, não desmentida pelo governo, “Dilma busca para a Fazenda nome do mercado financeiro” é uma bofetada em todos os militantes, que denunciavam corretamente a escolha de Armínio Fraga por Aécio e levaram Dilma à vitória. Isso concretizado, haverá consequências políticas profundas na base.

A burguesia e o imperialismo tentam retomar a iniciativa na luta de classes e o aparelho de Estado

Mas, o discurso de Dilma é mais que inútil. Ela não tem e não vai encontrar uma oposição de direita disposta a apertar a mão estendida. O imperialismo já decidiu que não precisa mais tolerar o PT no governo e pretende retomar ele próprio o controle do aparato de Estado e todas as suas funções.

As manifestações de junho de 2013 mostraram que o PT não é mais capaz de controlar as massas. As greves de massa, e as que passaram por cima das direções sindicais burocráticas, do fim de 2013 e do 1º semestre de 2014 comprovaram isso.

A crise econômica se aprofunda, a margem de manobra para os reformistas diminui. Cortes serão necessários e, seguindo a lógica capitalista, o que vai ser colocado no cardápio serão cortes nos direitos trabalhistas e nos empregos, arrocho e repressão. É a receita para novos e maiores choques da classe trabalhadora com o governo. E nesta situação a burguesia prefere ter, ela mesma nas mãos, o controle de todos os instrumentos de ação estatal e repressão.

Há internacionalmente uma tentativa da burguesia de retomar a iniciativa na luta de classes. Faz parte deste movimento o fato de que o PSDB reorganize seu discurso, com a defesa mais ou menos aberta de um programa de austeridade e privatizações, de cortes e ataques aos trabalhadores (obviamente que prometendo a felicidade no futuro). Este é o significado de Aécio “assumir” e defender FHC, coisa que Serra e Alckmin não fizeram nas outras campanhas presidenciais.

O PSDB tem futuro?

O PSDB, com a virada sobre Marina e com o resultado final ameaçador sobre Dilma, sai fortalecido desta campanha. Mas, o mais importante nessa situação é que o PSDB venceu praticamente em todas as regiões mais industrializadas e desenvolvidas do país, nas grandes concentrações populacionais. E no capitalismo isso é decisivo, a cidade aponta o futuro e arrasta atrás o interior e as regiões mais atrasadas. Foi assim com o PT no passado. Surgiu do proletariado concentrado de SP e tomou o Brasil.

O problema para o PSDB realizar esta tendência, hoje, é seu programa e a situação econômica e política que se avizinha. O coesionamento do PSDB vai durar pouco. Ele não está alicerçado numa base popular ganha para um determinado programa, o que lhe daria consistência social. O que o PSDB arrastou hoje foi sua própria base de direita, uma pequena-burguesia moralista e desesperançada, além de setores da classe trabalhadora e da juventude completamente indignados com o que estão vendo e sentindo no governo Dilma.

Que se tenha ouvido gritos favoráveis à ditadura militar ou a idiótica declaração do senil Clube Militar apoiando Aécio para “barrar a sovietização do Brasil” só pode ser creditado ao encorajamento destes setores ultra isolados por causa do silêncio, da covardia política e incapacidade da direção do PT de enfrentar os ataques contra o partido e o movimento de massas.

Se desta contradição resulta que a tendência que se expressou nestas eleições “contra o governo” vai se aprofundar e colocar em xeque muito rapidamente o governo eleito, resulta também que a tendência à fragmentação dos partidos burgueses, tendência mundial derivada da situação internacional do capitalismo e suas instituições, vai continuar. O PSDB, como qualquer partido burguês é incapaz de resolver a crise do capital e não tem como apresentar uma verdadeira saída para as massas. Ele não pode resolver a situação. Não há futuro promissor para o PSDB, apesar de eventuais vitórias eleitorais.

Luta de classes e perspectivas. Como avançar

O cenário à nossa frente é de grandes lutas de classes, de resistência do proletariado e do surgimento de uma vanguarda de massas que será forjada diretamente na luta de classes contra os capitalistas e contra seus serviçais reformistas ou “desenvolvimentistas”.

Se é certo que os primeiros acordes desta música serão ouvidos no movimento da juventude, inevitavelmente a música encherá progressivamente o ambiente com a entrada dos metais pesados e dos potentes instrumentos desta orquestra, representados pelo proletariado fabril e as grandes categorias de trabalhadores organizados. É aí que tudo se decidirá pois a luta de classes é mais forte que os aparatos defensores do capitalismo.

Este é o terreno em que se forja o instrumento político revolucionário de que necessita o proletariado e a juventude. Este é um combate de largo prazo mas que tem que ser a tarefa diária dos marxistas, desde já, construindo a organização comunista e lançando as pontes e os cabos, abrindo a perspectiva capaz de reunir todos os melhores combatentes, os mais conscientes, os mais lúcidos e decididos, na tarefa da construção do partido revolucionário de que a classe tem necessidade.

Essa não é uma tarefa a ser realizada com uma autoproclamação partidária ou anúncio de um programa marxista. Essa tarefa se realiza no combate pela construção da organização, pela difusão e combate pelas ideias do marxismo e pelo combate pela Frente Única em defesa das conquistas e das reivindicações imediatas e históricas da classe trabalhadora. No Brasil, foi de grandes lutas de classes que se forjou o PT conduzindo à unidade de diferentes setores e organizações ligadas à classe. Fundamentalmente o processo de construção do partido revolucionário no Brasil conhecerá o mesmo desenvolvimento, mesmo não sendo a repetição do passado, pois trinta anos de luta de classes se passaram e é só sobre essa história, e o desenvolvimento dessa história e da luta de classes atual, que se construirá um partido capaz de levar a classe trabalhadora à tomada do poder.

Repetimos, nenhuma autoproclamação pode fazer isso, economizar o aprendizado do próprio proletariado. É neste sentido que de toda a situação deriva a urgência de aprofundamento do trabalho entre a juventude, da formação de quadros e da construção de uma organização sólida e disciplinada na luta de classes.

Frente a toda essa situação política e econômica, terminando o ano com PIB quase zero, com forte retração do setor industrial e a sombra da crise econômica se espalhando pelo país, o governo não tem muitas possibilidades e nem margem de manobra.

Não entrará nenhuma mão estendida para apertar. O proletariado vai se defender fortemente inclusive do governo que elegeu. Uma reorganização geral na vanguarda da classe trabalhadoras e na juventude começa a se operar. Esse movimento vai se expressar inicialmente nas organizações sindicais de massa e depois terá como consequência lógica uma expressão política organizada.

A votação nacional do PSOL, e em especial no RJ, é parte deste movimento, o que não quer dizer que este partido esteja em situação de canalizar este esforço gigantesco do proletariado de se reorganizar sobre um novo eixo de independência de classe. Votos nulos, brancos e as abstenções somam mais de 20 vezes a votação do PSOL. Sua política, incapaz de compreender a luta pela Frente Única, centrada num antipetismo primário, lhe fecha o caminho do futuro como o partido que pudesse vir a ocupar o lugar do PT. O que não deve esconder o fato de que parte da vanguarda dos trabalhadores e da juventude que rompem com o PT buscam se utilizar deste partido para combater, ao menos eleitoralmente.

Como dissemos acima, a construção de uma verdadeira alternativa passará necessariamente por grandes choques e aprendizados na luta de classes. Por isso para os marxistas é fundamental construir desde já a organização e lançar pontes para o encontro de todos os que, estando em ruptura com a burguesia, o capital e o reformismo, buscam se aproximar do programa marxista e construir o partido da revolução brasileira, que para nós, só pode ser parte de uma verdadeira Internacional dos trabalhadores baseada no marxismo.

O governo e o PT estão enfrentados a seu destino

Se é verdade que seus dirigentes há muito se passaram para uma política de sustentação e defesa aberta do capitalismo, é agora que as massas os encontram na parede. Ao ganhar as eleições desta forma, como descrevemos acima e na atual conjuntura, eles têm uma última chance de não serem abandonados e organizar seu próprio desastre. A eleição de Dilma é uma última advertência que as massas fazem ao PT.

Sua responsabilidade e sua possibilidade de reatar os laços com as massas trabalhadoras e a juventude é, imediatamente, sem esperar mais nada, começar a governar para as massas e atender suas reivindicações mais sentidas.

Parar de tentar criar fumaça com a hipócrita bandeira da Reforma Política e Constituinte Exclusiva e enviar ao Congresso Nacional um Orçamento para 2015 que diga:

Abandonar as Dívidas interna e externa que alimentam vampiros especuladores e colocar todo o dinheiro para Transporte, Saúde e Educação, públicos e gratuitos para todos.

Parar e abrir combate, político e material, contra qualquer repressão aos movimentos sociais. Apoiar o PL de Anistia Nº 7951/2014, em tramitação no Congresso Nacional.   

Demitir os ministros capitalistas, romper com os partidos do capital. Exigir publicamente o impeachment dos ministros do STF que votaram na farsa da AP 470, a liberdade imediata e anulação da sentença dos dirigentes do PT.

Interromper o financiamento público à imprensa burguesa através dos anúncios de publicidade, que eles, como jornais políticos que são, vivam do financiamento que receberem de seus apoiadores. Estatizar a Rede Globo, que é concessão pública e abri-la para os movimentos sociais, assim como estatizar todas as redes de TV e rádio em mãos de igrejas, qualquer que seja a confissão. As rádios e TVs são concessões públicas e o Estado é Laico. Nenhum instrumento público pode ser usado para propagar seitas, ilusões e o sobrenatural. Religião é um direito privado e como tal deve ser defendido, mas é um direito privado e não pode ser introduzido na vida pública.

Para fazer isso Lula e Dilma, o PT, necessitariam convocar as massas para defender suas posições, para dobrar ou derrotar o Congresso Nacional e todas as instituições reacionárias. Se o fizessem teriam um apoio majoritário entre as massas, a começar pelo sul, pelo sudeste, e ele se estenderia massivamente por todo o país. Teriam o apoio incondicional dos marxistas, da Esquerda Marxista, para realizar esse programa. Essa é a sua responsabilidade. O que vão fazer determinará seu futuro. Nós continuamos o combate pelo socialismo, pelo fim do regime da propriedade privada dos grandes meios de produção.

Nós derrotamos o PSDB e Aécio nas urnas. Agora a tarefa, que ninguém se engane, será continuar enfrentando os patrões e os governos que acreditam e defendem os interesses e privilégios da minoria burguesa parasitária.

Mais que nunca, nesta situação convulsiva internacional e nacional, os trabalhadores e a juventude necessitam de unidade para combater e vencer. A política de colaboração de classes divide os trabalhadores e a juventude, enquanto a independência de classe os unifica, na luta e nas perspectivas. Só uma política clara, firme e decidida de ruptura completa com o capitalismo e suas instituições pode conseguir essa vitória tão necessária. São quadros nessa perspectiva que é preciso formar.

A Esquerda Marxista está inteiramente dedicada a este esforço e à difusão das ideias e métodos do marxismo para ajudar a assegurar o futuro da humanidade, o futuro socialista.

Paz entre nós, guerra os senhores!

Nem guerra entre os povos, nem paz entre as classes!

Viva a luta pelo socialismo!

Junte-se a nós!

 

Esquerda Marxista

27/10/2014