Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Amazonas na CPI da Covid: o espetáculo hipócrita de um sistema em crise

No dia 15 de junho, o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campelo foi ouvido na CPI da Covid. Para além da sua incapacidade de explicar as inúmeras irregularidades na saúde do estado e da tentativa dos senadores de salvar suas imagens agora que Bolsonaro está nas cordas, o que se vê é um espetáculo hipócrita que tenta devolver algum prestígio a um sistema político desacreditado e em crise.

Para começar, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD), é um velho cacique político do Amazonas que já foi governador duas vezes e é corresponsável pela situação desastrosa em que a saúde no estado se encontra há décadas. O mesmo pode ser dito do senador Eduardo Braga (MDB), que já teve dois mandatos no governo e um mandato na prefeitura e agora quer fazer crer que está em uma cruzada por justiça pelo que aconteceu no Amazonas no ápice da segunda onda.

Em suas perguntas, os senadores tentam mostrar que a culpa pelo colapso do sistema de saúde, pela falta de oxigênio e pela imensa quantidade de mortes seria da “incompetência” do governador e do ex-secretário.

Nesse sentido estão muito bem alinhados com os senadores governistas, que tentam colocar a culpa pela crise da saúde unicamente no estado, que não teria administrado corretamente os recursos repassados pelo Governo Federal para combater a Covid-19. Essa estratégia visa colocar Bolsonaro como um presidente ativo, que fez o que pôde para combater a pandemia, mas que foi sabotado pelos governadores.

Embora o governador Wilson Lima (PSC) e o ex-secretário Marcellus Campelo de fato sejam incompetentes, são apenas representantes insignificantes de um sistema que não tem qualquer interesse em disponibilizar todos os recursos necessários para prevenir e combate a pandemia.

Em todo o mundo, o capitalismo e a burguesia decidiram rifar as vidas da classe trabalhadora para manter o funcionamento da economia em vez de tomar as medidas que realmente poderiam ter evitado milhões de mortes: paralisação de todas as atividades não essenciais, garantia de salários para todos os trabalhadores, testes em massa, rastreio de contatos, distribuição de equipamentos de proteção adequados e vacinação universal.

Está por trás ainda a tentativa de enterrar politicamente o governador Wilson Lima, um azarão que foi eleito pegando carona no bolsonarismo e que rompeu com décadas de revezamento do mesmo grupo no governo do estado.

As consequências desastrosas da pandemia no Amazonas e em todo o Brasil não são causadas pela “incompetência” desse ou daquele agente do Estado, mas de uma decisão consciente por parte da classe dominante de deixar a população morrer para “salvar a economia”.

Esse é um dos reflexos da podridão do capitalismo, que é incapaz de garantir à classe trabalhadora e à juventude as condições necessárias para uma vida plena. A pandemia apenas deixou essa incapacidade ainda mais clara, mostrando que nem mesmo diante de um desastre em escala mundial a busca pelos lucros pode dar lugar a um esforço organizado e ilimitado para salvar vidas.

Nem a CPI, nem as investigações contra Bolsonaro, nem um eventual impeachment podem fazer retroceder o aprofundamento da crise política e o total descrédito em que todas as instituições se encontram diante da maioria da população. O que está evidente é a necessidade de abrir uma perspectiva revolucionária para salvar a juventude e os trabalhadores da pandemia e do capitalismo, combate que começa com a luta pelo “Abaixo o Governo Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores” nas ruas e pela construção do Encontro Nacional Abaixo Bolsonaro de 10 de julho.