Na sequência, enchentes na Bahia, mobilizações de professores no Irã e manifestações contra o aumento dos preços dos combustíveis no Cazaquistão

Ano novo, tragédias capitalistas e otimismo revolucionário

Um novo ano se inicia, um novo ciclo, esperança de dias melhores… No entanto, a continuidade do decadente capitalismo regendo a sociedade frustra, em poucos dias, estas expectativas. Desemprego, inflação, miséria e fome, desastres ambientais e sociais, nova onda da pandemia. O ano é novo, mas os velhos problemas persistem.

A inflação se tornou um fenômeno global. No Brasil, a inflação acumulada em 2021 ficou em 10,06% (IPCA), provocando o arrocho salarial, já que os reajustes salariais não têm acompanhado a perda da inflação. Já o desemprego fechou o 3º trimestre de 2021 em 12,1%, correspondendo a 12,9 milhões de pessoas em busca de trabalho, sem contar as que desistiram de procurar emprego e o aumento do trabalho informal.

A desigualdade cresce. Segundo relatório recente da Oxfam, as 10 pessoas mais ricas do mundo dobraram o patrimônio desde o início da pandemia, enquanto a renda de 99% da população global caiu e mais de 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza no mesmo período. No Brasil, a riqueza dos bilionários cresceu 30% na pandemia. Os 20 maiores bilionários do país têm mais riqueza (US$ 121 bilhões) do que 128 milhões de brasileiros (cerca de 60% da população).

Enchentes e nova onda da pandemia

Em dezembro e janeiro ocorreram enchentes em diferentes estados, principalmente no sul da Bahia e em Minas Gerais, somando 51 mortes nessas áreas. Apesar dessas chuvas terem sido acima da média, foram fenômenos meteorológicos previstos pelas instituições e pesquisadores. Mas o que faz as chuvas de verão se transformarem em grandes tragédias é a falta de prevenção, pois os governos não investem e não adotam medidas de planejamento urbano e ambiental para as cidades.

As mudanças climáticas são uma tendência porque o modo de produção capitalista tem uma sede insaciável pela acumulação de capital e se confronta com os limites naturais do planeta. No caso de Minas Gerais e Bahia, há a ampla exploração das empresas de mineração. Nas cidades atingidas pelas chuvas em Minas Gerais estão três das barragens com maior risco de desabamento do país. O site The Intercept denuncia Canetada do IBAMA destrava mina em MG com barragens 90 vezes maior que a de Brumadinho. Estes crimes ambientais, além das tragédias recentes ocorridas em Mariana e Brumadinho, só reforçam a necessidade da reestatização das empresas de mineração. Já a Bahia foi o estado que mais investiu em mineração nos últimos anos, mais da metade dos seus municípios possui essa atividade. A mineração gera desmatamento, seca de nascentes e cursos d’água, contaminação de ar e solo, ou seja, impactos ecológicos e sociais potencializados sob empresas privadas e sua busca pelo lucro. Problemas que só se agravaram no Governo Bolsonaro com o desmonte da legislação ambiental.

Já a pandemia, que provocou mais de 620 mil mortes oficiais no país e mais de 5,5 milhões no mundo, volta a se alastrar. A variante Ômicron tem provocado o aumento de casos, internações e mortes. A ocupação de leitos de UTI no Brasil sobe, ficando novamente em níveis críticos em diferentes estados e capitais, o que se soma ao crescente número de profissionais de saúde afastados por testarem positivo para a Covid. Na última semana o país chegou a registrar mais de 100 mil novos casos em um único dia, a média de casos em 15 de janeiro foi 792% maior em comparação a 14 dias atrás. Números que ainda estão abaixo da realidade diante da falta de testes. Aliás, pesquisadores estimam que comparando o número de mortes e o grau de letalidade da doença, o número real de pessoas infectadas com o novo coronavírus no país deve ultrapassar os 100 milhões, dado bem superior aos cerca de 22 milhões de casos confirmados segundo o Ministério da Saúde.

Apesar desta nova onda provavelmente provocar menos mortes do que as anteriores, principalmente por conta da vacinação, esta segue sendo uma doença bastante letal. Os EUA têm registrado quase 2 mil mortes em média por dia! A razão central deste impacto da nova onda na maior potência econômica do mundo é a baixa taxa de vacinação. Os EUA teriam condições de ter já 100% da população imunizada, mas a campanha “negacionista” da direita e a legítima desconfiança da população nas instituições burguesas, resulta que hoje apenas 62,9% dos norte-americanos estão completamente vacinados, índice menor do que o do Brasil.

Já o governo Bolsonaro desde o início sabotou as medidas de distanciamento social e a vacinação, retardou agora o início da vacinação infantil, levantando mais uma vez dúvidas sobre a segurança das vacinas e seu Ministro da Saúde, além de postergar a compra das vacinas infantis, chegou a defender a necessidade de prescrição médica e termo de consentimento para a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos, tentando criar assim obstáculos para que crianças sejam vacinadas.

No mundo, a vacinação segue em ritmo desigual. 35 países ainda não atingiram nem 10% de sua população completamente imunizada. No Haiti, por exemplo, apenas 0,65% da população está completamente imunizada. As farmacêuticas donas das vacinas buscam o máximo de lucro e não em produzir e distribuir o maior número de imunizantes para pôr fim à pandemia, esta é a situação que possibilita o surgimento de novas variantes de preocupação. Praticamente dois anos depois, sob o capitalismo, a pandemia continua.

Os povos lutam contra a barbárie

Apesar das tragédias que nos cercam, também há exemplos de que é possível construir um outro futuro. Revoltas de massas estouraram antes e durante a pandemia em muitos países. Neste ano, no Cazaquistão, uma onda de protestos tomou as principais cidades do país a partir do aumento do preço do combustível. A classe trabalhadora teve uma participação central. Ocorreram episódios de confraternização entre a polícia e manifestantes, prédios públicos foram ocupados. O presidente Kassym-Jomart Tokayev, buscando retomar o controle da situação, decretou estado de emergência e deu ordem pessoalmente às forças de segurança e ao exército para “abrir fogo com força letal” contra o que chamou de “bandidos e terroristas”. O governo solicitou apoio de tropas russas, 2 mil soldados foram enviados para apoiar a repressão. 12 mil manifestantes foram presos desde o início dos protestos, o número de feridos e mortos não é divulgado, mas estima-se que pelo menos 225 pessoas morreram, segundo a agência de notícias France Press. A brutal repressão pode conter momentaneamente as mobilizações, mas a ira contra o regime só pode aumentar na base da sociedade e preparar novas explosões.

No Irã, uma onda de greves e protestos no fim do ano passado foi retomada agora, principalmente com a mobilização de professores. Milhares de educadores e seus apoiadores foram às ruas na quinta-feira, 13 de janeiro, em mais de 100 cidades em todo o país, levantando reivindicações da categoria e contra o regime.

No Brasil, o ódio ao governo Bolsonaro é majoritário na população. Grandes manifestações pelo “Fora Bolsonaro” ocorreram nos últimos anos. Porém, o ímpeto das massas para pôr abaixo o governo reacionário tem sido bloqueado pelos dirigentes para que a situação se arraste até as eleições presidenciais, garantindo uma saída por dentro do sistema, apostando na vitória eleitoral de Lula.

E Lula, mesmo após atacado e preso, volta à cena apresentando-se como uma alternativa para a burguesia, o que é evidenciado por todo seu esforço em conseguir trazer o ex-tucano Geraldo Alckmin para ser seu vice, movimentação que tem gerado oposição dentro do próprio PT. Não temos ilusão, Lula busca mais uma vez uma candidatura e um governo de colaboração de classes, que só pode ter como resultado o não atendimento das reivindicações dos trabalhadores e a submissão aos interesses do capital, ou seja, a política de coalizão levada a cabo pelos governos anteriores de Lula e Dilma, sem aprender nada com as consequências desastrosas dessa política e que tem o potencial de se traduzir em ataques mais duros à classe trabalhadora diante do cenário de crise econômica. Nós defendemos que o PSOL lance uma candidatura própria que apresente um programa verdadeiramente de esquerda e de combate ao capital. No entanto, a direção do partido, cada vez mais adaptada ao jogo parlamentar e eleitoral, trabalha contra a construção desta alternativa, organizando o apoio a Lula desde o primeiro turno.

É preciso uma direção revolucionária para que grandes revoltas e mesmo revoluções não sejam conduzidas para derrotas e falsas saídas. Só a tomado do poder pela classe trabalhadora pode pôr fim ao pesadelo capitalista.

Os revolucionários marxistas não estão entre os pessimistas que consideram que não há solução para a humanidade e o planeta. Lutamos e acreditamos que é possível interromper a marcha em direção à barbárie e que é possível um mundo que elimine toda a exploração e opressão. A Esquerda Marxista e a Corrente Marxista Internacional combatem, passo a passo, como parte do movimento operário, pela construção de uma direção revolucionária que ajude as massas oprimidas a vencer a guerra contra a classe inimiga e abrir uma nova etapa histórica de liberdade e desenvolvimento humano. Grandes combates nos aguardam em 2022, organize-se, junte-se a nós nessa luta!