Dia 13 de agosto milhares atenderam aos chamados das centrais sindicais, da CUT e da UNE. A quantidade entretanto foi muito menor do que as manifestações que presenciamos em maio. Foi um dia em que os ativistas, militantes e sindicalistas ocuparam os holofotes. As massas não apareceram. Observadores superficiais explicam que isso se deve ao baixo nível político do brasileiro e à onda conservadora que tomou a sociedade. A resposta, porém, não está na cabeça do trabalhador, mas sim na daqueles que dizem o representar.
Diferente do que pensa a pretendida liderança do proletariado brasileiro, a massa explorada do Brasil está muito longe de ser estúpida. Pelo contrário, observa com atenção e saca conclusões próprias e práticas a cada passo. Essa inteligência está por trás do fracasso da esquerda, observado nesta última terça-feira.
Quando um general revela tendências suicidas no campo de batalha, os soldados – dotados de um cérebro – chegam à óbvia conclusão: a campanha está fadada ao fracasso. A moral da tropa vai ao chão e ninguém quer perder a vida por nada. Milhões chegaram a uma conclusão semelhante a partir de suas experiências durante os meses de maio, junho e julho. Perceberam que a atual esquerda e os atuais líderes propõem uma linha de derrota.
De acordo com a CUT, tratava-se de um Dia Nacional de Mobilizações, Paralisações e Greves. Já a UNE nomeou o dia 13 como 3º Grande Ato em Defesa da Educação. Nos locais de estudo e trabalho, as lideranças sindicais e estudantis agiram como se fosse mais um dia de manifestação. Em muitos lugares, fizeram uma tímida e inócua mobilização.
Esperar confiança e adesão das massas a essa política trata-se, isso sim, de uma estupidez. Qual trabalhador sairá no meio do expediente quando nenhuma greve foi seriamente preparada? Qual estudante abrirá mão de seu aprendizado por uma causa perdida? A única forma de obter um resultado diferente seria a direção mudar completamente de postura, demonstrar disposição de ir até o fim, e assim retomar a confiança perdida.
Métodos e linha política
Mas os métodos são sempre uma extensão da linha política. Os pretensos líderes das massas estão presos às suas próprias análises e conclusões erradas sobre a realidade. Em São Paulo, infindáveis figuras se revezaram no caminhão de som instalado na Avenida Paulista. Uma análise política revela entretanto um discurso homogêneo.
A totalidade dos oradores declarava-se em defesa da democracia. As críticas a Bolsonaro, taxado como ditador e fascista, estavam ligadas a defesa do idílico Estado brasileiro. A defesa da linha “Lula Livre”, absoluta entre as lideranças, estava vinculada à realização de novas eleições para Lula ser o presidente.
As massas entenderam por sua experiência de décadas e dos últimos anos em especial que esta democracia existente não lhes interessa. De forma mais ou menos confusa, concluem que se trata da democracia de uma classe dominante parasitária contra a maioria do povo.
Essas mesmas massas nutrem um ódio profundo contra esse Estado e suas instituições. Um ódio baseado em sua experiência e conclusões práticas. Qual trabalhador ou jovem sério acredita que pressão sobre o Congresso Nacional fará os interesses dos explorados prevalecer? Nenhum em sã consciência, mas essa é a linha da direção das organizações de massas, uma vez que concebem este Estado e estas instituições como as únicas possíveis.
Bolsonaro foi eleito apresentando-se como a antítese deste sistema, portanto, como quem poderia expressar esse sentimento coletivo. Ao invés de explicar que o mesmo expressa os interesses da classe dominante e as velhas instituições, a esquerda o apresenta como ditador e fascista. Contrapõem o bem contra o mal, a democracia contra o fascismo. Revelam apenas sua própria incapacidade teórica de compreender a democracia burguesa e o fascismo, em si produtos históricos e determinados pela luta de classes.
Apesar de um dia terem alçado Lula e o PT como sua liderança e ao comando da República, as massas tiveram suas aspirações traídas. Por um longo e doloroso processo, milhões e milhões chegaram a conclusões próprias e puniram tanto Lula como o PT. O fato de Dilma e o PT terem sido removidos pela classe dominante não altera o fato fundamental de os mesmos terem rompido relações com as amplas massas.
A operação “Lula Livre” trata-se de uma manobra do aparelho burocrático do PT de retornar ao comando deste Estado capitalista, para gerenciar esta sociedade capitalista. Para isso alardeiam que único caminho para resistir ao “fascismo” e à “ditadura” é a unidade em torno do mesmo PT e do mesmo Lula que traíram sistematicamente os interesses das massas em prol dos capitalistas.
Combater as arbitrariedades do Judiciário brasileiro e defender as liberdades democráticas nada tem a ver com capitular frente à política burguesa de Lula e do PT, embarcando na campanha eleitoral Lula 2022.
As massas instintivamente percebem essa verdade por trás do “Lula Livre”. Isso não significa, mais uma vez, que elas sejam estúpidas. Na ausência de algo melhor, ou de uma alternativa que ofereça uma solução palpável, milhares devem tentar utilizar Lula e o PT como o mal menor. As pesquisas eleitorais são uma expressão disso.
Os ativistas que embarcam nessa operação, no entanto, expressam os sentimentos e as conclusões mais atrasadas e conservadoras das massas em movimento. Representam o passado, e acabam se tornando um obstáculo para as forças progressivas que representam o futuro.
A linha da vitória
Nenhuma guerra ou revolução ocorreu sem grandes choques, reviravoltas e acontecimentos inesperados. Estamos vivenciando no Brasil, e no mundo, uma guerra civil aberta pelas classes dominantes contra as massas exploradas neste regime capitalista. Tanto a estratégia quanto as táticas apresentadas e praticadas pela atual liderança das organizações de massas preparam derrota após derrota frente ao governo Bolsonaro e às classes sociais cujo programa político o atual presidente aplica.
Alterar o curso dessa guerra de classes depende da mudança da estratégia e das táticas aplicadas por nossa classe. A única estratégia capaz de levar à vitória é a da revolução social. Apenas por meio da derrubada violenta do Estado e do estabelecimento de uma Assembleia Popular Nacional Constituinte, será possível controlar democraticamente a sociedade e estabelecer um plano econômico que atenda as necessidades e anseios das massas.
As táticas que correspondem a essa estratégia passam por ganhar a confiança das massas para uma luta séria e decidida pelo poder. Passa por preparar uma greve geral por tempo indeterminado que coloque as massas nas ruas em combate, que constitua assembleias populares que decidam os rumos da greve e que se lancem a controlar a sociedade. Passa por explicar pacientemente para camadas cada vez mais amplas que as lutas econômicas e de resistência apenas podem ser vencidas se unindo à luta política pela derrubada deste governo pelas ruas.
Alterar o curso desta guerra de classes começa por abraçar o Fora Bolsonaro e defendê-lo em cada escola, universidade, bairro e local de trabalho. Contra a linha da derrota, propor e combater pela linha da vitória.