Balanço das eleições da Apeoesp de 2023: rejeição à burocracia sindical aponta o caminho de construção da oposição

Em 2023 foram realizadas as eleições do O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). Diferentemente dos últimos processos eleitorais, em uma virada histórica, as principais correntes de oposição formaram chapa com a Articulação Sindical. Correntes do PSOL como Resistência, TLS e Unidos pra lutar; partidos como PCB e PCO; e mesmo setores “independentes” como o Chão de Giz de Bauru-SP se somaram ao PT e ao PCdoB no pleito eleitoral desse ano. Isso já foi analisado em outro texto.

Poucas e pequenas correntes de oposição resistiram à pressão esmagadora da chapa majoritária. Contudo, com muito esforço política, a Chapa 2 se unificou centralmente em função de 2 eixos: 1. Independência política em relação ao governo Lula; 2. Derrotar a burocracia sindical, expressa hoje pela figura da presidenta Bebel. Em especial esse segundo ponto foi determinante para o resultado deste agrupamento.

Aqui vamos nos deter em analisar os resultados eleitorais estaduais e regionais e as implicações políticas para o próximo período.

Reeleição da Chapa 1

A reeleição da Chapa 1 nas eleições da Apeoesp de 2023 representa tão somente que a burocracia sindical que domina esse sindicato há décadas ainda consegue se sustentar por meio dos métodos burocráticos e fraudulentos. A crise de direção do proletariado, que também atinge fortemente os sindicatos, implica ao mesmo tempo a crise de representatividade dos aparelhos e o fortalecimento provisório das burocracias desses aparelhos. Ao mesmo tempo, essas eleições indicaram importante disposição pela superação da atual direção.

 O total de votantes foi de 50.980, ficando 82,75 % para a Chapa 1, 12,28% na Chapa 2 e 2,84% na Chapa 3 (registrada pela Unidade Popular).

Na capital, onde as correntes de oposição têm mais recursos e conseguem fiscalizar melhor o pleito, somente 8011 eleitores participaram, destes, 72,39% ficaram com a Chapa 1, 22,44% ficaram com a Chapa 2 e 3,44% com a Chapa 3.

Na Grande São Paulo, 10.039 participaram das eleições: 76,37% votaram na Chapa 1, 17,03% na Chapa 2 e 1,59% na Chapa 3.

No Interior, 32.930 votantes participaram: 87,46% na Chapa 1, 8,36% na Chapa 2 e 2,05% na Chapa 3.

A Apeoesp é um sindicato que perdeu muito de sua credibilidade e força política. As greves e paralisações não têm adesão como antes. Apesar disso, no setor menos participativo da categoria, no interior paulista, é onde teriam se concentrado mais de 64% dos eleitores. A fraude eleitoral é evidentemente uma prática dessa direção sindical.

Na subsede Sudeste-Centro da capital, pudemos verificar alguns absurdos durante a apuração em urnas onde não tínhamos fiscais em comparação com aquelas onde tínhamos algum tipo de acompanhamento: em uma das urnas que apuramos, foram contabilizados 123 votos à Chapa 1 e 3 à Chapa 2. Isso em apenas 6 escolas. A título de comparação, na urna onde tínhamos um fiscal, que passou por 5 escolas, tivemos apenas 33 votantes. Estadualmente, em nenhuma urna onde a Chapa 2 teve fiscais se alcançou tal número e taxa de votantes. Também constatamos a mesma caligrafia assinando as atas de eleição, dentre outras irregularidades evidentes. O que vimos nessa subsede reflete o método geral da burocracia sindical da Apeoesp nas eleições e só isso explica quase 33 mil pessoas tenham participado das eleições no interior paulista. O mais triste é ver aqueles que denunciavam tais métodos dessa burocracia se unirem a ela.

Também é importante considerar a queda no número de votantes. Em 2017, 58.859 mil sócios participaram do pleito. Uma redução de 13,38% em 2023. Tal redução de participação eleitoral fortalece a burocracia presente, ao mesmo tempo em que expressa o aprofundamento de sua crise sindical. 

Resultados regionais

Das 49 subsedes da Apeoesp, a Chapa 2 venceu em 4 subsedes da Apeoesp: Mauá, Oeste-Lapa, Santo André e São João da Boa Vista. A Chapa 2 teve ainda votação superior a 20% em mais 17 subsedes: Campinas, Capital – Itaquera, Cap. – Leste Penha, Cap. – Norte, Cap. – Santo Amaro, Caraguatatuba, Diadema, Franca, Itapecerica da Serra, Jaú, Poá/Ferraz, Ribeirão Pires, Sumaré/Hortolândia,   Vale do Ribeira,  São José dos Campos, Sorocaba e Teodoro Sampaio. Isso significa que em  cerca de 40% das subsedes do estado a oposição conseguiu conquistar importante apoio do professorado.

O centro das candidaturas dessa chapa foi corretamente o Fora Bebel. Essa palavra de ordem é ecoada no chão das escolas estaduais pela categoria. A figura de Maria Izabel de Noronha (Bebel) representa mais de uma década de derrotas e perda de direitos da categoria. Assim, a utilização de sua figura como forma de dialogar pela necessidade de superação da burocracia sindical vigente na Apeoesp se mostrou uma política acertada e que aproximou setores importantes da categoria.

Significado dos resultados e perspectivas

Os resultados eleitorais de 2023 evidenciam como a linha de denúncia da burocracia é o que pode animar a categoria a se reinserir na luta. Quando publicamos sobre a vitória regional da Chapa 2, o que vimos foi uma retomada de ânimo da categoria na busca para que a Apeoesp volte a organizar efetivamente os professores.

A apuração também adianta uma reorganização política de algumas regiões em relação aos agrupamentos políticos. As grandes correntes de oposição perderam espaço e mesmo a direção regional para pequenos agrupamentos políticos. Isso significa que agrupamentos com pouquíssima expressão terão agora maior peso no enfrentamento contra a burocracia representada pela Chapa 1.

O coletivo Educadores pelo Socialismo acertadamente compôs a Chapa 2 nessas eleições e construiu a luta pela independência política em relação ao governo Lula e contra a burocracia sindical ilustrada na figura da agora Segunda Presidenta Bebel. Tal acerto tático resultou em eleições de Conselheiros em nível estadual e regional e amplia nossa capacidade de intervenção na luta da categoria.

Acabadas as eleições, agora as tarefas se multiplicam quanto à organização da categoria. O coletivo Educadores pelo Socialismo seguirá construindo as lutas dos professores, da juventude e do conjunto da classe trabalhadora, na linha da independência de classe e a partir de um programa socialista e revolucionário. E precisamos de mais pessoas para serem parte desta luta. Seja parte e junte-se a nós!