O capitalismo é horror sem fim e na Amazônia o garimpo é apenas uma de suas manifestações / Imagem: Felipe Werneck/Ibama

Bolsonaro e o capitalismo na Amazônia: um rastro de destruição, repressão e morte

No fim do ano passado, as imagens de centenas de balsas de garimpo ilegal no Rio Madeira se tornaram um marco da destruição que o governo Bolsonaro promove e apoia na Amazônia. Apesar da aparência frágil das balsas e o caráter quase artesanal da atividade, o garimpo ilegal conta com o apoio aberto da burguesia, de seus representantes nos parlamentos e do crime organizado com quem mantém estreitos laços.

Nas Terras Indígenas Sai-Cinza e Munduruku, o garimpo já avançou em uma área de 632km2. A mineração em terras indígenas, embora ilegal, é apoiada abertamente por Bolsonaro, que inclusive apresentou um projeto de lei pra autorizar a atividade e visitou uma área de garimpo ilegal dentro de uma terra indígena em Roraima.

Diferentemente da extração de madeira ou das queimadas, que destroem uma vasta área de uma vez, o garimpo se concentra em pontos estratégicos nos leitos dos rios e despeja uma quantidade gigantesca de substâncias químicas que matam as águas rapidamente. Quando a área se esgota, eles partem para um novo local deixando para trás uma terra arrasada. O mercúrio, substância altamente tóxica, entra na cadeia alimentar principalmente através dos peixes e envenena pessoas na floresta e nas cidades. Em uma das aldeias da Terra Indígena Sawré Muybu, também da etnia Munduruku, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz mostrou que todos os habitantes estão contaminados por esse metal.

Mas os garimpeiros não agem sozinhos. Toda balsa ou área de garimpo tem um ou mais “donos”, que na prática controlam os equipamentos, ferramentas e cobram caro por comida, alojamento e demais necessidades básicas dos garimpeiros que de fato exercem a atividade. Todo esse controle se dá principalmente por dívida e é exercido através da força com armas que entram livremente no país por contrabando ou são desviadas das próprias forças de repressão do Estado.

Em terras indígenas como a dos Yanomamis, em Roraima, e dos Mundurukus, no Pará, esses “donos” são as mesmas facções que dominam o tráfico de drogas no Brasil. Isso acontece porque os mesmos rios amazônicos por onde passam as drogas dos locais de produção para o Sudeste (de onde partem para a Europa) são utilizados para escoar o ouro dos garimpos ilegais.

Enquanto isso, Bolsonaro defende a ampliação do “excludente de ilicitude” (um salvo conduto para que um policial mate quem quer que seja) como forma de evitar novas invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Segundo ele, dessa maneira o policial poderia “descansar tranquilo após cumprir sua missão”. Essa afirmação por si só deixa bem claro a quem se dirige a política armamentista de Bolsonaro. Trata-se de armar a burguesia para que tenha ainda mais meios de defender sua propriedade, roubar mais parcelas de terra no campo e ampliar seus negócios para outras áreas como o garimpo.

Prova disso é que Bolsonaro não está sozinho na defesa dos garimpos, mas é apenas um dos elos que forma a extensa cadeia que leva o ouro da Amazônia até o comércio internacional. No Congresso, a Frente Parlamentar Mista da Mineração reúne 240 deputados e senadores que vão desde ruralistas e direitistas conhecidos até petistas como Alexandre Padilha, ex-ministro de Lula e Dilma e candidato ao governo de São Paulo em 2014.

O ouro sujo da Amazônia, depois de legalizado, enriquece a mesma burguesia que cria os “selos verdes” e alimenta fundos para ONGs de proteção ambiental. Quem paga por todos os custos dessa produção são os indígenas e camponeses que têm seus meios de vida arrancados e a classe trabalhadora que vive imersa na violência da guerra às drogas. O capitalismo é horror sem fim e na Amazônia o garimpo é apenas uma de suas manifestações. Destruição, repressão e morte são o que o sistema reserva para os povos e camponeses que vivem na floresta e para a classe trabalhadora como um todo.