A pantomina aprontada por Bolsonaro – no meio de uma crise econômica e social profunda – indo à manifestação esvaziada, tocando as pessoas e desdenhando da epidemia de coronavírus elevou a temperatura da crise política.
De um lado, o Congresso passou a funcionar em regime de emergência, só se dispondo a votar projetos que digam respeito à crise de saúde e às suas “consequências econômicas”. De outro, a pequena burguesia, assustada com a epidemia, afasta-se de Bolsonaro. Os atos foram pífios e as manifestações de defesa de Bolsonaro minguam a cada dia, inclusive nas redes sociais.
Bolsonaristas de primeira hora, como a Deputada Estadual de SP, Janaina Paschoal, a “advogada do impeachment”, diz que se arrependeu do seu voto e pede o afastamento do Presidente. Hélio Bicudo concorda e junto com eles uma enxurrada de “arrependidos”. Os jornais questionam abertamente a sanidade de Bolsonaro, mas não conseguem enxergar uma “saída” que não leve ao questionamento geral das instituições.
A burguesia brasileira começa a entrar em pânico. Aquilo do que ela acusa as massas, de entrarem em pânico com o vírus, ela o faz com a economia. O índice BOVESPA caiu hoje (18/3) para próximo aos 60 mil pontos, retornando a valores próximos de 2007/2009. Setores inteiros da economia como eletrônicos (falta de insumos), aviação e turismo desabam. E o Presidente fazendo piruetas para sua cada vez mais escassa base e dizendo que a sua própria eleição foi fraudada?
A questão é que a burguesia engoliu um parlamentar medíocre, com ligações com o submundo das milícias do Rio, como o seu Presidente. E ele não negou o que era. Compôs um governo de mediocridades, onde o traço comum é um ideologia anti-científica e anti-comunista. Um Ministro da Justiça que tem ligações com o Departamento de Estado dos EUA e age na beira da lei, em zonas sombrias entre o legal e o ilegal. Um Ministro da Educação que não sabe o idioma português e que se dedica a caçar comunistas e socialistas nas universidades e escolas. Um ministro da Economia que vem de um “banco” de terceiro escalão, que nunca foi dos grandes operadores do mercado.
Alguns quadros do DEM (a ministra da agricultura, Onix Lazaronni, o ministro da Saude) e vários generais de pijama completam esse quadro medíocre. Na hora da crise, o bicho pegou.
Paulo Guedes, num teste de fogo, falando ao Congresso sobre a epidemia e a crise econômica, só conseguia repetir que precisavam aprovar as reformas. Os senadores, prudentemente, depois que um senador foi infectado ao fazer parte de uma comitiva de Bolsonaro na viagem aos EUA, deixaram de comparecer ao Senado. Sem quórum, como votar as reformas que Guedes reclama? O ministro, ao que parece, não consegue entender que os senadores antes de tudo prezam por sua vida, depois vêm outras coisas, e não vai adiantar pagar para que alguém venha ao Senado, a vida vem antes.
A ideologia fala mais alto que a sensatez e Bolsonaro acredita, junto com vários de seus ministros, que o Corona vírus é só mais uma “gripezinha”. Afinal, quando o seu guru acredita em Terra Plana e seu Ministro de Ciencia e Tecnologia vendia travesseiros ortopédicos de espuma e participava de congressos de Ufologia, não podia ser diferente. Mas a realidade é brutal e membros de seu gabinete no Planalto (o secretário de comunicação e o general Heleno) pegaram o coronavirus, e, para a população, os testes que mostram que ele não foi infectado parecem como falsificados. Afinal, ele parece não estar “nem aí” com o vírus, mesmo quando diz que é uma problema sério.
Os gritos de Fora Bolsonaro que aconteceram no dia 17, o “barulhaço” marcado para o dia 18, tudo mostra que a popularidade de Bolsonaro derreteu e o povo, se não fosse o medo da epidemia, estaria marchando para tirar o Presidente já.
A situação é péssima para os trabalhadores. A economia “formal” está parando ou reduzindo suas atividades. Em várias empresas, os trabalhadores recusam-se a trabalhar com medo (justificado na maioria das vezes) de serem infectados. Os informais (50% da força de trabalho) estarão na chuva e sem guarda-chuva nenhum, somente uma miséria de 200 reais prometidos por Guedes em entrevista de hoje. E o vírus chegando com força, num país cujo sistema de saúde foi sucateado e o sistema sanitário é medíocre, para dizer o mínimo.
As janelas mostram a revolta que ruge nos corações de jovens e trabalhadores. O desenvolvimento desta crise levará à revolta muito além de gritos nas janelas.
- As medidas do governo Bolsonaro só protegem os empresários e deixam uma miséria para os trabalhadores. Falta dinheiro, dizem eles. Mas sempre, quando o cobertor é curto, os burgueses se cobrem e trabalhadores e jovens ficam ao leu. Nós levantamos:
- Suspensão imediata do pagamento da dívida. Anulação da dívida pública. Esse dinheiro servirá para todas as outras medidas. Que os banqueiros e especuladores paguem!
- Proibição da remessa de lucros e dividendos para o exterior;
- Aumento imediato do Bolsa Família para o valor do Salário Mínimo;
- Liberação de todas as aposentadorias e pensões “pendentes” de análise (mais de 2 milhões);
- Liberação de todos auxílios doença pedidos por médicos e “pendentes” de perícia. Transferência dos médicos peritos para atendimento em postos e hospitais;
- Auxílio desemprego para todos os que tiveram sua atividade econômica individual suspensa ou paralisada – ambulantes, MEI, trabalhadores de aplicativos, etc;
- Estatização de todo o sistema de saúde e sua integração no SUS;
- Contratação e convocação de todo o pessoal médico (médicos, enfermeiros, auxiares de enfermagem) para atendimento à crise;
- Compra emergencial de testes e equipamentos respiratórios (como os testes coreanos que dão resultado em 30 minutos);
- Estatização de todas as empresas que declararem falência ou recuperação judicial, sem indenização dos patrões, sob controle dos trabalhadores;
- Fora Bolsonaro, por um governo de trabalhadores sem patrões nem generais.