The Pioneer Fire located in the Boise National Forest near Idaho City, ID began on Jul. 18, 2016 and the cause is under investigation. The Pioneer Fire has consumed 96,469 acres. U.S. Forest Service photo. Original public domain image from Flickr

Catástrofe climática vs. superlucros: as verdadeiras preocupações da classe dominante

Os efeitos devastadores do aquecimento global estão sendo sentidos por bilhões de pessoas em todo o mundo. Enquanto isso, os gordos capitalistas estão minimizando abertamente o risco de cidades inteiras serem sepultadas sob os oceanos em ascensão como uma inconveniência insignificante. Como o imperador Nero antes deles, os governantes deste sistema destrutivo estão brincando – desta vez – enquanto Roma se afoga.

Enquanto inúmeras pessoas estão sob o risco de inundações devido ao aumento do nível do mar em um futuro próximo, bilhões já estão sentindo os efeitos da seca. Devido ao aumento das temperaturas e ao calor extremo, a Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação (UNCCD) estima que mais de 2,3 bilhões de pessoas estão enfrentando o estresse hídrico.

Entre estes, quase 160 milhões de crianças estão expostas a secas severas e prolongadas. O capitalismo, com sua exploração imprudente do planeta em nome do lucro, está negando às pessoas as necessidades mais básicas da vida e transformando áreas inteiras da terra em desertos.

A África Subsaariana foi especialmente devastada pela escassez de água. Em maio, o Chifre da África viu sua pior seca em quatro décadas e até 20 milhões de pessoas podem passar fome este ano como resultado. Um total de 40% da população da Somália agora enfrenta insegurança alimentar aguda.

Mas esta crise não se limita ao continente africano. Em meados de junho, a Europa teve uma onda de calor excepcionalmente precoce e extrema, com temperaturas recordes nas regiões oeste e central. Em 16 de junho, a França viu temperaturas de 40°C, que é o ponto mais rápido em um ano em que isso foi alcançado desde o início dos registros. Os incêndios florestais estão se espalhando na Espanha e na Alemanha, com muitas pessoas sendo obrigadas a fugir de suas casas para escapar das chamas.

A queima de combustíveis fósseis é a maior força motriz por trás do aquecimento global. Relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) dizem que para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (o limite estabelecido pelos Acordos Climáticos de Paris), as emissões de gases de efeito estufa precisam ser reduzidas em 43% até 2030 e atingir o ‘zero líquido’ até 2050. Isso significa cessar completamente a produção de gases de efeito estufa na atmosfera, resultante da atividade humana.

Para atingir o zero líquido até 2050, a Agência Internacional de Energia concluiu em seu relatório do ano passado que não poderia haver novos campos de petróleo ou gás, ou minas de carvão escavadas.

Atingir qualquer um desses objetivos exigiria uma transição radical e rápida dos combustíveis fósseis para fontes alternativas de energia. Sob o sistema capitalista voltado para o lucro, não estamos apenas falhando em fazer o progresso necessário, mas dando marcha ré.

Embora muitas empresas tenham estabelecido metas para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, não há planos sérios para acompanhá-las. Um estudo do New Climate Institute disse que as 25 maiores corporações (incluindo Google e Amazon) não estão apenas deixando de cumprir suas próprias metas, mas rotineiramente exageram seu progresso (insuficiente).

Isso mostra que qualquer tentativa da chamada “regulação climática” permanecerá letra morta enquanto os meios de produção forem controlados por uma minoria de parasitas aproveitadores.

As verdadeiras preocupações da classe dominante

A verdade é que, enquanto uma parte da classe dominante está alarmada com a perspectiva da mudança climática, o sistema como um todo é impulsionado principalmente por um desejo insaciável de lucros a curto prazo. E alguns dos capitalistas mais degenerados e míopes adotam uma atitude totalmente descuidada em relação à mudança climática: minimizando o perigo que ela representa ou negando-a completamente.

Por exemplo, em uma conferência do Financial Times no início deste ano, o (ironicamente intitulado) Chefe Global de Investimentos Responsáveis ​​do HSBC, Stuart Kirk, realizou uma apresentação com o título: “Por que os investidores não precisam se preocupar com o risco climático”.

De acordo com Stuart Kirk, do HSBC, a discussão sobre os riscos das mudanças climáticas está ficando “fora de controle” / Imagem: Screen Grab

Segundo Kirk, a discussão sobre os riscos das mudanças climáticas está ficando “fora de controle”. E completou:

“25 anos no setor financeiro, sempre há algum maluco me contando sobre o fim do mundo… mas o que me incomoda nisso [risco de mudança climática] é a quantidade de trabalho que essas pessoas me obrigam a fazer. A quantidade de regulação que desce pelo cano. O número de pessoas em minha equipe e no HSBC lidando com riscos financeiros decorrentes das mudanças climáticas. As metas da noite passada caíram 25%. 25 por cento! E as pessoas estão pedindo aos conselhos das empresas americanas que gastem tempo lidando com o risco climático.”

Todos nós choramos pela burocracia imposta a banqueiros gordos como Stuart Kirk, tudo em nome de questões triviais como a potencial destruição da civilização humana!

Ele continuou:

“Temos reguladores nos EUA tentando nos impedir. Temos o problema da China. Temos uma crise habitacional se aproximando [o que ele quer dizer com um colapso no mercado imobiliário, em vez de uma escassez incapacitante de habitação a preços acessíveis]. Temos taxas de juros subindo. Temos a inflação descendo pelo cano e me dizem para gastar tempo, uma e outra vez olhando para algo que vai acontecer em 20 ou 30 anos, portanto, a proporcionalidade é completamente maluca!”

Na verdade, por que se preocupar com os problemas de algumas décadas a partir de agora, quando há lucros a serem obtidos hoje? O Chefe Global de Investimentos Responsáveis ​​do HSBC não vê motivo para se preocupar com o aquecimento global, porque o ser humano é extremamente adaptável, a ponto de poder viver debaixo d’água!

“Os seres humanos têm sido fantásticos na adaptação às mudanças, na adaptação às emergências. Continuaremos a fazê-lo. Quem se importa se Miami estiver seis metros debaixo d’água em 100 anos? Amsterdã está seis metros debaixo d’água há muito tempo e é um lugar muito legal.”

Em outras palavras: o que são algumas cidades afogadas em comparação com o portfólio de investimentos do HSBC? Esse tipo de arrogância assombrosa colocou abertamente o destino da raça humana em segundo plano para os grandes bancos.

Essas observações escandalosas mostram uma atitude aterradora e cínica em relação ao futuro do planeta e à vida sustentada por ele.

Bombas de carbono

Os capitalistas estão relutantes em abrir mão dos superlucros fornecidos pela indústria de combustíveis fósseis. Nas últimas três décadas, ExxonMobil, Shell, BP e Chevron tiveram lucros de quase US $2 trilhões. O CEO da BP, Bernard Looney, descreveu a empresa como um caixa eletrônico. Como consequência, eles estão cuidadosamente ignorando as implicações devastadoras de aumentar a produção de combustíveis fósseis.

As 12 maiores empresas petrolíferas estão preparadas para gastar U$ 103 milhões por dia pelo resto da década para explorar novos campos de petróleo e gás / Imagem: Domínio Público

Uma investigação do Guardian mostra que os planos para os novos projetos de petróleo e gás produzirão nos próximos sete anos um volume de gases de efeito estufa equivalente à emissão de CO2 da China na última década.

Estão incluídas nos planos 195 chamadas bombas de carbono, que são projetos de petróleo e gás que produzem, cada um, pelo menos um bilhão de toneladas de emissões de CO2 ao longo de suas vidas, denotando um impacto altamente destrutivo no clima.

Os EUA, Canadá e Austrália têm os maiores planos de expansão para o número de bombas de carbono e também dão os maiores subsídios do mundo para combustíveis fósseis per capita. As 12 maiores companhias de petróleo estão preparadas para gastar U$103 milhões por dia pelo resto da década para explorar novos campos de petróleo e gás. Esses planos tornarão impossível limitar o aquecimento global.

Então, enquanto estamos caminhando para uma catástrofe climática, os líderes mundiais estão escondendo suas cabeças na areia. Apesar do fato de que as indústrias de petróleo e gás são responsáveis ​​por 60% das emissões de combustíveis fósseis, não houve menção a petróleo e gás no acordo final da COP 26. Muitos dos países mais ricos que, por um lado, se descrevem cinicamente como “líderes climáticos”, também são os maiores atores na construção de bombas de carbono.

Em 2020, quando Joe Biden estava concorrendo à presidência dos EUA, ele estava pedindo uma transição do petróleo e do gás e quebrando a dependência dos EUA de combustíveis fósseis. Hoje, com suas 22 bombas de carbono, os EUA têm potencial para bombear 140 bilhões de toneladas de CO2, quatro vezes mais do que o mundo inteiro emite anualmente: mais como uma ogiva nuclear de carbono.

Esses grandes países imperialistas estão agora usando a guerra na Ucrânia para justificar seus planos de expansão da indústria de petróleo e gás.

Em março, Biden anunciou um acordo com a Europa que garantirá a demanda de longo prazo por combustíveis fósseis americanos até pelo menos 2030. Nos primeiros quatro meses de 2022, os EUA enviaram quase três quartos de todo o seu gás natural liquefeito para a Europa. A secretária de energia de Biden, Jennifer Granholm, disse no mês passado, em uma sala cheia de executivos de petróleo e gás, que os EUA estavam agora em “pé de guerra”. Ela continuou: “Neste momento de crise, precisamos de mais oferta de petróleo… Isso significa você, produzindo mais agora, onde e se puder.”

Em outras palavras, assim que os interesses imperialistas dos EUA foram ameaçados na Ucrânia, toda a conversa de Biden sobre ser o “presidente do clima” evaporou como ar quente.

Super lucros

Muitos chefes do petróleo e gás estão derramando lágrimas pela guerra na Ucrânia – lágrimas de alegria – porque ela exacerbou a já crescente inflação dos preços do gás e do petróleo, o que significa lucros enormes para eles e seus acionistas.

Entre janeiro e março, a Shell obteve US$ 9,1 bilhões em lucro / Imagem: Domínio Público

Nos primeiros três meses de 2022, os 28 maiores produtores de combustíveis fósseis faturaram cerca de U$100 bilhões em lucros combinados. Entre janeiro e março, a Shell teve um lucro de US $9,1 bilhões, quase três vezes maior do que no mesmo período de 2021. A Exxon também teve um aumento de três vezes com U$8,8 bilhões em lucros. A BP faturou U$6,2 bilhões, obtendo seus maiores lucros no primeiro trimestre em uma década.

Ao mesmo tempo que o Diretor Financeiro da BP, Murray Auchincloss, disse: “é possível que estejamos recebendo mais dinheiro do que sabemos com o que fazer”. Até 40% das famílias britânicas correm o risco de acabar na pobreza de combustível em outubro (o que é necessário para se aquecerem no rígido inverno britânico – nota do tradutor). Esses sanguessugas engordam seus bolsos com a morte, a destruição e a pobreza criadas por uma guerra imperialista, ignorando as terríveis implicações para as gerações futuras.

Como sempre, é a classe trabalhadora que tem que pagar pela crise do capitalismo. Tanto em termos de viver com os efeitos catastróficos das mudanças climáticas, quanto de suportar os choques econômicos que estão levando milhões à pobreza. Enquanto isso, os patrões vão embolsar seus bilhões, sem se importar com as implicações.

O capitalismo é incapaz de salvar o planeta. Pelo contrário, é a maior ameaça à civilização humana e sempre priorizará os lucros sobre o planeta e a vida das pessoas. Em vez de deixar a luta climática para os patrões e políticos, a classe trabalhadora e suas organizações devem lutar para assumir o controle da economia, colocando a produção em suas próprias mãos, expropriando os aproveitadores.

Somente controlando as indústrias poluidoras e os grandes bancos podemos transformar plenamente a sociedade de acordo com um plano geral em benefício do planeta e das necessidades humanas. Esta é a única maneira de evitar o deslizamento para a barbárie a que o capitalismo nos condena.


TRADUÇÃO DE LEVY SANTANA.