CDHU de SP: “ A casa é boa, o pobre é que estraga”

Este artigo foi um tema sugerido por nossa amiga do Facebook Maria Fernanda Almeida indicando o Portal de Notícias R7. E para sua construção também utilizamos as notícia da Folha de São Paulo e da Carta Capital.

 

 

Abaixo seguem algumas imagens e em seguida publicamos um artigo do nosso camarada Flávio, do RJ.

 

 
Vazamento de esgoto 
Janela que não fecha
Pia da cozinha que caiu no dia seguinte à mudança
Parede com infiltração
Parede da cozinha com infiltração
Tanque que entupiu porque estava sem sifão 
 
O sonho da casa própria está virando um pesadelo para as famílias do conjunto habitacional Paulo Gomes Romeo, em Ribeirão Preto. Das aproximadamente 400 casas populares entregues pelo governador Geraldo Alckmin em dezembro apresentam muitas falhas de construção.

E como se não bastasse ter de ocupar as casas com os problemas, os moradores ainda tiveram que escutar do diretor regional da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) uma declaração inaceitável! Milton Vieira de Souza Leite, quando foi fazer uma inspeção pessoalmente esta semana anunciou a seguinte conclusão: as casas são boas, os pobres que foram morar nelas é que estão estragando tudo. Vejam:
A gente conhece o nível de educação dos moradores. O pessoal veio da favela. Não está acostumado a viver em casa“, afirmou em entrevista gravada pela repórter Gabriela Yamada e publicada na Folha. E disse mais: “Você não consegue mudar a educação delas somente mudando de local“. Para ele, seria necessário um trabalho social de longo prazo para ensiná-las a morar numa casa.

Ao falar do caso de uma moradora que reclamou da pia da cozinha ter caído ao colocar sobre ela uma cesta básica, resolveu fazer graça, como relata a repórter:
O que ela foi comer era outra coisa, disse, insinuando que a pia caiu durante uma relação sexual. Mais adiante, ao encontrar moradores dormindo, saiu-se com essa: Você viu? Não sei se eles estavam dormindo porque trabalharam à noite ou porque continuam sem fazer nada“.
O dirigente da CDHU também responsabilizou os moradores pelas fissuras encontradas em volta de portas e janelas:
“As portas são fixas com bucha. A camada de revestimento é muito pequena, e a forma como vai batendo a porta, em uso comum, vai provocar uma fissura“.
Esse episódio nos faz lembrar quando da abolição da escravatura no Brasil, a classe dominante se preocupou com o que fariam os negros libertos. E insultou-nos, assim como Souza Leite, como povo de “má índole, preguiçoso e sem educação“. O diretor do CDHU é bem a cara do PSDB, não acham? O partido que odeia pobres! Pois é sempre assim, nunca hesitam em atacar a classe trabalhadora.

E quem já morou em apartamentos do CDHU sabe, a estrutura é tão ruim que quando o vizinho de cima anda pela sala, balança até o lustre do apartamento. Além do mais, não é exatamente uma favela os 3 prédios que acabaram de ir ao chão no centro do Rio de Janeiro.

Um bom artigo da Carta Capital comentou que as justificativas de Souza Leite foram uma pérola que fatalmente competirá, em pouco tempo, somente com a “favela como fábrica de marginais”, de Sergio Cabral, governador do Rio.


É mais fácil para a elite imaginar que na favela as modalidades esportivas preferidas sejam martelar as próprias paredes e dormir com a torneira aberta, do que admitir a ganância de gestores governamentais e a falta de caráter de empreiteiros e empreendedores. Talvez seja por isso que água encanada, coleta de lixo e coleta de esgoto sejam expressões incompatíveis com a palavra “periferia”.

 

Por fim, temos que as declarações do diretor do CDHU, somadas à truculenta desocupação policial do Pinheirinho e à ação com “dor e sofrimento” contra os dependentes de Crack na Luz, formam uma conjuntura de terror tão forte que sensibilizou até mesmo a reportagem do R7. Veja as duríssimas críticas no Portal de Notícias:
“Uma coisa é certa: os últimos acontecimentos em São Paulo estão mostrando que não se trata de eventuais acidentes de percurso de uma administração pública, mas de um método. A culpa é sempre dos pobres. A política “policial-higienista”, que já “limpou” as áreas da Cracolândia e do Pinheirinho, agora encontrou os responsáveis pelas casas populares com defeito: os seus moradores. Espera-se que a PM não seja chamada para resolver o problema.
Essa análise mostra que a burguesia está encontrando reações à sua política de opressão até mesmos nas suas próprias instituições, como a grande imprensa.
 

 

 

 

Nota: O diretor regional da CDHU, Milton Vieira de Souza Leite, protagonista do artigo acima, pediu demissão do cargo, segundo informou o portal “Folha.com”, em nota publicada às 16h29 desta sexta-feira.
Flávio Almeida Reis
Militante da Juventude Marxista do RJ
Mestrando em Geografia – UFF
reis.geografia@gmail.com
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Um comentário

  1. melhor do que um barraco ?