No início de novembro, a consigna “pelo fim da escala 6×1” transbordou o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), ganhando apoio de milhões de trabalhadores por todo o país. A petição online do VAT que contava com 1,3 milhão de assinaturas saltou para 2,9 milhões em poucos dias.
A repercussão nas redes sociais aumentou a pressão sobre os parlamentares que ainda não haviam dado sua assinatura favorável à tramitação de uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) de autoria da Deputada Federal Erika Hilton (PSOL-SP) e impulsionada pelo VAT, que propõe uma jornada de trabalho de no máximo 36 horas semanais em escala 4×3 (4 dias de trabalho e 3 dias de folga por semana).
Pressionados por suas bases eleitorais, deputados de todas as colorações políticas assinaram pela tramitação da PEC. As direções das centrais e sindicatos, que até então vinham descaradamente ignorando esta luta, passaram a agitar publicamente pelo fim da escala 6×1. E a coordenação nacional do VAT, dirigida por Rick Azevedo (PSOL-RJ), se apressou em convocar atos de rua para o feriado de 15 de novembro.
Os atos de 15/11
Apesar da adesão massiva nas redes sociais e da velocidade impressionante do crescimento do número de assinaturas na petição online do VAT, nas ruas os atos foram bem menos expressivos.
Alguém pode dizer que isso se deu porque os atos foram convocados com pouca antecedência. Mas a questão é que o VAT nasceu como um movimento virtual e ainda não conseguiu se estruturar como um movimento capaz de converter o apoio virtual em ações de massas nas ruas. Não é só uma questão de convocar com mais antecedência, escolher melhor os horários e locais dos atos. A questão é que a atual coordenação do VAT tem a concepção que basta lançar um chamado nas redes sociais e todos irão às ruas.
Desde o início do movimento VAT, nós propusemos que fossem formados comitês do VAT em cada cidade, para que os próprios ativistas do VAT pudessem decidir e organizar ações localmente. Infelizmente, a coordenação nacional não confia na base do movimento e sempre se opôs à formação desses comitês.
Fomos expulsos dos grupos do VAT só por reivindicarmos que os trabalhadores decidissem os rumos do movimento. Durante os 9 meses em que nós fizemos parte da coordenação nacional do VAT – a convite do Rick, vale dizer – fizemos várias propostas para estruturar o VAT como um movimento de ação nas ruas, mas sempre ouvíamos que ainda não era o momento. E agora que “chegou o momento”, o movimento não tem estrutura para organizar ações massivas.
Como vencer?
Não é só porque a PEC do VAT foi protocolada que a batalha está ganha. Há outras PECs mais antigas em tramitação no congresso pautando a redução da jornada para 36 horas semanais emperradas há anos. É preciso aumentar muito a pressão nas ruas.
O transbordamento da luta pelo fim da escala 6×1 permite que esta luta agora se dê para além dos limites que a coordenação do VAT vinha impondo. Agora não é mais preciso ter autorização do Rick para construir comitês em cada cidade. Os comitês não serão do VAT, serão Comitês Unitários de Luta pelo Fim da Escala 6×1 que contemplem a participação de todos que defendam esta bandeira, inclusive o VAT. Em Porto Alegre já está convocada uma primeira assembleia de rua para 24/11 com este caráter. Devemos propor e favorecer esse tipo de iniciativa em todos os lugares.
Estes comitês devem organizar a continuidade da luta, com panfletagens em locais de trabalho para continuar a campanha por adesões na petição online, e construir novas manifestações de rua. Esses comitês devem se ligar nacionalmente e decidir por novos dias nacionais de luta, fazendo ampliar a mobilização e a pressão sobre o Congresso. Só com a unidade de todos que estão pelo fim da escala 6×1, pela redução da jornada sem redução de salário, que será possível vencermos.