Década mais quente da história: Eles brincam com nossas vidas

Nos últimos 100 mil anos, as temperaturas nunca estiveram tão altas. O ano de 2023 havia sido o mais quente da história. Mas 2024 vai ultrapassar essa marca. E o recorde anterior foi apenas em 2016. (Copernicus)

Hoje, uma cidade como Joinville, Santa Catarina, contabiliza mais indústrias e operários do que no século XVIII na Inglaterra. E o que dizer, então, de São Paulo, maior cidade do Hemisfério Sul? No interior do RJ está se formando mais uma região metropolitana. No entorno da Bacia de Campos, já conta com 1,3 milhões de habitantes e há um projeto para um novo porto, justamente em uma região de extração de petróleo. (1)

A era industrial iniciada no século XVIII construiu um mundo à imagem e semelhança da burguesia. Uma sociedade que superou a escassez de bens e recursos e passou para oferta abundante de mercadorias, mas com uma desigualdade imensa. E apesar da eficiência tecnológica aprimorada década a década em todo o mundo, o lançamento de gases de efeito estufa na atmosfera alimentou por quase 300 anos a crise climática.

A média de temperatura global alcançou 1,48ºC a mais do que no período pré-industrial. Parece pouco? Mas quem entra no site da ONU e lê as diretrizes do Acordo de Paris vê um conjunto de desafios para tentar impedir que a temperatura não chegue nesse patamar em 2050. Os jornalistas não precisam mais especular sobre o futuro. O futuro chegou. (Copernicus)

Para evitar o aquecimento de 2º C, a atmosfera teria que ter, no máximo, 405 partículas por milhão (ppm) de CO2. Em 2004, a concentração de CO2 era de 377 ppm, mas em 2023 chegou a 420 ppm. Um aumento de 11% em 20 anos, e de 150% comparado aos níveis pré-industriais. E lembrando que a permanência do CO2 na atmosfera é de 50 a 200 anos. (Rede Global de Vigilância da Atmosfera da OMM)

A década entre 2015 e 2024 é apresentada como a mais quente desde o início dos registros. Verificou-se que, por 16 meses consecutivos (entre junho de 2023 a setembro de 2024), a temperatura média global excedeu os registros anteriores, e muitas vezes por uma ampla margem. Cada ano é o mais quente já registrado, a temperatura sobe e sobe mais rápido. Vemos um desarranjo ambiental na escala de desastres mais frequentes e mais intensos: incêndios florestais, inundações, secas, colheitas perdidas, espécies ameaçadas, rios que secam, milhões de pessoas atingidas. (Organização Meteorológica Mundial – OMM)

Sofremos com o aumento da letalidade da dengue, doença associada às ondas de calor, sobretudo em áreas urbanas desordenadas, com saneamento deficitário. Em 2024, mais de 6 milhões de brasileiros contraíram dengue, os óbitos chegaram a 5.915 no ano, um aumento de 400% de mortes em relação a 2023. A Chikungunya matou 210 pessoas em 2024, 70% a mais do que no ano anterior. Enquanto isso, seguimos sem prevenção adequada, hospitais precários e vacinas insuficientes. (Painel de Arboviroses)

Cerca de 38 milhões de brasileiros, de 1.561 municípios, estão vulneráveis à seca e processos de desertificação. Um dos casos mais alarmantes está numa área de 6 mil km² entre o norte da Bahia e sul de Pernambuco, o chamado Deserto de Surubabel. Ali verificou-se, pela primeira vez no Brasil, a existência de clima árido. A Amazônia e o Pantanal enfrentaram as piores queimadas em 17 anos. Discute-se hoje a savanização da Amazônia. E as temperaturas mais altas na América do Sul podem ter relação com a seca de longo prazo. (2)

Nos últimos três anos, mais de 30 países declararam estado de emergência devido à seca (EUA, Canadá, Espanha, Índia, China, África do Sul, Indonésia e Uruguai). Desde 2000, as secas aumentaram 30%, ameaçando a segurança alimentar, hídrica e a subsistência de 1,8 bilhão de pessoas. 77% dos solos se tornaram mais secos. Vimos interrupção do transporte de grãos no rio Reno, impactos no Canal do Panamá, redução da hidroeletricidade no Brasil. Até 2050 os efeitos de secas podem atingir três em cada quatro pessoas no mundo. A ONU estima que serão necessários US$ 2,6 trilhões até 2030 para restaurar terras degradadas e melhorar o manejo do solo para que se abandone as técnicas insustentáveis. Mas quem vai pagar essa conta? (Atlas Mundial das Secas sobre degradação da terra e desertificação – ONU)

Nos EUA, maior produtor de petróleo e 2° maior emissor de CO2, o demagogo Trump ameaça sair novamente do Acordo de Paris e forma mais um governo de desprezo pela ciência. Com Robert F. Kennedy Jr., negacionista das vacinas, Chris Wright, magnata de empresa petrolífera, e Elon Musk, bilionário que vê na crise ambiental um nicho de negócios do tipo desenvolvimento sustentável. E se não houver redução significativa de emissões de gases estufa (GEE) em países como EUA, é improvável conseguirmos conter o aquecimento global.

O governo brasileiro anunciou redução das emissões de gases até 2035. Mas abaixo do recomendado pela ONU. A meta anunciada é entre 59% e 67%, com base em 2005. Quando o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) recomenda cortes de 60% até 2035 em relação às emissões de 2019. Então, se o cálculo tomasse como ano base 2019, a redução atualmente proposta pelo Brasil não passaria de 39% a 50%. (3)

As emissões por desmatamento na Floresta Amazônica caíram 37%; no Pampa, 15%. Por outro lado, a devastação dos demais biomas aumentaram 23% no Cerrado, que concentra os maiores empreendimentos do agronegócio, 11% na Caatinga, 4% na Mata Atlântica e 86% no Pantanal. Ao todo, o Brasil reduziu em 12% as emissões de gases em 2023. Mas ainda está longe de ser satisfatório. (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima)

Nossa redução na emissão de gases poderia ser maior, se órgãos ambientais como IBAMA, tivessem servidores suficientes. Estima-se que só cerca de 5% das multas ambientais sejam pagas, o restante do processo está travado nas etapas de recursos. O órgão está atolado no exame de mais de 200 mil multas, na cifra de R$ 30 bilhões. Chegaram a anunciar um programa que converte multas em financiamentos de projetos de recuperação ambiental. Em troca, o infrator poderia conseguir abatimento de até 60% no valor devido. Mas apenas 6 projetos estão em andamento até o momento. E essa discussão poderia ajudar o avanço da reforma agrária. Por que alguém deveria continuar com a propriedade da terra se não se adequa às leis do país? (4)

O pacto entre capital internacional e governos é o que está por trás da devastação do meio ambiente. “A motivação [dos incêndios] é eminentemente econômica e individual, e o criminoso típico é pecuarista ou madeireiro”, afirma o delegado Iuri de Castro, do Pará (5). Segundo dados do Ministério, 85% dos incêndios em Mato Grosso começaram em áreas privadas. Mas Mauro Mendes (União Brasil), Governador de MT, defensor do agronegócio, prefere culpar os povos Indígenas pelos incêndios (6). Enquanto isso, é anunciada a habilitação de mais 19 frigoríficos para exportação de carne no Brasil. (7)

O agronegócio é o maior responsável por alterações no uso da terra. Ele é o maior responsável pelo desmatamento e queimadas. Muita gente tem a ilusão de que vai conseguir controlá-lo punindo os excessos dos indivíduos com multas e aumento de penas. Mas a raíz do problema está na propriedade privada da terra, explorada até a exaustão para produzir commodities para o mercado mundial. A devastação de áreas de vegetação nativa ocorre porque os grandes empresários do setor têm interesse em transformá-las em pasto. Há grandes empresas ganhando dinheiro com os desastres ambientais.

Em 2025 escutaremos falar bastante da COP30 que se realizará em Belém. São as chamadas Conferências das Partes, reuniões da ONU para avaliar o progresso na implementação das convenções do clima. Sobre a COP29, escrevemos uma análise aqui.

Atualmente, cientistas e ativistas se perguntam sobre a eficácia dessas convenções para contenção da emergência climática, pois além do palavrório que não impõe sanções aos transgressores das metas adotadas. Por incrível que pareça, o caminho das COPs tem sido cada vez mais em direção aos combustíveis fósseis. Lula, Marina Silva e Sônia Guajajara sonham convencer os bilionários do agronegócio, as Big Oil e Big Ag a lucrarem menos e a serem mais responsáveis. Mas os trabalhadores não podem ter ilusões no capital.

O futuro é agora! Precisamos tomar medidas urgentes! E não acreditamos que o capital ou governos ou instituições a seu serviço mudarão o rumo das coisas. Convidamos você, estudante e trabalhador, a juntar-se aos comunistas pela reconstrução de um partido de classe e revolucionário no Brasil!

Devemos nos apoiar na ciência e no interesse público para cuidar do planeta como nossa morada e das futuras gerações. Construir a Internacional Comunista Revolucionária – ICR com sessões em centenas de países é o caminho para agirmos juntos contra a crise ambiental e o capitalismo!

REFERÊNCIAS

1 – Uma nova metrópole em formação no RJ. https://odia.ig.com.br/colunas/conecta-rj/2024/12/6967438-uma-nova-metropole-em-formacao-no-rj.html

2 – O urgente combate à desertificação no país. https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/12/o-urgente-combate-a-desertificacao-no-pais.shtml

3 – O paradoxo climático do Brasil. https://diplomatique.org.br/o-paradoxo-climatico-do-brasil/

4 – É preciso tirar a fiscalização ambiental do atoleiro. https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/12/e-preciso-tirar-a-fiscalizacao-ambiental-do-atoleiro.shtml

5 – Recordes de incêndio na Amazônia são obra de grileiros e pecuaristas, mas poucos são presos. https://sumauma.com/recordes-de-incendio-na-amazonia-sao-obra-de-grileiros-e-pecuaristas-mas-poucos-sao-presos/

6 – Brincando com fogo: a união entre políticos e empresas que leva a Amazônia ao abismo. https://sumauma.com/brincando-com-fogo-a-uniao-entre-politicos-e-empresas-que-leva-a-amazonia-ao-abismo/

7 – Brasil habilita 19 novos frigoríficos para exportação de carnes à África do Sul. https://www.canalrural.com.br/pecuaria/boi/brasil-habilita-19-novos-frigorificos-para-exportacao-de-carnes-a-africa-do-sul/