A Esquerda Marxista esteve em vários protestos e atividades pelo país, embora o balanço nacional revele o fracasso do “Dia Nacional de Paralisação rumo à greve geral”.
Dia 22 de setembro, a Central Única dos Trabalhadores e outras centrais promoveram uma série de mobilizações pelo país com o slogan “Dia Nacional de Paralisação, rumo à greve geral – Nenhum direito a menos”. Porém, o que se viu foram mobilizações desarticuladas, passeatas pequenas e paralisações pontuais de categorias.
Julio Turra de O Trabalho disse que se tratava de um “esquenta”, que seria seguido de outro em outubro, os quais preparariam a greve geral de fato, essa supostamente em novembro. E o presidente da central, Vagner Freitas, assinalou nota dizendo que não irá tolerar que o governo Temer mexa nos direitos dos trabalhadores, frase nunca ouvida na época em que Dilma fez a vaca tossir várias vezes.
Ao invés de organizadores das tropas da classe trabalhadora para uma guerra contra o governo de Michel Temer, os dirigentes da CUT apresentam-se mais como mágicos. Estão prometendo um coelho que sairá da cartola, mas o tempo passa e a formula mágica da greve geral permanece apenas nas convocações e nos discursos dos dirigentes. E de tão prometida a proposta virou um jargão que, como tantos outros, de tanto se usar perde qualquer conteúdo.
Contudo, em cidades em que a Esquerda Marxista detém influência sindical, nossos camaradas lideraram e compuseram atividades no dia 22. Com a venda do jornal Foice&Martelo, a distribuição de panfletos e falas públicas, buscaram dar às manifestações, paralisações e plenárias uma substância revolucionária. Denunciaram os ataques do governo, mas sem recorrer a saudosismo ao anterior ou à postura de enaltecer Lula visando 2018. A saída assinalada foi a luta sem trégua para derrubar o chefe do Executivo, juntamente com o Congresso Nacional. E ressaltaram que por esse caminho criavam-se condições para a formação de assembleias populares em nível nacional para constituir um governo dos trabalhadores. Nas assembleias de categorias, apresentamos moções para votação que exigem da CUT nenhuma negociação dos ataques trabalhistas e sociais com o governo Temer.
Em São Paulo, de onde vinham grandes expectativas, a agenda sindical dos professores e outras categorias de servidores salvou a cara dos dirigentes, mas com um público muito inferior aos 30 mil divulgados pela entidade. O coletivo Educadores Pelo Socialismo, impulsionado pela Esquerda Marxista, integrou a atividade, embora as falas públicas tenham sido dominadas pelos dirigentes cutistas tradicionais. Esses fizeram uma defesa da política de Lula, ao invés de se limitar à denúncia das ações de criminalização seletiva por parte da Operação Lava Jato.
Em Joinville, houve uma paralisação liderada por nossos militantes do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Joinville e Região (Sinsej) e do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinte – Joinville). O evento concentrou na Praça da Bandeira cerca de 300 pessoas, entre funcionários da prefeitura e estaduais, estudantes e manifestantes. Após uma passeata pelas ruas da cidade, ocorreu um seminário que esclareceu as contrarreformas já sofridas pela previdência, e as que se avizinham, lotando o auditório dos municipários.
Já na capital catarinense, os dirigentes marxistas do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem) organizaram uma assembleia em frente à Câmara de Vereadores, realizando uma marcha para unificar o protesto a outras categorias na Praça XV. Em Bauru, o vereador da Esquerda Marxista Roque Ferreira integrou a manifestação na cidade junto com nossos militantes.
Em Cuiabá, uma manifestação reuniu cerca de 1500 pessoas, com a participação da Esquerda Marxista no piquete de mobilização do Sindicato dos Trabalhadores Técnicos e Administrativos da UFMT (Sintuf-MT). Relato de nossos camaradas enfatizam um grande ânimo dos trabalhadores, mostrando o potencial do protesto, que não foi maior pela falta de iniciativa de mobilização da CUT na região.
Já em Recife o cenário descrito foi o oposto. Com concentração em frente à Federação das Indústrias de Pernambuco, o público carimbado de cerca de três mil pessoas assistiu a um discurso eleitoral de Lula, que realizava um giro de campanha pelas capitais do Nordeste. Sem pontuar nada concretamente, o ex-presidente se colocou mais uma vez submisso às instituições burguesas, enfatizando que a atuação do Ministério Público era mérito do seu governo e do de Dilma, sob a alegação de que em todo lugar havia gente boa e gente ruim.
Desde que Dilma Rousseff teve formalizada sua remoção da chefia do Poder Executivo, em 31 de agosto, a quantidade de manifestantes pelo “Fora Temer” tem diminuído ato após ato. E isso embora o governo tenha apresentado e encampado medidas violentas contra os direitos, as conquistas e as condições de vida da classe trabalhadora brasileira. De um ápice de 100 mil apenas na Avenida Paulista dia 4 deste mês, as mobilizações esvaziaram para alguns milhares nas seguintes, os quais se perguntam os motivos de isso estar acontecendo.
O “esquenta” do dia 22 de setembro foi arquitetado para ficar em descompasso com a situação política. As greves de importantes categorias cujos sindicatos são dirigidos pela CUT, como professores, bancários, metalúrgicos e petroleiros, foram organizadas para iniciar em datas distintas. Além disso, as palavras de ordem apresentadas buscaram direcionar a luta política para dentro das instituições burguesas desmoralizadas. Livraram a cara do Congresso Nacional, e levantaram a reforma política da República em decomposição como solução, em um momento em que milhões de trabalhadores e jovens passam a sentir a necessidade de construir algo novo.
Como já analisamos em outros artigos e editoriais, os ativistas e jovens que foram às ruas desde o início do mês ficaram cansados e enjoados com a orientação e a política dos dirigentes das organizações tradicionais dos movimentos sociais. Os manifestantes esperavam um plano de guerra para derrotar o governo Temer e seus aliados, que inclui o desmoralizado Congresso Nacional. Ao invés disso, o que receberam foram convocações novas manifestações de rua e de “atos show”. E o conteúdo dado a essas atividades contemplava espaço para propaganda eleitoral dos candidatos petistas, saudações a Lula e o direcionamento da revolta coletiva para eleições dentro do mesmo sistema eleitoral existente, e somente para presidente.
Essa perspectiva desanimou os milhares que foram às ruas, e outros milhões que não dão seu apoio a este governo. Já as categorias dirigidas por sindicatos cutistas veem a anos seus líderes sindicais converterem-se em burocratas, em uma casta aristocrática distanciada da realidade das pessoas que dizem representar. Esse movimento fica em evidência quando grandes acontecimentos se descortinam em nível nacional, provocando a aparição de novos cenários e personagens na situação política. Contudo, isso não significa que os ativistas de vanguarda que saíram das ruas, assim como a classe trabalhadora e a juventude, tenham sido derrotados ou sintam-se assim. Ocorre que esse movimento em desenvolvimento ainda não encontrou um canal de expressão claro e duradouro.
Diante disso, assim como a lava vulcânica em ebulição busca os pontos de menor resistência na crosta terrestre, e se manifesta pelas por suas frestas, a situação política na sociedade se expressa em lutas econômicas, que adquirem proporções inimagináveis para tempos anteriores. Isso devido ao protagonismo de trabalhadores e da juventude que passam, ainda de forma confusa, a buscar moldar seu futuro eles próprios. Foram a materialização desse processo as manifestações que tomaram as ruas do país em junho de 2013, as ocupações de escolas em vários estados em 2015 e 2016, as greves de massa dos últimos anos, as ocupações de algumas fábricas paulistas neste ano, o derretimento da autoridade do PT, as manifestações contra o ajuste fiscal e a direita, os protestos espontâneos contra o governo Temer, e o crescimento da influência do PSOL nos grandes centros políticos do Brasil.
A greve geral, uma das tantas ferramentas políticas forjadas pelo proletariado em sua história, poderia ser uma forma de confluir essas expressões localizadas e ainda desarticuladas. Porém, por instinto, os dirigentes instituídos da classe trabalhadora fogem dessa perspectiva. O fazem porque foram alçados às entidades dos movimentos sociais em momentos de refluxo da luta de classes. Desprovidos das ideias do marxismo, forjaram uma concepção formalista sobre a sociedade capitalista e sobre os processos sociais. Agora que a situação política está virando, de um momento de relativa estabilidade para outro com características pré-revolucionárias, suas ideias erradas se chocam com a realidade. E eles, assim como a política que formulam, se tornam obstáculos para o movimento se desenvolver para a transformação da ordem social.
Novos “esquentas” estão sendo prometidos pela direção da CUT. Para que uma greve geral realmente se realize nas próximas semanas ou meses, a classe trabalhadora precisará entrar em cena por suas próprias reivindicações, obrigando seus dirigentes tradicionais, em nível nacional e regional, a segui-la ou serem colocados à margem e substituídos. Os ataques anunciados e em curso pelo governo Temer, em conjunto com os capitalistas, oferecerão as condições para que isso se desenvolva. Assim como fizeram neste dia 22, os militantes da Esquerda Marxista atuarão como elementos mais ativos dessas lutas sociais, ressaltando sempre os interesses gerais e comuns da classe trabalhadora. E isso passa por enfatizar uma saída revolucionária para a situação, o que torna inevitável esclarecer o real caráter e papel das direções políticas que levaram ao fracasso do “Dia Nacional de Paralisação rumo à greve geral”.