Inicialmente chamada como Greve Geral, mobilização convocada para dia 22 prossegue hesitação da direção da CUT em enfrentar os ataques do governo.
O próximo dia 22 será um “Dia Nacional de Paralisação e Mobilização das Categorias”, afirma nota publicada no site da CUT em 12/09. Dois dias depois, nova nota chama a data de “esquenta” para a Greve Geral. Expectativa de grande adesão, afirma a Central, embora reconheça que pode contar com alguns sindicatos ligados ao serviço público, em particular da saúde e educação. Ou seja, não se percebe um real esforço de colocar os batalhões pesados da classe (operariado) na rua neste dia. Mas um dia uma greve geral vai acontecer…
Exemplo dessa disposição encontramos em Santa Catarina. Na cidade de Joinville, maior cidade operária do estado, estão chamando a paralisação o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Joinville – da rede estadual, dirigidos por militantes da Esquerda Marxista e independentes. Ao serem contatados, os sindicatos operários, dirigidos pela Articulação, respondem com evasivas. “Vamos levar os dirigentes liberados para uma palestra do DIEESE”, explica o coordenador da regional. Ou seja, nem um esforço de levar a discussão e a proposição de paralisação para o chão das fábricas.
Fica evidente que a perspectiva da Greve Geral, há meses presente nas notas da direção da CUT, fica cada vez mais distante, num horizonte imperceptível. Enquanto isso, os grupos disputam posições no interior da direção. Enquanto alguns defendem ardorosamente a construção de fato da greve, outros inclinam-se a negociar com o governo Temer – como se fosse possível um pacote “menos pior” de ataques aos direitos dos trabalhadores.
Enquanto a direção da Central titubeia, o governo não perde tempo. Em matéria publicada na Folha, na data de 19/09, o Ministro Henrique Meirelles afirma: “Esse é um processo gradual. Esperamos que a PEC [do teto de gastos] seja aprovada este ano. E a previdência será um assunto para o primeiro semestre de 2017.” No mesmo dia, o Ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, após sair de evento na BM&F, também declarou a intenção do governo de ver a contrarreforma da previdência aprovada já no início de 2017 (http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/Politica/2016/9/598184/Padilha-preve-votacao-da-reforma-da-Previdencia-concluida-no-1-semestre-de-2017). Mais prático, Padilha desenha o cenário: “Temos uma base parlamentar entre 380 e 400 deputados. Temos, portanto, folga. Nossa articulação no Congresso é muito bem conduzida pelo ministro Geddel (Geddel Vieira) e pelo líder do governo.”
Não há espaço para hesitação.
Em 2003 os servidores públicos pagaram um preço muito alto pelo vacilo da direção da CUT em convocar a greve e a ocupação de Brasília. Confiantes na sua capacidade de “negociar” com o governo e fazer lobby nos gabinetes do Congresso, a direção da Central trocou a Unidade, Organização e Luta da classe trabalhadora pela disputa burocrática num espaço que é dominado pela burguesia. Tarde demais, percebeu seu erro. Quando milhares e milhares de trabalhadores chegaram à Brasília, a matéria estava liquidada, em votações aceleradas na madrugada adentro. Os servidores encontraram um Congresso vazio, com deputados e senadores já bem longe da capital. Hoje, carregamos a herança de uma aposentadoria já rebaixada, fruto da inércia do maior aparelho de luta de que dispomos na atualidade.
A direção da CUT não tem o direito de errar novamente. É preciso organizar a resistência aos ataques colocados. É preciso, também, eleger uma direção à altura dessa tarefa histórica que se coloca para os trabalhadores brasileiros. Mas, acima de tudo, é preciso afastar radicalmente toda adaptação aos aparelhos, o pessimismo que tomou conta dos velhos dirigentes, a crença no “nosso projeto” que só serviu para legitimar governos que nunca ousaram romper de fato com o patronato e com a exploração do sistema capitalista.
À luta, companheiros!