O doloroso esquecimento

Depois de apenas uma semana do recuo em algumas regiões, a Matriz de Risco Potencial no estado de Santa Catarina retornou a ter 15 das 16 regiões listadas com situação gravíssima para transmissão da Covid-19. A decisão de tirar duas populosas regiões do estado do patamar gravíssimo levou à diminuição das medidas restritivas e não considerou a lotação das UTIs que continuavam em situação gravíssima nessas regiões.

Em 15 de maio, quando foi apresentada a matriz de risco retirando duas grandes regiões do nível gravíssimo, essas localidades apresentavam nível alto para óbitos, grave para transmissibilidade e monitoramento e gravíssimo para lotação de UTIs. Mesmo com a situação em níveis descontrolados e com o sistema de saúde esgotado, o Governo do Estado optou por avaliar que essas regiões poderiam flexibilizar as medidas de segurança.

Já na semana seguinte (dia 22 de maio), a atualização da Matriz de Risco mostrou novamente que não é o momento de flexibilização e sim de aumento das medidas restritivas. As regiões voltaram a ter elevação no número de óbitos e na variação do número de casos, retornando ao nível gravíssimo. No último fim de semana, o estado registrou 80 óbitos e 4.104 novos casos da doença. Nesse ritmo, Santa Catarina deverá alcançar a marca de 1 milhão de casos da doença nos próximos dias

Em 25 fevereiro de 2021 o estado completou um ano do registro dos primeiros casos da doença. Nessa ocasião, 7.114 pessoas já haviam perdido a vida em decorrência das complicações causadas pelas Covid-19 em Santa Catarina. 90 dias depois o número de mortos mais que dobrou, somando 14.822 vidas ceifadas pelo vírus com a ajuda eficaz do governo, que em nenhum momento optou por medidas capazes de proteger a vida dos trabalhadores, permitindo sorrateiramente o aumento absurdo de 148% no índice de letalidade da doença nesse período. 

A flexibilização dos decretos, que já apresentavam medidas quase nulas contra a propagação do vírus, traz também uma falsa tranquilidade à população que equivocadamente acredita na redução da transmissão, gerando uma traiçoeira sensação de segurança, que não condiz com a realidade dos números apresentados pelas autoridades em saúde. Os trabalhadores são induzidos pela política de Estado a esquecer do perigo, mas a morte de um entes queridos rodeia a vida dos trabalhadores e a realidade dos fatos torna o esquecimento doloroso, profundo e insano. 

No mesmo momento em que se diz preocupado com a previsão da chegada de uma nova onda e o agravamento da crise sanitária nos próximos dias, o governador do estado Carlos Moisés da Silva (PSL) assina decretos com medidas restritivas que não podem garantir a diminuição da transmissão do vírus e não combatem à pandemia. Ao ser entrevistado quando visitava Criciúma, Moisés declarou:

“Como é uma doença da sociedade, do coletivo, nós temos que agir na coletividade e atuando na prevenção, acreditando na ciência, esperando a vacina e acelerando o processo de vacinação”

Convém lembrar que, dos mais de 7 milhões de habitantes do estado de Santa Catarina, apenas 1.466.950 foram vacinados, e destes somente 709.597 receberam a 2º dose, conforme Boletim de Vacinação divulgado no último dia 21. Depois de quatro meses do início da Campanha de Vacinação no estado, apenas 10% da população encontra-se imunizada.

Há algo que cheira a podre na declaração do nosso “ilustre” governante quando tenta falsificar a verdade e dividir com os trabalhadores a culpa pela transmissão e a responsabilidade de prevenção contra a doença. Esquecendo a realidade da população pobre, aqueles que por nenhum segundo conseguem se desvencilhar do caráter explorador do sistema capitalista para proteger suas vidas e de seus familiares. Nas fábricas, nos refeitórios, no comércio, no transporte coletivo, os trabalhadores não têm outra alternativa senão a de se expor ao vírus para garantir sua subsistência, e não existe malabarismo político capaz de despejar nas costas destes a culpa pelas mortes e pela propagação acelerada do vírus.  

Há uma grande diferença entre aqueles que são enganados por declarações falsas ou que por necessidade de sobrevivência não podem cumprir as medidas de isolamento e prevenção, e os trapaceiros políticos que têm em suas mãos as ferramentas necessárias para proteger a vida da classe trabalhadora e não o fazem. Logo, não é possível aceitar que a culpa desse desastre seja dividida coletivamente.

Simultaneamente a esse cenário monstruoso, os sindicatos se calam e partidos que se intitulam defensores dos trabalhadores, não veem problema nenhum em fazer lobby de suas candidaturas para 2022, pregando a paz e a conciliação, enquanto os capitalistas sugam o sangue dos pobres. Mostram-se cada vez mais adaptados ao poder do estado burguês.

Diante da morte de milhares de trabalhadores, qualquer partido ou entidade que se diga socialista e se recuse a organizar a classe trabalhadora para a derrubada desse sistema, é traidor, mente, desfere frases vazias convenientes para esconder que está do outro lado, conciliando com a burguesia e sendo co-autor desses assassinatos.

Inevitavelmente chegará a hora do desfecho, os trabalhadores organizados tomarão o poder e não esquecerão de lembrar-se dos mentirosos, dos falsificadores, dos trapaceiros e dos traidores de classe. Para os trabalhadores a vitória nunca foi fácil e é nessa hora que a nossa união, nossa confiança na nossa classe e nosso compromisso com permitir um futuro para humanidade só nos dá uma alternativa, a necessidade de nos organizarmos e de construir outro mundo.