No chamado “cinturão verde” da região metropolitana de São Paulo, cerca de 7 mil médios e grandes produtores respondem por 25% do abastecimento de verduras para todo o país e por cerca de 90% das verduras e 40% dos legumes consumidos na capital paulista.
As medidas ainda muito frouxas de quarentena no estado têm atingido duramente esse setor por conta do fechamento de bares e restaurantes na maior cidade do país. A estimativa é de retração de algo entre 70% e 80% das vendas. Sem conseguir vender, boa parte desses produtores está enterrando parcialmente as culturas para utilizar como adubo. São toneladas de alimentos destruídas.
Um empresário que produz hortaliças, Fábio Sussumu Hagio, declarou ao jornal Folha de S. Paulo: “Eu vendia 10 mil maços de almeirão, alface, agrião e rúcula em uma semana e na outra passei a vender 500. Com essa queda foi inevitável fazer o descarte dos alimentos. Cerca de 70% da produção foi jogada fora.” Uma outra empresária, Simone Silotti, disse ao mesmo jornal: “Eu tenho 4 toneladas de alface, agrião e rúcula que poderiam ser destinadas para doação toda semana, mas não temos como arcar com os custos para fazer com que esses alimentos cheguem até quem precisa.”
Esses empresários do setor de alimentos apresentam o nó da questão: a sociedade capitalista não está economicamente organizada para atender às necessidades das pessoas, mas para realizar o lucro dos proprietários. Temos numa ponta toneladas de alimentos frescos sendo descartadas diariamente e, na outra ponta, milhões de pessoas sem terem o que comer. Muitas vezes, a distância entre uma ponta e outra é de apenas alguns quilômetros, mas a solução aparentemente simples não é adotada por não ser lucrativa.
Somente a planificação da economia sob controle dos trabalhadores poderia ordenar a produção e a distribuição para frear o desperdício e garantir que todos tenham acesso ao que por todos é produzido.
Mas, antes mesmo de tomarmos o poder e planificarmos a economia, algumas medidas poderiam ser tomadas para remediar a anarquia capitalista nesses pontos críticos. Entretanto, o governador de SP, João Doria – que tenta vender uma imagem de opositor a Bolsonaro, depois de ter usado o slogan “BolsoDoria” para se eleger há apenas 1 ano e meio – vê toneladas de alimentos serem destruídas diariamente e não faz nada!
A produção desses alimentos poderia ser expropriada pelo Estado e colocada em centros de distribuição gratuita para as famílias desempregadas, por exemplo. Essa operação, por si só, geraria empregos, e o investimento necessário para isso poderia ser retirado do montante que é usado hoje para pagar juros e amortização da dívida pública federal, que é fraudulenta, já foi paga e não passa de um sistema de saque do dinheiro público em benefício dos bancos e especuladores.
Enquanto essas toneladas de alimentos estão sendo destruídas, o governo federal enrola para liberar o pagamento do auxílio-migalha de R$ 600 aos trabalhadores de baixa renda ou sem renda. Acumulam-se aos milhares os casos de pedidos do auxílio negados por motivos absolutamente improcedentes. Não há canal para que se possa recorrer da decisão, que é comunicada ao trabalhador pela internet. Os que tiveram seu pedido aprovado minguam numa espera de semanas. A muitos só resta a opção de romper o isolamento social e ir buscar trabalho. Uma enorme parcela da população está submetida ao dilema: morrer de fome ou se arriscar a morrer pela Covid-19.
E quando não conseguirem mais ocultar as milhares de mortes por Covid-19 que estão ocorrendo por todo o país? E quando o sistema funerário de várias cidades colapsar e os corpos começarem a se acumular? E quando as famílias que estão tendo o auxílio-migalha de R$ 600 negado não tiverem outra opção senão saquear mercados, lojas?
O programa emergencial para a crise no Brasil, elaborado pela Esquerda Marxista, traz como primeiro ponto justamente o fim do pagamento da dívida pública. É esse programa que está sendo debatido, propagandeado e agitado pelos Comitês de Ação “Fora Bolsonaro”, que estamos impulsionando em várias cidades do Brasil, inclusive no estado de SP e na capital paulista. Junte-se a nós neste combate!