As últimas pesquisas das eleições municipais em São Paulo têm apontado um resultado que, antes do início da disputa, seria considerado inusitado. O líder nas pesquisas é Celso Russomanno, um candidato com apenas 2 minutos e 11 segundos no programa eleitoral da TV, do pouco conhecido Partido Republicano Brasileiro.
As últimas pesquisas das eleições municipais em São Paulo têm apontado um resultado que, antes do início da disputa, seria considerado inusitado. O líder nas pesquisas é Celso Russomanno, um candidato com apenas 2 minutos e 11 segundos no programa eleitoral da TV, do pouco conhecido Partido Republicano Brasileiro.
Números das pesquisas
A pesquisa do Datafolha divulgada em 5 de setembro anunciou o seguinte cenário: Russomanno 35%, Serra 21%, Haddad 16% das intenções de voto. Para entendermos o movimento do processo, recordemos que em relação à pesquisa do Datafolha divulgada em 21 de julho, Serra caiu 9%, Russomanno subiu 9% (ultrapassando Serra) e Haddad também subiu 9%.
A subida de Haddad certamente tem relação com o início da propaganda de rádio e TV que tornaram o candidato mais conhecido dos eleitores, relacionando-o com Lula e Dilma.
Outro dado importante é a grande rejeição de Serra, 42% dos entrevistados não votariam no candidato do PSDB de jeito nenhum. Num possível segundo turno entre Serra e Haddad, o candidato do PT venceria, mas ambos perderiam caso enfrentassem Russomanno no segundo turno.
Quem é Russomanno?
Russomanno ganhou certa fama na década de 90 apresentando um quadro de defesa do consumidor em um programa sensacionalista de TV. Como se tornou comum entre esportistas, cantores e “artistas” em decadência, usou a fama conquistada como trampolim político, foi eleito Deputado Federal em 94 pelo PFL (atual DEM), passando pelo PSDB e pelo PP de Maluf, legenda com a qual concorreu o cargo do governo de São Paulo em 2010.
Portanto, sua trajetória política é marcada pelos partidos de direita, conservadores, que defendem descaradamente os interesses da burguesia.
Através de sua atuação parlamentar, apresentou uma emenda em 2010 que destinou R$ 1,1 milhão para a ONG da qual é presidente e administra junto com familiares. Ligações telefônicas também o relacionaram ao bicheiro Carlinhos Cachoeira, em uma das conversas Russomanno é citado como detentor de 7 milhões de reais em uma conta operada pelo grupo de Cachoeira.
O que é o PRB?
Em 2011, Russomanno saiu do PP e ingressou no PRB. Este partido foi criado em 2003 e nele ingressou o vice-presidente José de Alencar, que havia integrado o primeiro mandado do governo Lula, eleito em 2002, pelo PL.
É um partido burguês e a serviço dos interesses da burguesia. Em seu programa podemos ler:
“O direito ao trabalho remunerado, como única fonte de sobrevivência digna para os que nasceram sem herança, é entendido como em pé de igualdade com o direito à propriedade privada, sendo dever do Estado garantir as condições macroeconômicas capazes de assegurá-lo a todos os cidadãos aptos e dispostos a trabalhar.”
E segue:
“É dever do Estado promover o desenvolvimento econômico do País e criar as condições macroeconômicas para que, em regime de capitalismo regulado, e combinando a força da iniciativa privada com o planejamento estratégico indicativo governamental, todo o potencial material e humano da sociedade seja mobilizado, seguindo critérios razoáveis de responsabilidade ambiental, para a criação de renda, de riqueza e de postos de trabalho, com adequada retribuição do capital e do trabalho, e sob o ordenamento de um sistema fiscal e tributário moderno, justo e equitativo.”
Ou seja, o programa é um palavreado que tenta embelezar o capitalismo, como se esse sistema pudesse ser regulado, propiciar o pleno emprego, a responsabilidade ambiental, etc.
O PRB tem fortes ligações com a Igreja Universal do Reino de Deus, liderada pelo Bispo Edir Macedo. O presidente do partido é um bispo licenciado da Universal, os sacerdotes da igreja, quando se lançam em disputas eleitorais, utilizam a legenda.
O pouco tempo de TV de Russomanno foi compensado com a exposição do candidato, antes do período eleitoral, pela TV Record, também ligada à Igreja Universal, na qual apresentava um quadro de defesa do consumidor.
A igreja tem jogado um peso importante movendo seu batalhão de fiéis na campanha e utilizando os cultos para propaganda do candidato. Recentemente, outra igreja evangélica aderiu, a Assembleia de Deus Magistério. Renato Galdino, considerado coordenador político dessa igreja, antes filiado ao PSDB e recém-convertido ao PRB, expôs que: “O objetivo de cada pastor é trazer no mínimo 100 votos para o Celso”.
Esse fenômeno expõe a perigosa relação entre religião e política, operação que obviamente não é privilégio de igrejas evangélicas, mas que pode ser visto na história da igreja católica, islâmica e outras. Essa mistura desvia a luta entre classes sociais para uma luta entre crenças religiosas. Jogando, muitas vezes, trabalhadores contra trabalhadores.
A fé de pessoas sinceras é utilizada para alavancar, na política, carreiras e projetos conservadores, que não tem nada a ver com os interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora. Mas sim o prosseguimento da dominação de uma classe parasitária sobre a maioria do povo explorado.
O resultado da conciliação de classe…
O PRB é da base aliado do governo Lula e Dilma. O vice de Lula era desse partido. O PRB foi mais uma das cobras criadas e alimentada pela política de colaboração de classes.
Haddad, o candidato do PT em São Paulo, apesar de ter ganhado votos com o início da propaganda na TV e Rádio, não tem conseguido decolar substancialmente. De 29 de agosto para 5 de setembro, enquanto Russomanno subiu 4%, Haddad subiu apenas 2%.
Certamente, a foto do aperto de mão entre Lula e Maluf, com Haddad no meio, no início da campanha pra selar a aliança entre PT e PP, não foi um fator que ajudou na campanha do PT, mas sim, a levar uma séria de militantes petistas à apatia e desmoralização.
A política de colaboração de classes não só tem levado à derrota eleitoral do PT em diversas cidades, mas também a um rumo do governo federal em que as bondades aos empresários tem sido ilimitadas, enquanto para os trabalhadores tem sobrado a recusa no atendimento das reivindicações e os ataques.
O surgimento de Russomanno como líder das pesquisas demonstra, por um lado, a repulsa ao representante tradicional da burguesia, José Serra e o PSDB, e a busca por uma alternativa. Falsamente Russomanno aparece como uma alternativa, por posar como o justiceiro dos pobres, que vai e resolve o caso como em seus programas de TV.
O PT, com um candidato pouco conhecido, com a verdadeira militância desanimada e substituída por cabos eleitorais pagos, tem sofrido para decolar. Mas uma vitória de Haddad não é uma hipótese a ser descartada, os trabalhadores podem se utilizar novamente de seu partido tradicional, o PT, para derrotar a direita no terreno eleitoral, assim como ocorreu com a vitória de Dilma em 2010.
Dizem que São Paulo é uma cidade conservadora, mas foi essa cidade que elegeu Erundina como prefeita em 1988, sendo ela nordestina, mulher e candidata do PT. As derrotas do PT são frutos dos erros da direção do partido, não de um suposto conservadorismo intrínseco ao povo paulistano.
A saída para os trabalhadores em São Paulo, não está nem em Serra/Kassab, nem em Russomanno. A saída imediata é eleger o PT e batalhar pela ruptura da coalizão com a burguesia, construindo com a organização e a mobilização necessária de nossa classe, um governo socialista dos trabalhadores em São Paulo, no Brasil e no mundo.