A revolução social ainda não foi concluída; e quem faz uma revolução pela metade, está abrindo sua própria cova. (Roberspierre em A morte de Danton, de Georg Büchner)
No dia 20 de maio, mais de nove milhões de venezuelanos participaram do processo eleitoral que reelegeu Nicolás Maduro à presidência do país. Apesar dos inúmeros ataques da oposição reacionária e do imperialismo norte-americano, a classe trabalhadora venezuelana demonstrou mais uma vez que ainda tem energias para salvar a revolução. Maduro foi eleito com 67,7% dos votos, contra 21,2% de seu opositor, Henri Falcón, do partido Avançada Progressista, em um processo em que o número de abstenções foi o que mais chamou a atenção: cerda de 40% dos eleitores compareceram às urnas, sendo que nas eleições de 2013, esse número foi de 80%. Parte desta queda da participação se explica pelo boicote organizado pela direita, que buscou deslegitimar o pleito, e parte se explica pela diminuição da participação das camadas mais proletárias da população.
Entretanto, essas eleições também deram sinais de que sem a expropriação completa da propriedade privada dos grandes meios de produção, podemos ver novas ondas de mobilizações das massas contra o imperialismo, a oposição e, se a situação não melhorar, até mesmo contra Maduro.
Eleições em meio à crise
É preciso compreender que a campanha da direita resultou na diminuição da participação dos mais ricos, dos apoiadores da direita, mas não ganhou as demais camadas da população. O que ficou evidente é que os que votaram em Maduro eram os apoiadores históricos do chavismo ou aqueles que depositaram um voto de confiança e, ao mesmo tempo, deram um recado de que essa será a última vez que vão esperar que o governo resolva os problemas do país.
O que explica o atual ânimo das massas é o agravamento da crise econômica que atinge a Venezuela, o que pode ser visto no salário mínimo, que está na faixa de pouco mais de dois milhões de bolívares, enquanto um quilo de arroz custa um milhão e meio e um quilo de carne custa quatro milhões. Essa situação era remediada com cestas básicas subsidiadas pelo governo, mas que começaram a escassear com o agravamento da crise. Com o pagamento contínuo da dívida externa, as reservas de moedas estrangeiras no país esgotaram, resultando na diminuição drástica das importações, o que explica a falta de alimentos e remédios.
Soma-se aos apagões, cortes de água, falta de serviços e produtos básicos, um governo que busca conciliar justamente com a burguesia responsável pela situação em que se encontra o país hoje. O principal erro de Maduro está em não seguir o caminho de rompimento com a burguesia e cedo ou tarde pagará por isso.
Revolução ameaçada
O anúncio das eleições na Venezuela foi precedido de uma campanha dos EUA e da União Europeia para que se cancelasse o processo eleitoral “fraudulento”. O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, exigiu, no dia 7 de maio, a suspensão das eleições do dia 20 e pediu eleições “justas”.
No dia 21, o jornal El País divulgou a declaração do senador republicano norte-americano, Marco Rubio, afirmando que “apoiava ‘todas as ações políticas’ para devolver a democracia à Venezuela”. Fizeram coro com o senador os presidentes dos países do chamado Grupo de Lima, formado pelos governos da Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Peru, entre outros, que não reconheceram o processo eleitoral como legítimo.
A hipocrisia da burguesia é tanta que não apenas os EUA, país da Doutrina Monroe e do Big Stick, das guerras no Vietnã, Iraque, Irã etc, mas até o governo brasileiro, de Michel Temer, ousou chamar um processo eleitoral de ilegítimo.
Porém, o que está por trás dessas declarações é o que realmente importa. Após a derrota e desmoralização da oposição no final de 2017, o imperialismo, que se utiliza inclusive dos países dominados vizinhos da Venezuela, começou a pressionar com mais força para acabar de uma vez por todas com a revolução. Na atual conjuntura, novos golpes como o ocorrido em 2002 não estão descartados.
A tarefa das massas
As concessões de Maduro à classe dominante só podem resultar na desmoralização e no agravamento da crise, concluindo com um plano de ajuste fiscal que arrancará tudo o que foi conquistado pelo operariado.
O fator decisivo nesse processo é a classe trabalhadora. Somente as massas podem construir novas organizações e direções, capazes de ir até o fim na expropriação do capital e tomar o poder em suas mãos. A principal tarefa da vanguarda revolucionária é atuar na construção dessa alternativa verdadeiramente revolucionária, baseada em um programa genuinamente socialista. Publicamos as principais, mas reafirmamos todas as consignas apresentadas no artigo ‘Venezuela: a contrarrevolução que avança e os meios de combatê-la’, publicado no Foice & Martelo 109, de 31 de agosto de 2017:
Não pagamento da Dívida Externa!
Dinheiro para comida, salários e saúde!
Reforma Agrária e expropriação dos bancos e grandes empresas!
Viva a Revolução Venezuelana!