Rafael Prata
As empresas concessionárias do transporte público de Campinas – verdadeiro cartel que explora os trabalhadores com baixos salários e altas jornadas, que mantém a tarifa como uma das mais caras do Brasil por km rodado – entrou em pé de guerra com os rodoviários.
Como resposta, a categoria decidiu ir à luta, mas o direito de greve ficou só no papel. Os empresários, o Judiciário, a Prefeitura e a Mídia se uniram para atacar o direito de greve dos trabalhadores.
Os dois dias de paralisação mostraram o poder de mobilização da categoria. Somente cerca de 14% dos 1241 veículos da frota circularam pelas ruas da cidade e os piquetes nas garagens das empresas foram determinantes para isso.
Sem querer negociar, os empresários buscaram reverter a greve no tapetão. Duas Audiências (teoricamente, “de Conciliação”) foram convocadas e o presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, desembargador Renato Buratto, simplesmente determinou que 70% da frota rodasse nos horários de pico e 50% nos horários normais e ameaçou multar o sindicato em R$ 50 mil por dia em caso de descumprimento da ordem. Imaginando que, mesmo assim, a assembleia dos rodoviários pudesse rejeitar a decisão, o magistrado ordenou ainda cortar o ponto dos trabalhadores que permanecem em greve.
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Trabalhadores na Audiência de conciliação do TRT Campinas |
Um absurdo! Um sério ataque ao direito de greve e de organização sindical da categoria, afinal, como é possível fazer uma paralisação com mais da metade da categoria trabalhando? Como é possível ao sindicato manter uma greve, ameaçado por pesadas multas? E que direito tem o trabalhador de aderir a uma paralisação se tiver o salário cortado?
Para pressionar ainda mais pelo encerramento da greve, o golpista prefeito-tampão de Campinas, Pedro Serafim (PDT), esteve pessoalmente na Audiência. O mesmo prefeito que se recusa a negociar com os servidores municipais que estão em campanha salarial, estava lá na Audiência ao lado dos empresários. Claro, estamos em ano eleitoral e Serafim precisa de dinheiro para sua campanha…
Já a mídia de Campinas mostrou novamente sua verdadeira face: não passa de boca de aluguel da burguesia, da Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campinas (Transurc), afinal, acusou os grevistas de estarem provocando o caos no trânsito da cidade e ficou medindo o tamanho dos congestionamentos. Porém, “esqueceu” de informar alguns detalhes, tais como: as perdas salariais acumuladas pelos rodoviários, os baixos salários, as altas jornadas, as péssimas condições de trabalho, etc. Os rodoviários denunciaram que, em alguns terminais, não há banheiros e nem cozinha e os trabalhadores são obrigados a esquentar a marmita no motor dos veículos!
Os culpados pelo caos no trânsito de Campinas não são os rodoviários, são os empresários do transporte que lucram em cima de um sistema que deveria ser público; são os governos que reformam os terminais, mas não pensam nos trabalhadores, que aumentam o preço da tarifa e fazem de tudo para colaborar com a Transurc.
Os rodoviários, acossados por todos os lados, tiveram que recuar: reajuste de míseros 7% no salário e no tíquete refeição e R$ 440,00 de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Conversando com um cobrador, ele me disse que o reajuste representa apenas R$ 33,00 a mais no salário.
Os trabalhadores passaram por uma dura experiência, mas não devem desistir de seus direitos. Se a burguesia se uniu para atacar os rodoviários em luta, os trabalhadores de todas as categorias também deveriam se unir para defendê-los. De que adiante realizar um ato unificado no 1º de Maio em Campinas, se isso não se transforma em solidariedade de classe logo no primeiro combate sério que um setor realiza contra os exploradores?
A CUT deve combater pela unidade da classe trabalhadora, convocando todos a lutar pelas reivindicações, mesmo que esta ou aquela entidade sindical esteja filiada a outra central. Divergências existem, mas não podem ser um empecilho para estabelecer uma luta comum contra os exploradores.
O PT, a mesma coisa. Além disso, se o prefeito foi lá dar bronca nos trabalhadores, a bancada do partido na Câmara também deveria ir lá, mas para dar bronca no prefeito! Senão, fica parecendo que nenhum vereador, nenhum partido, se importa com os rodoviários.
Já a Esquerda Marxista de Campinas, manifesta seu apoio aos rodoviários e o repúdio à Transurc, ao Judiciário, à Prefeitura e à Mídia e defende a estatização do sistema de transporte coletivo, para quebrar o poder econômico dos empresários, que manda e desmanda nas instituições “democráticas” e para fortalecer o poder dos rodoviários, pois sem eles, nenhum ônibus circula e, sem eles, é impossível construir um sistema de transporte coletivo público que atenda com dignidade a população e a juventude.