O Encontro do PT de Pernambuco ocorreu nos dias 23 e 24 de abril em Recife e mostrou na prática como as pressões da base contra a política de alianças sem princípios se manifestam.
A direção do PT aplica nacionalmente há anos, principalmente após a reeleição de Lula, uma política de aliança com partidos historicamente inimigos dos trabalhadores. Essas alianças vêm gerando cada vez mais insatisfação dos petistas que percebem que com esses “aliados” não é possível enfrentar a direita e defender os interesses dos trabalhadores. A base do partido mesmo que insatisfeitas com os Collors, com os Temers, Sarneys, não rompe de forma mecânica com as direções que se forjaram durante anos de lutas, para depois enveredarem para o reformismo.
Durante o Encontro do PT de Pernambuco os militantes da Esquerda Marxista intervieram com firmeza combatendo a política reformista de aliança com a burguesia.
O Encontro havia sido organizado para ser uma grande festa de apoio do PT à reeleição do governador Eduardo Campos do PSB, inclusive com a sua presença. Mas o chopp esquentou, a música não tocou e a festança virou lambança.
A primeira discussão em plenário foi no sábado pela manhã. Na discussão duas posições foram a voto: uma defendendo a aliança do PT com o PSB e a outra defendendo candidatura própria do PT ao governo de PE, portanto a ruptura da aliança com o PSB.
Na defesa das propostas seis forças políticas se colocaram para defesa das posições. Para falar contra a aliança com os burgueses se inscreveram os representantes das tendências internas ASD, OT e Esquerda Marxista. A favor das alianças, se inscreveram: a CNB, Novo Rumo e PTLM. A Articulação de Esquerda e DS não defenderam propostas, mas votaram pela aliança com o PSB contra a candidatura própria do PT.
Faustão, da CUT/CNQ e militante da Esquerda Marxista fez uma intervenção dialogando com o plenário, foi aplaudido três vezes por praticamente todos os delegados. Com exemplos práticos sobre as contradições da política de alianças, Faustão criticou a forma como o PT entrou no governo do Eduardo Campos e o acordo para as eleições 2010 sem discussão na base do partido. Explicou que o governador e o PSB querem destruir o PT como instrumento independente dos trabalhadores e defendeu a candidatura própria do PT como a melhor forma de ajudar as lutas dos trabalhadores, fortalecer o partido e ajudar a eleger Dilma para derrotar a direita. Elogiou a atitude dos dirigentes do SINTEPE (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco), que seguindo a vontade dos professores defenderam e aprovaram a posição de que o governador Eduardo Campos é inimigo da educação. Afirmou que essa deveria ser a postura do PT frente a Eduardo Campos.
Jorge Peres, integrante da tendência CNB e presidente do PT Pernambuco, dedicou quase toda a sua fala para responder a intervenção do companheiro Faustão e a posição de que o PT não deve se aliar ao PSB. Segundo Peres, “foi as alianças que permitiram a gente [referindo-se ao PT] chegar aonde chegamos. Combater a aliança com o PSB em PE é ser contra o projeto nacional”. Porém, Jorge Peres omite que foram os trabalhadores e suas lutas que fizeram o PT se tornar a principal força de esquerda do país e chegar à presidência. Quanto às alianças, é justamente ao contrário, a candidatura própria seria com certeza o melhor palanque para Dilma e a melhor forma de ajudar o projeto nacional dos trabalhadores: A luta contra a burguesia. A fala do companheiro Jorge Peres, mesmo sendo o representante da maior tendência interna do PT, recebeu apenas tímidos aplausos.
Mesmo expressando discordância em estar junto com o inimigo da educação, a maioria do plenário votou com Jorge Peres defendendo a aliança com o governador Eduardo Campos. É evidente que não se manifestaram contrários à direção nessa votação porque grande parte dos delegados presentes era de assessores, vereadores ou ocupantes de cargos no próprio governo do Estado. Ainda assim, cerca de 20% do plenário votou contra a aliança!
Mas a crise estava só começando. Através da moção, apresentada pelo professor Edmilson, que seguia exemplo da posição adotada pelo sindicato dos professores, as discussões tomaram novos rumos. A moção era em “apoio à luta e às reivindicações dos servidores públicos estaduais!” e afirmava o “repúdio ao brutal ataque do governo Eduardo Campos contra os professores!”. Depois de defesas, a moção vai a voto e obteve voto da maioria dos delegados. Pronto, a confusão estava lançada! A base encontrou na moção a válvula de escape para sua insatisfação com a aliança com o PSB.
Em seguida foi proposto por um acordo entre Jorge Perez e Horácio Reis (vice-prefeito de Olinda), que se retirasse a palavra “repúdio” e colocasse no lugar a palavra “condenação”, que segundo os companheiros seria mais leve. A moção já modificada vai a voto e é aprovada por unanimidade, sem nenhum voto contra e nenhuma abstenção!
Essa moção aprovada começou a ter repercussão e mal estar entre os prós alianças com a burguesia. Estes trataram de fazer um motim e travaram o Encontro.
Imediatamente o governador Eduardo Campos ficou sabendo e os “capas-pretas” do PT intervieram no encontro para manobrar contra a decisão dos delegados. Às 17:00 h, Jorge Perez convocou os dirigentes das tendências presentes para uma reunião a portas fechadas e comunicou que tínhamos um problema político para resolver. Todos os deputados estaduais, o prefeito de Recife e de Olinda, as principais lideranças petistas chegaram ao local. Foi uma imensa confusão. Humberto Costa, principal dirigente do PT em Pernambuco, não era delegado no encontro, mas apareceu para a reunião. Mandatado pelo governador, Humberto chegou enfurecido ao local com a intenção de obrigar a retirada da moção, alegando que sua manutenção levaria à explosão da coligação do PT com o PSB.
Bastante nervoso e batendo várias vezes na mesa, Humberto ordenou que a moção fosse retirada a qualquer custo. A maioria das tendências negou-se a aceitar a manobra de reversão da decisão se retirou do congresso: DS, AE, PTLM, OT e Esquerda Marxista. Somente as tendências CNB e a ASD continuaram no plenário. É claro que a CNB tinha a maior parte dos delegados, mas cerca de 40% do Encontro se retirou do plenário! Sob as ordens de Humberto Costa e presumivelmente do governador Eduardo Campos do PSB, a CNB retirou a moção que havia sido aprovada por unanimidade. Fez isso numa votação cheia de cadeiras vazias sem nem mesmo conferir a existência de quorum, com uma mesa dirigida por petistas que não eram delegados. Mesmo assim cerca de 15% dos delegados que ficaram no plenário se abstiveram da votação!
Nos dias seguintes a mídia noticiava nos principais jornais que parte do PT condena o governador e defende a candidatura própria do PT. Na Segunda-feira, dia 26 de abril, as tendências DS, AE, PTLM, OT e Esquerda Marxista se reuniram na sede do PT e lançaram um manifesto intitulado “Manifesto pela democracia partidária”. O manifesto denuncia “os ataques à democracia partidária promovidos pelo Presidente Estadual do PT-PE”.
A crise da direção está apenas começando. Por enquanto o certo é que deve ser apresentado à Direção Nacional do PT um recurso anulando a manobra e manter a decisão soberana do Encontro, condenando o governador Eduardo Campos, em defesa das lutas dos servidores estaduais, na defesa do PT.