Uma palavra de ordem é uma palavra ou frase sintética que expressa uma reivindicação de maneira coletiva. Seu nascimento se dá pela apropriação por grupos ou classes sociais de reivindicações de variados tipos. Como palavras de ordem, tornam-se instrumentos de mobilização para o combate contra outros grupos ou classes.
Quando George Floyd, negro, morador de Minneapolis (EUA), gritou diversas vezes “I Can’t Breathe” (Eu não consigo respirar), ele reivindicava apenas sua própria vida: queria que o policial tirasse o joelho de cima de seu pescoço ou que outras pessoas fossem ao seu socorro. Entretanto, aquilo que seria apenas uma reivindicação de um indivíduo àqueles que estavam em seu entorno, encontrou condições políticas e econômicas propícias para que, quando repetida, mobilizasse muitos outros indivíduos.
Ao dizer “Eu não consigo respirar”, George pode não ter tido a mínima intenção de criar uma insurreição contra o sistema em todo os EUA. Entretanto, seu grito por socorro deu ordem ao desespero das vítimas de violência policial, das novas gerações de jovens trabalhadores que vivem em piores condições que as anteriores, dos demitidos ou ameaçados durante da crise, assim como dos pequenos comerciantes, fabricantes e lojistas que também estão com seus pescoços pressionados contra o chão, à beira da falência. Não era apenas George que reivindicava ar.
É perceptível, mesmo a nível inconsciente, que durante a crise atual deslanchada pela pandemia, o Estado está unicamente preocupado em proteger as grandes empresas. Mesmo as medidas de auxílio são cosméticas, procuram evitar saques e manifestações. Desde o início da pandemia, 40 milhões de norte-americanos já perderam seus empregos e pequenos empresários tem ido à falência aos milhares. Com isso, a esperança que existia tanto do proletariado quanto da pequena burguesia em um futuro melhor sob o atual estado de coisas está praticamente perdida. A força da frase “eu não consigo respirar” reside, então, em milhões de pessoas que lentamente sufocam sob a crise e temem perder o pequeno patrimônio pessoal construído ao longo de gerações ou mesmo suas próprias vidas.
Em um momento de intensa crise econômica, mesmo reivindicações progressistas, como o prolongamento do valor do auxílio emergencial, ou o fim da violência policial contra negros, acabam conduzindo para além dos limites da propriedade capitalista. Para se salvarem, os capitalistas precisam cortar salários, demitir, se apropriar diretamente dos bancos centrais, assim como intensificar a repressão pela polícia e forças armadas. Em outras palavras, as medidas que tentam salvar a classe capitalista também jogam gasolina no fogo da luta de classes.
A palavra de ordem “Black Lives Metter” (Vidas Negras Importam), por exemplo, se opõe à violência policial e expressa o sofrimento vivido por milhões de negros, imigrantes e moradores dos bairros mais pobres massacrados pela polícia norte-americana. Quando nasceu, o governo Obama conseguiu dar conta das reivindicações de milhares nas ruas realizando reformas nas instituições policiais apoiadas pelas promessas tanto de políticos democratas quanto republicanos. Mas estas reformas foram meramente cosméticas. A união da pandemia com a constatação das massas de que o racismo estrutural continua presente criou uma situação explosiva que pode ser o prelúdio de uma revolução.
Nada que os líderes republicanos ou democratas dizem agora consegue acalmar a fúria das multidões, que insistem em ir às ruas mesmo sob toque de recolher. Enquanto isso, Trump repete “lei e ordem” no seu Twitter e promete utilizar “poder ilimitado” de repressão através das forças armadas e da guarda nacional. Quer, assim, criminalizar não só o movimento antifascista que tanto teme, mas os protestos como um todo. Entretanto, ao contrário das fantasias sádicas das ideias de Trump, onde militares e milicianos supremacistas agridem manifestantes, torna-se cada comum outra coisa: membros das tropas ou mesmo da polícia aparecem em fotografias e relatos confraternizando e saudando aqueles que deveriam reprimir.
Não há condições materiais propícias para a reivindicação conservadora por “lei e ordem”, que obteve tanto sucesso nos anos 1960, tornar-se palavra de ordem massiva e ser utilizada para mobilizar em número importante a pequena burguesia ou as forças da repressão para reprimir os protestos em todo os EUA. As condições que Nixon encontrou para enfrentar com “lei e ordem” o Partido dos Panteras Negras, como a burguesia unificada e uma pequena burguesia confiante na política do imperialismo, não existem mais hoje.
O atual cenário está muito mais favorável para os comunistas do que para Trump, que agora, além de despontarem nas pesquisas como preferência política entre os mais jovens, conseguem com grande liberdade andar pelos protestos com suas bandeiras, propostas e mobilizar grupos cada vez maiores em torno das suas palavras de ordem.
Ligando as reivindicações das massas à necessidade de uma transição socialista e revolucionária, palavras de ordem como “One solution: Revolution” (Uma solução: Revolução) aproximam centenas de jovens trabalhadores e os mobilizam para combater a burguesia ingressando nas fileiras da Corrente Marxista Internacional. A batalha para construir uma nova internacional revolucionária com influência de massas – um partido mundial da revolução – está apenas começando, e o sucesso dessa batalha depende inteiramente das reivindicações e palavras de ordem proferidas pelos comunistas em cada protesto, local de trabalho, escola e universidade.