As declarações dos líderes dos países capitalistas sobre a morte de Fidel Castro sintetizam a posição do imperialismo sobre a Revolução Cubana: querem enterrá-la junto com o seu líder.
As declarações dos líderes dos países capitalistas sobre a morte de Fidel Castro sintetizam a posição do imperialismo sobre a Revolução Cubana: querem enterrá-la junto com o seu líder.
Dizendo uma verdade, talvez pela primeira vez em muitas décadas, o presidente “socialista” da França, François Hollande, declarou: “Fidel Castro foi uma figura do século XX. Encarnou a revolução cubana, tanto nas esperanças que despertou como depois nas desilusões que provocou”. Já o brutal ministro do exterior britânico, Boris Johnson, ressaltou “o fim de uma era para Cuba” e que “A morte de Fidel Castro marca o fim de uma era para Cuba e o começo de uma nova era para o povo de Cuba.”
Acima de tudo, todos os capitalistas e sua imprensa vão cantar o enterro de Cuba na figura de Fidel. Mas, estão enganados. A revolução cubana tem profundas raízes populares e muitos trabalhadores, jovens e militantes comunistas dispostos a resistir. O que os capitalistas vão tentar provar é que o socialismo é coisa do século passado, que não está mais na ordem do dia, que a revolução precisa regredir e que o capitalismo precisa voltar em Cuba. Esse é o recado dos grandes chefes de estado do capitalismo e toda sua imprensa, assim como dos partidos reformistas.
O fato é que a situação em Cuba é muito difícil. A economia afundou depois de dezenas de anos do boicote americano, o qual atinge não só as mercadorias, mas também toda empresa sediada em outro país que negocie com Cuba. Mas, também contou para isso a planificação burocrática, os privilégios de uma camada de dirigentes e a corrupção existente no aparato de estado.
Por outro lado, a ausência de uma verdadeira democracia operária é um grande problema para que o povo cubano tome em suas mãos, mais uma vez, seu destino. Em Cuba nunca houve sovietes, como na URSS de Lenin e Trotsky.
Apesar disso, com a expropriação do capital e a planificação da economia, o povo cubano conquistou um dos melhores sistemas de saúde do mundo; um sistema de assistência social e de educação muito acima do que possui o Brasil, que está entre as “maiores economias” do mundo; as crianças têm teto, têm educação, têm saúde pública e gratuita; não há crianças pelas ruas; não há mortes por balas perdidas; o roubo é quase inexistente; o número de mortos por desastre ambiental, proporcionalmente à população, é muito menor, inclusive com relação aos EUA, ou seja, o país mais “adiantado” do mundo perde para Cuba em segurança com relação à catástrofes ambientais!
As pressões para restaurar o capitalismo e a instalação de uma economia ao “estilo Chinês” (capitalismo com ditadura) aumentam a cada dia. Mas o problema do capitalismo mundial não é se apoderar de uma pequena ilha pobre em recursos naturais e indústria e os lucros que poderia obter disso, embora não se descarte esse aspecto.
A questão para os capitalistas é a existência de um país onde o capitalismo foi expropriado, em que não reina a propriedade privada dos grandes meios de produção, e onde a economia foi planificada, mesmo que deformadamente, para atender as necessidades da sociedade cubana. É isso que a burguesia do mundo inteiro deseja esmagar.
Para além dos discursos das autoridades públicas dos Estados burgueses, assistimos também uma ofensiva ideológica brutal contra o povo da pequena ilha caribenha, sua história e a figura de Fidel Castro. As alcunhas de uma ditadura e de um ditador aparecem como algumas das mais presentes.
Entendemos que, em toda sociedade de classes, o Estado cumpre a função de dirigir o poder político de uma classe contra aquelas inimigas de seus interesses. Nesse sentido, os líderes políticos dos países burgueses que acusam Cuba de uma ditadura nada mais fazer que dizer que têm horror de uma ditadura proletária contra a burguesia e a propriedade privada dos grandes meios de produção. Desejam a restauração de uma ditadura burguesa no país, que pode se apresentar sobre o aspecto formal de uma democracia burguesa farsesca, ou de uma ditadura como na China ou no Vietnam. Pouco importa.
Aliás, como esses democratas chamam o rei da Arábia Saudita? Como chamavam todos os ditadores que tomaram o poder dando golpes sangrentos, como Pinochet, Videla, os generais brasileiros? Chamavam de “amigos”, “parceiros” e outros adjetivos simpáticos.
Fidel foi um revolucionário anti-imperialista, embora não um marxista. Sob a pressão das massas revolucionárias cubanas, liderou a expropriação do capitalismo em Cuba, e instituiu uma economia planificada. Essa situação, mesmo em um país pobre e pequeno, permitiu as conquistas alcançadas. Isso lhe deu um lugar na história e um papel internacional enorme.
O isolamento da Revolução Cubana foi uma das consequências da recusa de Fidel e de outros dirigentes de lutar por uma Internacional Proletária, de negar-se a lutar junto com os trabalhadores de outros países para derrubar seus governos e, assim, estender a economia planificada para o mundo. Sua política era de uma espécie de coexistência pacífica com o capitalismo e seus governos.
Foi isso que permitiu que o boicote norte-americano, a burocratização e a corrupção interna, destruíssem várias das conquistas obtidas no passado, e continue ameaçando outras hoje, e até mesmo a própria existência do Estado Cubano.
A Esquerda Marxista sempre criticou a direção da Revolução Cubana por sua insistência na política estalinista do “Socialismo em um só país”. Quando Hugo Chávez propôs convocar um congresso para fundar uma V Internacional Socialista, foi a burocracia cubana que empacou o processo.
Contudo, estamos ombro a ombro com os revolucionários, sindicalistas, militantes políticos e trabalhadores que querem defender as conquistas da revolução. E esse combate passa pela resistência organizada contra a restauração capitalista e por uma revolução política na ilha. Essa precisa instalar a democracia operária, os conselhos dos trabalhadores, reconhecendo o direito a existência de todos partidos socialistas que reconheçam a política de economia planificada e a liberdade de associação sindical, livre e independente para os trabalhadores, como era na URSS de Lenin e Trotsky. Essa revolução política necessita instituir um regime de economia planificada democraticamente controlada pelos trabalhadores. Esta é a melhor defesa da revolução que os comunistas e o povo cubano podem fazer.
Fidel morreu, e isso anima os capitalistas do mundo todo a ir para cima de Cuba com tudo, para destroçar o Estado operário existente, mesmo que deformado, destruir as conquistas revolucionárias e apagar o exemplo vivo na ilha da insurgência dos povos. Continuaremos com todos os revolucionários da revolução cubana, na defesa da economia planificada, da democracia operária e do socialismo em todo o mundo.