Glauber Braga, PSOL e O Que Fazer?

Ao expor publicamente no Instagram a crise interna que atravessa o PSOL, o deputado federal Glauber Braga curiosamente começa e encerra sua exposição perguntando: “O Que Fazer?” A mesma questão é lançada por ele, de forma semelhante, em entrevistas e espaços que utilizou posteriormente para explicar a situação e refletir sobre o futuro do partido e de seu mandato como parlamentar. Esta é uma contribuição para o debate público aberto pelo camarada Glauber, e um diálogo sobre a pergunta por ele formulada.

Primeiramente, situamos o leitor a respeito da crise em curso. O conflito foi irradiado a partir da bancada de 13 representantes do partido na Câmara dos Deputados. No começo deste mês, uma maioria de oito desses parlamentares fez valer duas decisões no âmbito da bancada: 1) Que o assessor da bancada David Deccache seria demitido, por expressar publicamente posições contrárias às da maioria da bancada; 2) Que a minoria não poderia expressar em rodízio proporcional a liderança da bancada ou mesmo assumir a presidência de comissões parlamentares.

Tratam-se, portanto, de acontecimentos relativos à atuação e à organização própria do partido no âmbito de sua atuação no legislativo federal. Entretanto, a magnitude das implicações vão muito além. Glauber Braga informa que trata-se de uma situação que “virou a chave” e coloca publicamente em debate a possibilidade de ele sair do PSOL. Já a deputada Fernanda Melchionna, nos informa Glauber, confronta os parlamentares que aprovam tais medidas com o desafio de que expulsem logo os deputados minoritários.

Um observador desavisado é levado a constatar uma desproporção entre a ação e a reação. Trata-se, porém, de uma desproporção aparente. O que estamos acompanhando é a manifestação da dialética sobre a política. Em especial a ideia formulada por Hegel de que a necessidade se expressa pelo acidente.

Glauber, Decacche e a corrente interna do PSOL “MES”, da qual Fernanda e Sâmia Bonfim fazem parte, elencam vários motivos que entendem terem levado à atual crise. Gostaria de comentar alguns deles, e de apresentar outros que estão ausentes ou secundarizados neste debate.

Um motivo central para a situação, de acordo com Glauber, é uma sequência de posições políticas e de decisões sobre o funcionamento do partido no âmbito legislativo federal que visam suprimir a expressão das posições dos deputados que se expressam mais criticamente ao Governo Lula. Trataria-se de uma violação do direito de minoria previsto no Estatuto do PSOL e do funcionamento histórico do partido.

Deve-se concordar que é extremamente desagradável a mudança das regras do jogo durante o próprio jogo. Tal regra, porém, só pode prosperar em ambientes de coesão política ou de frouxidão ideológica. Foi entre esses dois eixos que o PSOL funcionou desde sua fundação até o momento.

O crime pelo qual Boulos e companhia devem ser acusados é o de quererem transformar o PSOL de uma federação de organizações que sempre foi em um partido que expresse de forma centralizada as posições da maioria, tanto no âmbito da sociedade quanto no espaço do parlamento, reprimindo as posições minoritárias. Uma vez que alcançaram a maioria no último Congresso Nacional do PSOL e têm maioria na bancada parlamentar, eles se sentem com as mãos livres para operar as mudanças necessárias para fazer prevalecer a política da maioria, mesmo que isso custe ao partido representantes parlamentares extremamente populares.

Nesse projeto, para eles é incompatível um assessor de bancada com a autonomia política e com a projeção pública como David. Muito menos a ideia de, por um ano, um parlamentar liderar a bancada e poder expressar posições diferentes da maioria da direção, ou mesmo presidir comissões em desalinho com a vontade da maioria. Pode-se, e deve-se, condenar os métodos pelos quais a maioria da direção do PSOL realiza essa alteração das regras. Porém, eles estão operando a mudança que a esquerda se furtou a fazer.

Glauber, Erundina, Chico Alencar, Sâmia Bonfim e Fernanda Melcchiona continuam a advogar pelo partido que poderia ser usado como guarda-chuva para figuras e organizações diametralmente opostas conviverem e se valerem dos fundos partidário e eleitoral. Na verdade, a esquerda do partido está pagando o preço por conviver e até incentivar a frouxidão ideológica e organizativa, e por permitir a penetração e a deformação do PSOL pelos atores que agora promovem uma transformação brusca no partido.

Esse movimento, contudo, não começou em 5 de fevereiro. Tal fato é reconhecido tanto por Glauber quanto por Decacche. Glauber aponta que a movimentação está ligada à intenção da maioria da direção de substituir o programa do PSOL e preparar a composição de uma federação partidária com PT, PCdoB e o PSB.

De fato, a atual direção majoritária do PSOL iniciou o combate por essa mudança já na preparação do Congresso Nacional de 2023. Iniciou e ganhou. Explicamos na época que o evento confirmou e aprofundou as orientações oportunistas e a integração ao Governo Lula operadas pelo Diretório Nacional após as eleições de 2022.

Além disso, o congresso foi marcado por uma nova correlação de forças, onde um consórcio liderado pela corrente de Guilherme Boulos conseguiu dois terços da direção. Além de resoluções políticas, os delegados aprovaram uma resolução organizativa. Entre outras coisas, o documento apresenta explicitamente o sentido de refundação do PSOL: “Nosso partido necessita de atualizações na sua base programática. O Brasil de 2004, quando o PSOL surgiu, já não existe mais. Precisamos de um programa com premissas e compromissos menos conjunturais”.

Como medida prática, o congresso fixou a organização de uma conferência nacional para atualizar seu programa até o 1º semestre de 2025. Portanto, uma refundação silenciosa do partido está em curso pelo menos desde o Congresso Nacional do PSOL de 2023. Seria mais preciso dizer que o partido se prepara para assumir a forma que melhor corresponde ao conteúdo definido pela maioria de sua direção. Isso porque, embora seu programa ainda seja aquele de 2004, a dinâmica política da legenda já havia muitos anos se afastado dele.

Esse processo vem de longa data, podendo ser rastreado de forma inequívoca desde o processo de impeachment de Dilma Rousseff em 2016, quando a direção do partido passou a defender o governo de forma acrítica e a abandonar qualquer perspectiva de crítica radical à situação política. Durante os governos Temer e Bolsonaro, a adaptação política do partido se aprofundou, expressa pela defesa do Estado burguês e pela capitulação política e ideológica ao reformismo social-liberal do PT. Em abril de 2022, o PSOL decidiu compor uma federação partidária com a REDE Sustentabilidade, um partido burguês, financiado pela família Setúbal, do banco Itaú. No mesmo ano, o partido chegou ao ponto de recusar-se a lançar candidatura própria, e entrou para a coligação de apoio à chapa Lula/Alckmin desde o primeiro turno.

Contudo, o Programa de Fundação do PSOL, aprovado em 2004, justificava a existência do partido porque “nosso partido rejeita os governos comuns com a classe dominante”. Declarava-se que “Lula entregou-se aos antigos adversários, e voltou as costas às suas combativas bases sociais históricas”. Essas “bases de análise e caracterizações” expressas nesse documento decretavam que o governo Lula representava uma “guinada doutrinária a serviço do capital” e que o próprio Lula “transformou-se num agente na defesa dos interesses do capital financeiro”.

Como “base programática” o congresso de fundação do PSOL de 2004 definia como princípio: “o resgate da independência política dos trabalhadores e excluídos. Não estamos formando um novo partido para estimular a conciliação de classes (…) Nossas alianças para construir um projeto alternativo têm que ser as que busquem soldar a unidade entre todos os setores do povo trabalhador”. Ao colocar-se a questão das bandeiras de luta, o partido assinalava que “devemos defender (as reivindicações) com a compreensão de que elas não se realizam plenamente nos parâmetros do sistema capitalista”.

Apesar disso, com a terceira eleição de Lula em 2022, o PSOL decide, primeiro, participar do “Governo de Transição”, composto por toda variedade de forças políticas inimigas dos trabalhadores, mas que se contrapunham ao “bolsonarismo”, ainda que de forma mais ou menos envergonhada. Depois, o Diretório Nacional valida o fato consumado de Sônia Guajajara ter aceito o convite para ser ministra de Lula, como também libera qualquer filiado a participar do governo, “desde que em seu nome, e não em nome do partido”.

Essa acrobacia política serviu para justificar a capitulação dos próprios dirigentes do partido. Para o Governo Lula, estava bem claro o sentido político de integração do PSOL ao governo federal, como expresso de forma inequívoca por Marcio Costa Macedo e por Marina Silva, enviados do Planalto para o Congresso do PSOL de 2023. Claro ficou também para todo o partido e a sociedade pela postura cada vez mais governista que o próprio partido e a maioria de seus parlamentares passaram a adotar, salvo algumas exceções.

Portanto, a crise parlamentar do PSOL pode e deve ser entendida como expressão da transformação programática que o partido vem sofrendo há bastante tempo. Ainda que formalmente o programa do partido continue a ser aquele aprovado em 2004, a prática do partido expressou outro programa tácito desde o impeachment de Dilma e, de forma acentuada, a partir do fim de 2022.

A crise partidária irradiada desde a organização de sua bancada parlamentar, aparentemente acidental, expressa na verdade a necessidade de o partido resolver a contradição que se avolumou em seu seio sobre como se posicionar diante do Governo Lula. De certa forma, tal problema fundamental é reconhecido tanto pela minoria quanto pela maioria da bancada parlamentar.

A “virada da chave” para Glauber é entendida como ponto culminante de uma série de posições e de decisões da maioria da direção do partido e de sua bancada parlamentar. O objetivo claro desta maioria é o de levar o PSOL a aderir de forma acrítica e sem independência à base de apoio do Governo Lula.

De acordo com David Deccache, a tensão pode ser rastreada desde a época do “Governo de Transição”, do qual o PSOL já fazia parte, e onde se começou a discutir sobre uma regra fiscal que substituísse o Teto de Gastos de Michel Temer. Já nessa época, segundo o economista, começou-se a acumular divergências entre as alas de parlamentares do PSOL.

O conflito continuou com Boulos liderando o esforço de conduzir o partido a apoiar a medida do já empossado governo. Porém, naquele momento, ele e seus apoiadores foram impelidos a votar contra, pelo debate e por um seminário no âmbito da bancada. As tensões, entretanto, continuaram a se expressar a cada nova proposta do governo, incluindo aí o Pacote de Ajuste de 2024 e seus cortes orçamentários, como aquele que atingiu o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Um novo ponto de choque foi provocado após os mandatos de Sâmia e Fernanda solicitarem dados da Secretaria do Tesouro Nacional sobre o uso dos recursos públicos. De posse dos dados, David conduziu um estudo que revelou a incompatibilidade matemática do Novo Arcabouço Fiscal com a manutenção dos pisos constitucionais das áreas da saúde e da educação. 

A evolução dos gastos previstos em relação aos custos sociais constitucionais levaria a um colapso das contas públicas já entre 2028-2029. Segundo suas conclusões, não haveria dinheiro nem para pagar a conta de luz e para comprar papel higiênico. A conclusão política necessária diante de tal constatação técnica era: ou o partido se lança a lutar em defesa de manter os pisos constitucionais da saúde e da educação, sem falar de outros gastos sociais não protegidos pela constituição; ou se compromete com o Arcabouço Fiscal e com o programa de austeridade em prol do capital financeiro já em curso pelo governo Lula.

A formulação do dilema não agradou nenhum pouco a maioria da bancada parlamentar liderada por Boulos, que quer entrar de vez e sem nenhuma titubeação para a base do governo.

Após a decisão da bancada de 5 de fevereiro, Natália Szermeta, esposa de Boulos e dirigente da ala majoritária do partido, saiu a público para acusar a minoria parlamentar de tentar levar o partido para a oposição ao governo Lula. Uma nota de parlamentares da maioria da bancada lançou a mesma acusação.

Em outras palavras, a minoria parlamentar acusa a maioria de querer mudar a posição do partido para uma adesão acrítica em relação ao governo Lula. Já a maioria alega que a minoria deseja levar o partido para a oposição ao Palácio do Planalto.

Uma solução para a crise aberta no PSOL apenas pode ser resolvida com uma das alas fazendo prevalecer sua orientação política. Nitidamente se cristaliza uma ala que tenta manter a independência do partido, ainda que relativa, em relação ao governo, que o permita defender pautas fora da agenda governista e contrapor-se a medidas contrárias aos trabalhadores.

O problema fundamental é que tal posição se vê cada vez mais minada e incapaz de ser sustentada dentro do PSOL. Os torpedos contra ela não vieram do arsenal teórico dos comunistas ou de suas declarações. Se fosse por isso, o partido deveria ter abraçado o combate apoiado por nós para lançar a candidatura de Glauber à presidência da República em 2022, ter mantido sua independência política frente ao “Governo de Transição”, e ter exigido do novo governo um compromisso de avançar as pautas sociais e rechaçar as pautas liberais do contraditório e nebuloso programa eleitoral da chapa eleita.

Os golpes contra a atual posição oficial do PSOL partiram das próprias massas. Setores dos trabalhadores e da juventude reagiram ativamente às políticas deste governo e contra suas condições de vida. Esse foi o caso, por exemplo, dos estudantes que se mobilizaram por todo o país contra o Novo Ensino Médio e enfrentaram toda sorte de manobras do governo e a traição da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).

Também os servidores da educação federal entraram em greve por suas reivindicações, sofrendo também com o braço pesado do governo contra suas reivindicações e inclusive direito de organização e greve. Vale citar também o recente caso dos servidores do IBGE, atacados pelo governo por tentar expressar suas reivindicações como categoria de trabalhadores e verem questionado seu direito inclusive de se organizar sindicalmente. Isso sem falar das privatizações que continuaram sob o governo Lula, apesar dos protestos e da resistência nas ruas.

A luta contra a escala 6×1 que chacoalhou o país no fim de 2024 partiu do desabafo de um trabalhador desorganizado em sua rede social no TikTok sobre as degradantes condições de trabalho que vivia sob a escala 6×1. Foi a partir da iniciativa inicialmente individual que a pauta ganhou a projeção de milhares e depois de milhões de trabalhadores. 

Não sem enfrentar a indiferença e sabotagem das organizações sindicais e partidárias da maioria da esquerda, e a oposição ativa do Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e do próprio Lula. Entretanto, isso não foi suficiente para dissuadir as milhões de pessoas que se manifestaram favoráveis nas redes sociais e as milhares que se mobilizaram em mais de 100 atos ocorridos no fim do ano passado Brasil afora.

Esses são exemplos, não só de resistência contra ataques, como também de reivindicações que buscam avançar em direitos e conquistas para a classe trabalhadora. Sempre sem encontrar um sinal sequer de apoio do governo Lula.

Entretanto, as massas também se fizeram ouvir por meios passivos. Em cada lar proletário, um protesto surdo se manifesta a cada volta do mercado, do açougue, da padaria, do posto de saúde, no momento em que chegam as contas do mês ou quando a Polícia esculacha, reprime ou mata. O problema não é de comunicação, como suspeitam os apologistas do mundo maravilhoso pintado pelos governistas.

O problema é que as massas pensam, refletem sobre sua própria experiência. Elas percebem que a promessa de maior isenção do Imposto de Renda no futuro não ajuda a fechar as contas hoje. Dão-se conta de que, para fechar o mês, precisam se endividar mais e mais com os bancos e financeiras. Percebem que, ao invés de mirar nos grandes capitalistas, o governo prefere avançar a tributação sobre as movimentações por PIX da pequena burguesia, dos pequenos comerciantes e, de quebra, atingir todo um enorme setor proletário que atua na informalidade e que “dá seu jeito” para sobreviver a cada dia.

Essa percepção popular sobre o governo se expressa nas pesquisas de opinião recentes sobre a popularidade do governo. De acordo com o Datafolha, a aprovação de Lula está no patamar de 24% neste mês de fevereiro de 2025. Já o Instituto Paraná Pesquisas registra uma percepção de aprovação de 42% para o mesmo período, uma queda de 4,1 pontos em relação ao mês de janeiro.

Lula foi eleito em outubro de 2022 como resultado de um esforço prolongado das massas para colocar um fim ao governo Bolsonaro. Foi em torno da consigna “Fora Bolsonaro” que milhões de trabalhadores, estudantes e setores da pequena burguesia se mobilizaram antes, durante e depois da pandemia de Covid-19. O fizeram por longo período contra a vontade das direções sindicais e partidárias, incluindo aí a do PSOL e o próprio Lula. Frustradas no propósito de interromper o mandato de Bolsonaro pelas ruas, elas foram impelidas a se valer do terreno eleitoral para dar um fim ao odiado governo.

Formou-se o novo governo. Um governo de caráter burguês, com um partido operário deformado liderando uma frente ampla com toda sorte de partidos burgueses, com o objetivo de compor uma espécie de governo de união nacional para salvar o capitalismo e suas instituições. Ainda assim, tratava-se de um governo saído de uma vitória das massas contra o odiado governo anterior, sobre o qual essas massas colocaram suas esperanças e desejos de reverter as medidas sofridas no período anterior.

Em tal situação, pode-se admitir como válida uma mediação tática como a adotada pelo PSOL de não se blocar automaticamente como oposição ao governo Lula e evitar se alienar das massas que o veem como seu governo. Uma coisa é aquilo que a análise séria e fria sobre a situação permite concluir. Outra coisa é a percepção e a consciência das massas sobre a situação. As massas não aprendem dos livros, dos seminários ou de discussões em pequenas reuniões. A escola das massas é sua própria vida, suas experiências cotidianas, que são obrigadas a levar sob o capitalismo.

A questão que se coloca é se a situação ainda justifica tal tática. A análise que esboçamos aqui requer a conclusão de que não. Porém, essa também é a conclusão de um setor do PSOL sem nenhuma simpatia pelos comunistas. Boulos, Natália, os parlamentares da maioria da bancada e a direção majoritária também concordam.

Para eles, ainda que por seus próprios motivos, chegou a hora de atravessar o Rubicão. Esse setor avalia que o PSOL agora deve se integrar sem vacilação à base de apoio do governo Lula de união com a burguesia. Isso significa abandonar qualquer traço de independência de classe que o partido ainda carrega.

Todo o processo de entrada do PSOL para o governo, de confirmação e aprofundamento de suas orientações oportunistas no congresso de 2023, de preparação de um abandono até mesmo formal de seu programa de 2004, e agora de até mesmo restringir a minoria de sua bancada parlamentar com a mudança do regime proporcional para um centralismo burocrático: tudo isso converge para a guinada que a direção majoritária prepara o partido (ou o que puder manter dele) para dar à direita.

A pergunta que não quer calar é: por que a crise estourou agora?

Por que não em 2022, quando o partido aceitou entrar para o “Governo de Transição”? Por que não em 2023, quando sua direção aceitou disfarçadamente entrar para o governo, inclusive com ministro? Por que não quando o Congresso Nacional do PSOL de 2023 confirmou que era uma capitulação e uma traição flagrante ao seu Programa de Fundação de 2004? Por que não quando o partido se associou a todo tipo de inimigo da classe trabalhadora para conduzir suas candidaturas municipais do ano passado e Boulos assumiu todo tipo de compromisso com políticas alheias aos acúmulos históricos do PSOL?

A crise estourou agora porque foi agora que a direção majoritária decidiu levar ao âmbito da atuação parlamentar do partido a consequência do PSOL com o sentido oportunista que a legenda desenvolve desde que aceitou compor o governo e que foi reforçada com as resoluções aprovadas no Congresso Nacional do PSOL. Boulos e companhia exigem que o partido aplique e seja consequente com aquilo que aprovou.

A esquerda do partido se insurge agora porque só agora as consequências dessa capitulação atingem a atividade dos parlamentares do partido. Quer dizer que, enquanto os parlamentares ou seus assessores pudessem desenvolver sua própria política, sem a centralização por parte do partido a partir das resoluções aprovadas pela maioria, então a situação de convívio ainda poderia ser mantida.

A esquerda do partido preferiu ignorar o cerco que se formava ao seu redor. E o motivo dessa  escolha foi o mal da adaptação parlamentar. As ilusões e a pressão social sobre a atuação parlamentar levaram esses companheiros a tolerar cada capitulação do partido. Tudo poderia ser relevado, desde que permanecesse intocado o direito de os parlamentares agirem como quisessem no âmbito do parlamento. Esse mal histórico do PSOL nos deixou exemplos lastimáveis como os de Heloísa Helena, Randolfe Rodrigues, Jean Willys, Marcelo Freixo e David Miranda.

E o golpe da maioria vem agora e não antes por causa da pressão vinda do próprio governo Lula diante do acirramento das tensões da luta de classes que se desenvolvem na sociedade. A posição anterior do partido pôde se manter enquanto as massas ainda não se chocavam, ou não se chocavam de conjunto, com o governo e com as políticas capitalistas que gestava.

Agora, porém, a situação está se modificando. E rápido. A atual crise escancara portanto a impossibilidade de o PSOL manter tal posição. 

A desmoralização do governo Lula, a situação econômica do país, as mudanças na economia mundial e a insatisfação das massas empurra a esquerda do PSOL a ter que ir mais além do que ela própria gostaria. Contra sua própria vontade, vê-se agora colocada ou a aceitar a guinada à direita imposta pela maioria da direção ou a ter que se expressar mais e mais como oposição ao governo Lula e a assumir mais claramente uma posição de independência de classe. A luta de classes mina o terreno para uma posição centrista na situação política. Assim como, expressão desta pressão da luta de classes, são também os ataques que o mandato de Glauber vem sofrendo por parte de Lira, MBL e setores da direita e extrema direita.

A velocidade dos acontecimentos é ditada não em ritmo brasileiro, mas sim em ritmo americano. A situação do governo federal está determinada não pela habilidade estadista de Lula e pelo sucesso da política de união nacional que busca desenvolver. É o desenvolvimento da economia mundial, na qual o Brasil está completamente integrado, e das políticas das burguesias dominantes no modo de produção capitalista que impõem os limites das políticas de Lula, e também da maioria da direção do PSOL.

Nada foi mais impactante para o curso dos eventos recentes do que a eleição de Donald Trump e as políticas que ele começou a implementar como presidente da nação capitalista reguladora do capitalismo global. A vitória de Trump mobilizou a extrema direita e agrupou todo tipo de setores reacionários da sociedade americana. 

Essa é uma base de apoio do novo governo, com a qual ele fixou compromissos e faz concessões. Entretanto, seria errôneo decorrer disso que o novo governo Trump é um governo fascista. Não é porque um ser tem quatro patas, focinho e rabo que se pode concluir que ele é um leopardo, pois ele pode muito bem ser um lobo ou um porco.

O fascismo é uma orientação política extrema da burguesia para manter sua forma de dominação sobre o proletariado. Sua característica fundamental é a disposição de eliminação física das organizações e dos partidos operários, assim como de seus militantes, por meio da mobilização armada da pequena-burguesia, do lumpemproletariado e de setores desmoralizados do proletariado. Essa é uma definição marxista sobre esse fenômeno. Entretanto, há diversas outras interpretações em circulação na sociedade, adaptadas para todos os gostos, e repercutidas por toda sorte de organizações que se entendem de esquerda e até mesmo como comunistas.

Há aqueles que identificam na personalidade de Trump as gêneses do fascismo. Outros nos traços de comportamento ou de posições políticas daqueles que frequentaram seus comícios ou que militaram por sua vitória. Temos também aqueles que a identificam porque Trump adota esta ou aquela posição que atinge as condições de vida da classe trabalhadora. O fascismo para essa gente é a fórmula moral requentada do cristianismo, segundo a qual todas as coisas podem ser julgadas como boas ou más. 

Na verdade, a eleição de Trump expressou o extremo descontentamento da sociedade americana com a situação e suas vidas sob o capitalismo, encarnadas na forma do governo democrata de Biden. Uma forma deformada de protesto, uma vez que o próprio Trump é parte da classe dominante e um dos principais responsáveis pelo estado de coisas. Para as massas, entretanto, ele apresentou-se como aquele que poderia reverter o curso das coisas, ainda que os motivos por ele apontados fossem falsos, e o sentido de sua política fosse manter a dominação sobre as massas. Foi, portanto, pelo apoio massivo da classe trabalhadora americana que Trump conseguiu seu sucesso eleitoral, um apoio que vem acompanhado pelo aumento de greves e de mobilizações.

Trump inicia seu novo mandato equilibrando-se sobre uma enorme e insatisfeita nova geração da classe trabalhadora americana, que não acumula as derrotas e a desmoralização de gerações anteriores. É a partir dessa posição que ele coloca em marcha sua política de “Fazer a América Grande Novamente”. Uma política marcada, por um lado,  pela luta contra o “Estado profundo”, quer dizer, contra o próprio Estado burguês da mais importante burguesia do mundo. Seu propósito é colocar a maior máquina de dominação de classe do mundo sob o comando e alinhada à política de sua camarilha política. Por outro lado, Trump lança ataques contra burguesias de todas as partes do mundo, exigindo melhores condições de negócio para a burguesia americana, e costurando acordos que garantam melhores condições para si diante da condição de declínio relativo que os EUA sofreram no último período.

Essa não se trata de uma orientação fascista. Trata-se de um governo liberal populista que prepara o aparato de Estado burguês para os choques que virão mais à frente com a classe trabalhadora americana e com as nações do mundo.

Os efeitos dessa nova política americana são sentidos como terremotos por todos os cantos do mundo. Até mesmo por governos que acreditavam estar a salvo da sanha de Donald Trump. Esse é o caso de Javier Milei, personalidade que expressa a mesma tendência que levou à vitória de Trump, que se identifica como aliado. Apesar de tudo isso, as novas tarifas anunciadas por Trump atingem também a muy amiga Argentina e complicam sua situação.

Milei foi eleito como resultado da frustração e do cansaço das massas trabalhadoras com o governo burguês de Fernando Fernandes, que se apresentava como reformista de esquerda e continuador da tradição kirchnerista. Semelhante ao fenômeno Trump e ao fenômeno Bolsonaro, Milei buscou se apresentar como um personagem descolado da política tradicional, e capturou de forma demagógica os anseios da classe trabalhadora argentina de sair do beco sem saída de sua vida sob o capitalismo.

Glauber e a esquerda do PSOL, ao refletir a questão da tática a ser adotada pelo partido, colocam-se a questão de como impedir que Bolsonaro ou outro representante da extrema direita consiga fazer o mesmo no Brasil. A visão que predomina no PSOL e que também resvala na sua ala esquerda é a de que para isso “é preciso fazer o governo Lula dar certo”.

Acontece que não está nas mãos do PSOL fazer isso acontecer. Na verdade esse nunca foi o caso e nisso reside um erro estratégico que apenas se aprofunda desde 2022. A sorte do governo Lula está determinada pela sua composição política com toda sorte de inimigos históricos da classe trabalhadora e pelo programa político burguês aplicado desde o primeiro dia até o presente momento. A escolha do governo Lula 3 foi o de mais uma vez governar para o capitalismo e com os capitalistas. 

O governo Lula 3 está deixando claro para toda uma nova geração de trabalhadores qual o caráter do reformismo durante os períodos de funcionamento normal do capitalismo. Um reformismo que apenas pode oferecer contrarreformas e ampliar a submissão dos trabalhadores ao capital. O recente plano anunciado por Haddad de permitir aos bancos comprometer com consignados os salários dos trabalhadores da iniciativa privada é uma demonstração de que a inovação do reformismo de contrarreformas não tem limites.

Os companheiros da esquerda do PSOL tem razão de se colocar a questão de que a extrema direita se fortalece com essa situação. Cada capitulação e traição do governo em relação às esperanças das massas é explorada pelo espectro de forças políticas que tenta reabilitar o bolsonarismo ou ocupar seu lugar. A velocidade dos acontecimentos no Brasil e a movimentação de placas tectônicas desencadeadas pelo novo governo Trump tende a levar a um reagrupamento e fortalecimento do bolsonarismo ou de qualquer forma que esse venha a adquirir no próximo período.

Esse, no entanto, é apenas um lado da moeda. Ao mesmo tempo que amplos setores da sociedade se radicalizam à direita, o mesmo fenômeno se desenvolve à esquerda. São trabalhadores e jovens que se formaram politicamente contra o governo Bolsonaro, mas que também estão passando pela escola do reformismo de contrarreformas. Eles chegam sozinhos a conclusões radicais e entendem que o futuro do Brasil e da humanidade não é compatível com o capitalismo. Muitos inclusive chegam à conclusão de que apenas o comunismo pode oferecer um futuro de felicidade.

Contudo, a forma e os meios pelos quais essa radicalização à esquerda acontece são diferentes daquela que ocorre à direita. Por vários motivos. Primeiro, e o mais importante de tudo, é o fato de que esses jovens e trabalhadores não têm um ponto de referência visível ao nível das massas, ao qual possam se apoiar para cristalizar essa tendência. Aí reside o problema e a necessidade de constituir um verdadeiro partido revolucionário no Brasil. Isso o bolsonarismo, ao contrário, conseguiu fornecer à extrema direita, ainda que com todas as suas fragilidades.

Diante desse cenário de desmoralização do governo Lula e de crise do capitalismo internacional, qual a melhor forma de combater a extrema direita no Brasil? 

A melhor forma de combater a extrema direita que cresce e se fortalece no país não é se atar pelos pés e pelas mãos, e nem mesmo com só um pé ou só com uma mão, ao governo que está atacando as massas de jovens e trabalhadores há dois anos consecutivos e que está entrando em choque e desmoralização cada vez mais agudos com as massas.

A melhor forma de combater a extrema direita é se lançar a organizar aqueles milhares e milhares de homens e mulheres desorganizados, que estão despertando de forma espontânea para a situação política e tentando encontrar uma forma de expressar uma radicalidade à esquerda. Não estamos falando aqui de uma ou outra organização. Estamos falando de um crescente setor de massas que se alimenta da decomposição do centro político e que antecipa uma virada ainda mais forte da sociedade, não somente à direita, mas também à esquerda. É sobre essa base, e a partir de sua mobilização e animação na luta política, que pode-se preparar o combate e a derrota definitiva da extrema direita.

Como apontado no início deste artigo, Glauber coloca diversas vezes a interrogação “O Que Fazer?” durante suas exposições e entrevistas sobre a atual crise vivida pelo PSOL. Trata-se de uma referência clara ao livro de Vladimir Lênin, a partir do qual este buscou reorientar o movimento marxista da Rússia no início do século XX. A busca por apoiar-se em Lênin para enfrentar os desafios contemporâneos deve ser saudada e representa uma busca correta do camarada por nortear os próximos passos sobre o mesmo espírito que guiou o combate desse grande revolucionário do proletariado até a derrubada do capitalismo russo em outubro de 1917.

A leitura dessa obra é recomendada para todo aquele que busca conhecer o pensamento de Lênin e se apropriar da história da Revolução Russa e do partido responsável por fazê-la vitoriosa, o Partido Bolchevique. No entanto, o leitor que buscar no livro uma panaceia sobre como fazer a revolução apenas encontrará frustração. A obra de Lênin segue o método de Karl Marx, e portanto se trata de uma resposta concreta para a situação concreta de 1902. O que os comunistas do Brasil atual podem extrair de melhor dessa obra é o método que Lênin usou para formular as respostas.

Há também outro aspecto relevante a destacar sobre “O Que Fazer?” e que pode servir para subsidiar o debate de hoje, se queremos nos apropriar do espírito de Lênin. Isso porque Lênin copiou o título de outro livro homônimo, publicado quatro décadas antes. O autor que primeiro lançou a interrogação foi Nikolai Tchernychevskii, escrevendo seu romance encarcerado pelo governo czarista por suas posições políticas, em uma detenção que duraria todo o restante de sua vida.

Tchernychevskii foi um jornalista russo que chegou a se tornar editor de uma influente revista russa da época, Sovremennik [O contemporâneo]. Sua fase à frente da revista coincidiu com uma controversa guinada que tornou-a mais progressista e de esquerda. Lembremos que estamos falando do período de 1850 e 1860 do Império Russo, com um regime autocrático definido pelos comunistas da época como “a prisão dos povos”.

Sob essas condições, Tchernychevskii avançou progressivamente suas análises sobre a situação, e na mesma medida se radicalizou, ao ponto de abandonar a esperança no caminho reformista. Foi como resultado de suas posições e atitudes políticas que ele foi preso em 1862. Ao invés de se resignar ou aceitar a ordem estabelecida, Tchernychevskii pediu autorização do governo para escrever suas ideias. Proibido, decidiu então pedir permissão para escrever um romance. Isso lhe foi permitido.

Entretanto, como tantos outros já haviam feito, Tchernychevskii utiliza o formato de romance para expressar as ideias que abraçara, de ruptura com a ordem estabelecida e a ideia da revolução.

Lênin foi impactado por esse livro quando ele tinha 17 anos. Foi por meio dessa literatura que foi apresentado ao materialismo filosófico, à dialética hegeliana, que abriu-se assim o caminho para a compreensão de Marx. Lênin ficou impressionado com seu “impiedoso talento de polemista” e acrescentou que “até então nenhum revolucionário russo havia compreendido ou julgado de maneira tão essencial, portanto, penetrante e também firme, a covardia, a baixeza e a traição que há em todo liberalismo”.

Lênin percebeu que foi Tchernychevskii que deixou claro que a autocracia não introduzia reformas que não fossem para modernizar-se e para reforçar-se; que a burguesia liberal, ao qualificar essas reformas de passo adiante rumo à democracia não passava, dessa forma, de aliada da autocracia. Lênin observou que Tchernychevskii representou o revolucionário como “deve ser, que normas deve seguir, como deve avançar até seu objetivo, com que métodos e que meios pode usar para alcançá-lo”.

O revolucionário subordina tudo ao seu objetivo, sua vida, suas aspirações e seus sentimentos pessoais. Lênin toma nota de todas as lições de Tchernychevskii. Sua empolgação é tanta que no ano seguinte envia uma carta a Tchernychevskii. A carta é enviada a Tchernychevskii em seu exílio, aberta pela polícia e copiada sistematicamente. Nunca teve uma resposta. Logo depois recebe a notícia da morte de Tchernychevskii, que lhe causa grande dor.

O fato de Glauber buscar o espírito impresso por Lênin em “O Que Fazer?” deve servir como impulso para resgatar o que há de mais profundo nesse espírito de Lênin, que era justamente sua referência em Tchernychevskii e em sua ruptura com o reformismo da sociedade existente e a centralidade da ideia de revolução. Ideia pela qual Tchernychevskii pagou pelo resto da sua vida, mas que inspirou Lênin a levá-la à prática e a modificar o destino da humanidade com a vitória da Revolução Russa de 1917.

Uma resposta a essa interrogação hoje, portanto, deve ser norteada tanto pela intransigência revolucionária de “O Que Fazer?” de Tchernychevskii quanto pela concretude da resposta de “O Que Fazer?” de Lênin.

O próximo passo de Glauber poderia ser seguir a deliberação do Congresso do PSOL de 2023 que determinou a realização de uma Conferência Nacional neste 1º semestre de 2025. E como bom militante o camarada poderia utilizar sua posição como deputado para lançar um chamado público a todos os militantes de esquerda do país – organizados ou desorganizados – para debater qual o programa necessário para enfrentar a extrema direita e lutar contra o capitalismo. Um chamado público sobre como aqueles que querem lutar contra a extrema direita e pelo comunismo podem construir e defender a estratégia socialista nas atuais condições.

Quem abriu o flanco da discussão programática foi a própria direção majoritária com o apoio de sua maioria parlamentar. Glauber pode aproveitar isso para pautar um debate para fora do PSOL, capaz de alcançar e mobilizar os milhares e milhares de trabalhadores e jovens desorganizados e isolados pelo país que despertam sua consciência de classe e querem lutar contra a extrema direita e o capitalismo. Essa seria uma atitude política que daria uma contribuição chave para a luta contra a extrema direita do país.

Temos um precedente histórico do efeito de tal mobilização quando Jeremy Corbyn, um “azarão” dentro do jogo de cartas marcadas do Partido Trabalhista da Inglaterra, decidiu apresentar-se como candidato à presidência do partido com um programa de ruptura. O que em condições normais seria simbólico foi um terremoto político que despertou forças inesperadas pelos apologistas do reformismo e pelo próprio Corbyn. Uma onda de milhares e milhares de jovens e trabalhadores decidiram se filiar ou voltar à ativa para apoiar Corbyn. Uma “revolução” em pequena escala. Ele venceu as eleições e foi motivo de terror da burguesia e de seus agentes, de fora e de dentro do Partido Trabalhista.

Nós da Organização Comunista Internacionalista (OCI) nos dispomos a apoiar o camarada Glauber se ele decidir travar esse combate. Esse poderia ser um passo para abrir um diálogo com esses trabalhadores e jovens sobre quais as tarefas estratégicas e as tarefas táticas para não apenas derrotar a extrema direita, mas também para fazer prevalecer os interesses da classe trabalhadora, derrubar o capitalismo e construir uma sociedade comunista. 

Esse movimento permitiria a milhares e milhares de ativistas refletir sobre quais as formas e os meios que podem ser elaborados para avançar a luta comum do conjunto da classe trabalhadora contra o conjunto da classe dos capitalistas. Como resultado desse processo, poderia ser elaborado um programa operário, revolucionário e independente para a classe trabalhadora. 

Essa seria uma base sólida para um partido da classe trabalhadora capaz de sobreviver sem o dinheiro usado pela burguesia para tutelar a vida pública, como ocorre hoje na forma dos fundos partidário e eleitoral. Um partido capaz de sobreviver de forma militante, que tenha sua força advinda da força da luta permanente nas ruas. Um partido que tenha como regra que seus mandatos no Parlamento burguês sirvam para ser tribunos do povo, um meio para construir e defender a estratégia socialista, a luta pela superação desta sociedade, como ensinou Lênin.

Uma luta liderada por Glauber e a esquerda do PSOL por um programa comunista revolucionário para a classe trabalhadora, sob o ensejo do debate para a Conferência Nacional do PSOL prevista para este 1º semestre, pode ser um passo para mobilizar e agrupar aqueles espalhados pelo país que querem não apenas lutar contra o bolsonarismo, mas também pela revolução e pelo comunismo. Um passo que dará o impulso para depois avançar o debate sobre como dar forma organizativa a tal programa.

Marx ensinou que as ideias tornam-se força material quando ganham as massas organizadas. Um partido com influência de massas baseado por um programa comunista revolucionário é a melhor ferramenta que a classe trabalhadora poderia ter à disposição para enfrentar a extrema direita, derrubar o capitalismo e construir o comunismo aqui e agora.

“O Que Fazer?” Lênin e Tchernychevskii nos forneceram as pistas. Cabe a nós colocarmos em prática um plano concebido sobre o espírito de seus ensinamentos e exemplos.