Foi encerrado no dia 27 de junho, um importante movimento de greve do serviço público municipal de Curitiba. Estivemos em luta desde março desse ano, reivindicando a retirada do “pacotaço” do prefeito Rafael Greca, que seguindo a cartilha dos ataques do governo Temer aos trabalhadores, aplica uma série de ajustes que retira direitos dos servidores e precariza o atendimento à população que necessita dos serviços públicos.
Apesar da aprovação do pacote de medidas, esse movimento grevista nos traz importantes lições sobre a organização da classe trabalhadora, em especial em relação às mulheres, que compõem a grande maioria do serviço público municipal de Curitiba, especialmente nas áreas da educação e saúde.
Como professora dos anos iniciais, a análise presente nesse texto estará voltada para a presença do magistério municipal durante o processo de construção da greve.
A presença majoritária das mulheres no magistério, especialmente nos anos iniciais, é fruto das relações sociais desenvolvidas ao longa da história, o que caracterizou esse ofício como uma tarefa relacionada ao cuidado e, dentro dessa lógica, próprio às mulheres, consideradas as mais adequadas para essa função.

Essa organização social trouxe consigo diversas características que são hoje intensamente combatidas dentro da escola pública, como os baixos salários e a necessidade de uma formação inicial e continuada de qualidade para as professoras. O entendimento de que a mulher era sempre sustentada por alguém e que não caberia à ela um trabalho de 8 horas diárias fez com que o trabalho docente (que por muito tempo não foi considerado, de fato, um trabalho) fosse considerado adequado a elas, não necessitado de uma formação e remuneração elevados.
Esse processo deixou marcas profundas no trabalho docente e influenciam fortemente a organização do magistério. As mulheres ainda lutam para superar as demandas que a tripla jornada de trabalho impõe: a grande maioria das professoras têm responsabilidades em casa que as impedem de ampliar a participação na vida sindical, determinando rotinas que interferem nos movimentos de luta.
Longe de subordinar as professoras à expectativa social que persiste na sociedade, o movimento grevista construído pelas servidoras de Curitiba demonstrou a força da classe trabalhadora e a possibilidade de superação dos obstáculos impostos à organização das mulheres.
Os momentos de luta e de confronto com a Polícia Militar, muitos deles liderados pelas mulheres, foram exemplos da sua capacidade de organização e resistência.

A presença repressora da polícia, à mando do Estado, mostrou a verdadeira função dessa instituição e tirou a máscara do Executivo e Legislativo, que governam para a burguesia e não para a classe trabalhadora. Diante de escudos, cassetetes, bombas e cavalos, o magistério não hesitou e manteve-se à frente da resistência.
Nesse contexto, a presença feminina do outro lado, em defesa dos vereadores (e vereadoras) que queriam, a todo custo, votar a favor do pacote, foi também decisiva para demonstrar que a mulher trabalhadora tem mais em comum com o homem da sua classe, do que com a mulher burguesa ou aquela cuja função é reprimir outras mulheres. A luta da mulher trabalhadora é pelo fim da opressão à sua classe, e isso inclui a luta contra a polícia e demais aparelhos de repressão do Estado.

Um dos momentos em que uma policial mulher reprime uma trabalhadora.
Outro elemento emblemático na organização das mulheres nesse processo de luta, foi a ação de queimar os guarda-pós durante a sessão que aprovou o pacote e como resposta à violenta repressão que nos atacava do lado de fora. Queimar esse símbolo do trabalho docente, e do trabalho da mulher, remete à um tipo de libertação que deve inspirar as mulheres trabalhadoras a superar todo tipo de subordinação e limitação que ainda nos é imposta.

Todo processo desenvolvido na luta contra o pacote de austeridade demonstrou a capacidade de organização da classe trabalhadora, que no caso do serviço público, tem uma forte presença de mulheres; bem como exigirá de nós outros aprendizados, como a necessidade da formação de um comando de greve e um serviço de ordem fortes e coesos, aptos a organizar a luta nos momentos de maior enfrentamento e tensão.
O ano de 2017 ainda trará diversas lutas, às quais exigirão toda organização das mulheres em seus sindicatos, contra a destruição da previdência e dos direitos trabalhistas e pela superação desse modo de organização social que nos oprime e brutaliza.
As mulheres precisarão estar ombro a ombro com os homens da sua classe!
Pela retirada/revogação do pacote do prefeito Rafael Greca!
Contra a destruição da previdência!
Em defesa dos direitos trabalhistas!
Fora Temer e o Congresso Nacional!
Por um governo dos trabalhadores!
Por uma Assembleia Popular Nacional Constituinte!
* Francis Madlener de Lima faz parte de Mulheres Pelo Socialismo.