Ao que tudo indica, o dia 28 de abril deve ser uma das maiores greves gerais da história do Brasil e pode se tornar um divisor de águas na situação política. A fúria popular com o pacote de austeridade apresentado pelo presidente Temer e o Congresso Nacional – Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista, Reforma do Ensino Médio, terceirização e corte de verbas – ameaça transbordar o país em revoltas. Isso somado ao crescimento do desemprego, que já atinge quase 14%, e ao rebaixamento das condições de vida (endividamento geral e queda dos salários).
O fato é que o clima de mobilização assusta até mesmo setores da esquerda que diziam existir uma onda conservadora e agora presenciam a disposição imensa dos trabalhadores em lutar e o repúdio generalizado às instituições da burguesia. Os protestos da direita viraram pó, os governos se afundam em impopularidade e instabilidade, e os chamados para a greve geral viralizam nas redes sociais e são compartilhados também por setores da chamada classe média.
A lista de Fachin escancarou para todos a podridão do sistema capitalista, que só pode funcionar sobre a base da corrupção, aumentando ainda mais o ódio popular aos políticos
É nesse caldeirão político que as centrais sindicais convocam a greve geral para o dia 28 de abril com o slogan “o Brasil vai parar”. No entanto, os dirigentes sindicais fazem de tudo para as mobilizações não saírem do controle e orientam os trabalhadores a ficarem em casa, ao invés de incentivar a participação em atos públicos, e fazem questão das mobilizações nacionais durarem apenas um dia. Para a greve geral escolheram estrategicamente o dia 28, uma sexta-feira véspera de feriado (1º de Maio), para terem certeza que a greve não tenha desdobramentos no dia seguinte.
Mas a classe se move em ritmo cada vez mais diferente dos dirigentes. Nos atos do dia 15 de março os sindicalistas propuseram várias paralisações pontuais, de duas ou três horas. Mas quando tentavam encerrar os protestos, muitos deles prosseguiram por até 24 horas. Esses dirigentes se descolaram há tempos de suas bases, fundamentalmente porque não precisam mais delas. Sobrevivem através do Imposto Sindical e outras formas de cobranças compulsórias para além de seus próprios filiados. Possuem privilégios que os diferenciam das condições de vida de sua própria categoria, como carros à disposição, diárias e bônus financeiros. Por isso têm medo que as mobilizações nacionais saiam do controle e evoluam para algo que questione inclusive suas regalias. Agora se veem na armadilha do governo, que colocou o fim do Imposto Sindical na Reforma Trabalhista para forçar a negociação de retirada de direitos.
Um outro fato chama atenção. A greve geral do dia 28 foi oficialmente convocada em uma reunião no dia 27 de março entre as nove maiores centrais sindicais. Porém, a data do dia 28 de abril foi definida antes pela direção executiva da CUT. As demais centrais, incluindo a Conlutas e a Intersindical, foram obrigadas a aderirem à posição da CUT. Esses setores não puderam nem discutir qual data ou qual formato seria melhor, pois estão fora da maior central sindical. Se é para ser dirigido pela CUT, mesmo que sem a vontade, se uma greve geral só pode acontecer de fato com a CUT convocando, para que serviu rachar a central? É uma clara demonstração de que a divisão sindical, ao final das contas, só serviu para deixar a direção majoritária da CUT decidir os rumos à vontade.
No último congresso da CUT, mesmo em minoria absoluta, a intervenção dos marxistas arrancou 30% dos delegados contra o Plano de Proteção ao Emprego (PPE). Imaginem se toda a esquerda sindical estivesse hoje no interior da CUT organizando a oposição contra a direção reformista?
O centro da discussão é que a classe trabalhadora precisa ser ouvida e ela mesma decidir quais caminhos e com quais instrumentos vai prosseguir a luta. Ao contrário das mobilizações convocadas de cima para baixo, como se fossem decretos. Retomar as tradições de assembleias de base, que discutem e deleguem funções e posicionamentos. É nesse sentido que a agitação pela convocação de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (ENCLAT) se torna a tarefa central para a derrubada das contrarreformas, do ajuste fiscal e para organizar a luta pelo Fora Temer e o Congresso Nacional.