No dia 30 de agosto, 20 adolescentes foram detidos por furarem a estação-tubo Morretes, em frente ao Colégio Estadual Pedro Macedo, no bairro Portão. Os jovens foram retirados de dois ônibus da linha Santa Cândida/Capão Raso e levados à Delegacia do Adolescente pela guarda municipal de Curitiba. Lá foi feito um termo circunstanciado — quando uma infração à lei não é considerada crime — e os pais dos estudantes precisaram ir até a delegacia para assinar o documento e liberá-los.
De acordo com o secretário de Defesa Social e Trânsito, Guilherme Rangel, este tipo de operação da Guarda se tornará frequente. Para ele, os fura catracas prejudicam a população usuária do transporte coletivo.
“Já sabemos as regiões onde mais se repetem essas situações, que são comuns perto de colégios e nos horários de saída dos estudantes. Vamos fazer esta operação em toda a cidade”, afirmou Rangel ao Jornal Metro.
É interessante observar a declaração do secretário sobre onde e quando mais ocorre essa infração: são estudantes na saída das escolas, a maioria dos fura-tubos, mas motivo de estarem fazendo isso é poder ir para casa? O acesso à educação não é um direito, logo os estudantes não deveriam ter garantia de chegar até a escola? Mesmo fazendo isso para acesso ao lazer ou à cultura, não seria esse um direito da criança e do adolescente?
O passe-livre estudantil é lei federal, qual a prefeitura descumpre, nem regula e faz de conta que não existe, enquanto os interesses dos empresários estão totalmente assegurados.
A realização da Operação Arapuca com a guarda municipal mostra como Greca trata os problemas da juventude e da periferia. Não houve um estudo ou conversa com as autoridades para tentar resolver o problema. O prefeito tocou a guarda municipal em cima e deteve todos. A decisão pode parecer inadmissível, mas não nos surpreende.
Quando olhamos o histórico recente de Curitiba, podemos perceber essas ações comuns. A polícia e as forças de repressão têm sido usadas em grande medida para reprimir. Massacram os servidores públicos do município e do estado por protestarem contra a retirada de direitos. Batem nos estudantes durante os protestos contra o reajuste da tarifa do transporte. Os políticos se utilizam das forças de repressão para proteger a propriedade privada e as instituições do estado. O importante é manter o sistema funcionando, não os direitos da população.
O papel da guarda municipal não é diferente. As prefeituras investem nessa força justificando a necessidade de proteger escolas, parques e o patrimônio do município, mas a real função da guarda é para retirar moradores de rua, realizar desocupações e reprimir manifestações. Agora a guarda atua em defesa dos lucros dos empresários do transporte coletivo da cidade prendendo os jovens fura catracas.
Enquanto a prefeitura e a guarda armam uma campanha espetacular para prender esses adolescentes, as empresas de transporte coletivo seguem explorando o serviço sem transparência. A licitação está sendo investigada sobre suspeita de fraude e também existem irregularidades nas planilhas de custo do transporte e qual foi a medida do prefeito Greca para punir as empresas?
Primeiro ele reajusta a tarifa do transporte em 14,86%! A passagem custava R$ 3,70 e agora é R$ 4,25. Sendo que os empresários ainda dizem que esse valor não é o ideal. Também pôs fim à tarifa mais barata nos fim de semana, algo que beneficiava muito as famílias mais pobres. Depois disso, ele e seu amigo Governador Beto Richa devolvem o subsídio anual de R$ 64 milhões e retorno da integração com a região metropolitana. Ou seja, não importava quanto a população sofreu na gestão passada, Richa e Greca estavam interessados em dificultar a vida do prefeito passado.
Essa política explica o motivo de, entre 2011 e 2016, o total de passageiros pagantes na cidade caírem de 246,8 milhões por ano para 211 milhões – redução de 20%.
Essa população usa moto, que muitas vezes sai mais barato ou não sai de casa, fica isolada no bairro, não transita pela cidade.
Quando as empresas mostram números sobre os fura catracas, lembremos todas as denúncias e suspeitas. Além disso, existe o lucro, esse valor pago aos empresários por realizarem o serviço, afinal eles não são mecenas, não fazem isso pelo bem da sociedade, mas pelo dinheiro. Caso esse serviço não fosse tão rentável, eles se esforçariam tanto por mantê-lo em suas mãos?
A Operação Arapuca para pegar os jovens fura catracas apenas desvia a atenção dos reais problemas do transporte: a apropriação privada dos meios de direito de ir e vir por empresários do transporte.