Os tiros fatais contra os 34 mineiros grevistas na mina de Marikana próximo a Johanesburgo causaram indignação.
Uma multidão de grevistas desafiadores foram mortos a sangue frio por tiros disparados pela polícia, isso fez voltar à memória a era do Apartheid, de Shaperville, Soweto e as lutas dos anos 80. Anteriormente a esse massacre outras dez pessoas foram mortas e 234 foram presas.
Nos meses seguintes à ação de greve, a administração recusou-se a negociar, aumentando a frustração dos trabalhadores. Centenas de policiais fortemente armados cercaram a mina, patrulhando a área com pequenos comboios e realizando vigilância aérea de helicóptero.
Os 3.000 mineiros desta mina estão em greve por salários, mas foram recebidos com intimidação a mando dos proprietários da multinacional Lonmin. Essa mina é o terceiro maior produtor de platina do mundo e tem seus escritórios em Londres. Os donos têm ameaçado os grevistas com demissões caso eles não retornem imediatamente ao trabalho. No entanto 75% dos trabalhadores continuam parados apesar do ultimato.
Os trabalhadores estão exigindo da Lonmin um aumento de salário de 4.000 rand (£300) para 12.500 rand por mês. A greve foi convocada pelos perfuradores de pedra, os homens que trabalham direto com a cara na pedra, que têm que trabalhar com uma broca de 25 kg que vibra freneticamente durante todo o turno de oito horas. Quando há uma queda da rocha, as vitimas são geralmente os perfuradores que perdem seus dedos ou suas vidas. É o trabalho mais perigoso do negócio. É por isso que eles estão determinados a lutar.
O mineiro grevista Kaizer Madiba disse: “Pessoas já morreram, então não temos nada mais a perder… vamos continuar a lutar pelo que acreditamos que é uma luta legítima por salários dignos. Prefiriríamos morrer como nossos camaradas do que desistir”.
Um perfurador de pedra também disse: “É melhor morrer do que trabalhar para essa merda… Não vou parar a greve. Vamos protestar até conseguirmos o que queremos. Eles não disseram nada pra gente. A polícia pode tentar e matar a gente, mas não vamos nos mover”.
O Presidente Jacob Zuma convocou uma investigação sobre os assassinatos ocorridos, pede calma e apela para que a culpa não seja colocada em ninguém.
Por trás da greve está o resentimento entre o moderado Sindicato Nacional dos Mineiros (NUM – da sigla em inglês) e a rival mais militante, Associação de Mineiros e Sindicato da Construção (AMCU – da sigla em inglês), um racha liderado por membros expulsos da NUM. AMCU acusou a NUM de se importar mais com política e enriquecimento pessoal do que com os trabalhadores no fundo das minas. A NUM certamente proporcionou uma série de líderes para o governo do Congresso Nacional Africano – ANC (sigla em inglês). Cyril Ramaphosa, o ex-dirigente da NUM, secretário geral da ANC, é agora um milionário homem de negócios e está sentado na mesa diretora da Lonmin.
A greve provavelmente afetará ANC e seus aliados colocarão a culpa da raiva dos trabalhadores nas desigualdades existentes na maior economia da África. O fim do Apartheid e o governo da ANC não resolveu os problemas das massas. Até agora 40% dos Sul-Africanos vivem com menos de 2,50 dólares por dia.
Julius Malema, líder da juventude da ANC, se tornou um ponto de referência para a crescente oposição por proclamar em uma reunião de massas, aplaudindo os mineiros em Marikana, que Zuma estava mais interessado em proteger os donos das minas do que os trabalhadores.
“Os britânicos são os donos desta mina”, disse ele. “Os britânicos estão fazendo dinheiro desta mina… Não foram os britânicos que foram mortos. São nossos irmãos negros. Mas estes irmãos não estão sendo lamentados pelo presidente. Ao invés disso ele vai se encontra com os capitalistas nos escritórios com ar-condicionado.”
Malema foi expulso este ano da presidência da ala jovem do governante Congresso Africano Nacional após desentender-se de Zuma, a quem ele acusa de não impugnar o “monopólio capital branco”.
“O Presidente Zuma disse à polícia que ela deve agir com o máximo de força. Ele não disse para agir com moderação. Ele presidiu o assassinato da nossa gente e, portanto, deve sair. Nem mesmo o governo do apartheid matou tanta gente… A partir de hoje, quando for perguntado ‘Quem é o seu presidente’, deve-se responder: ‘Eu não tenho um presidente’.”
A convocação de Malema para que sejam nacionalizadas as minas tem ganhado terreno, especialmente após os eventos em Marikana. O descontentamento é crescente.
“Lonmin nos trata como cachorros”, disse Thembelani Khonto, 24 anos. “Quando você está no subsolo, é como se você fosse um escravo e eles não te conhecem.”
Siphiwo Gqala, 25, disse que às vezes fica até 14 horas por dia no subsolo, mas não recebe hora extra. “É um trabalho perigoso”, disse ele. “Às vezes você desce lá embaixo e uma pedra cai e você morre. Grandes veículos podem vir e te matam”. Relembrando o massacre, ele diz: “Eu nunca vi nada como aquilo: pessoas mortas como galinhas. Um dos meus amigos ainda está desaparecido. Eu não sei se ele está no hospital ou no necrotério”.
“A mina deve ser nacionalizada. Apoiamos Julius Malema e a liga da juventude por dizer que as minas devem ser nacionalizadas. Agora eles começaram a atirar na gente. Se a gente morrer hoje, todos nós devemos morrer: a gente não quer mais trabalhar aqui.”
Escandalosamente, os líderes sindicais da COSATU, assim como o Partido Comunista Sul-Africano, condenaram não a violência do estado, mas o novo “racha” do sindicato, AMCU. O PCSA foi tão longe a ponto de desgraçadamente pedir a prisão destes líderes sindicais!
Enquanto a polícia abriu fogo nos grevistas, a Estrela da Manhã (17/08/2012) tentou culpar os grevistas dizendo que “Ainda não está claro o que provocou o ato fatal entre os mineiros e a polícia.” Isso vindo de um jornal que supostamente é de esquerda!
Sem equívoco, devemos condenar este ataque brutal e responsabilizar o Estado Sul Africano pelo assassinato dos mineiros grevistas. Apoiamos os mineiros em suas lutas por salários dignos e a sua exigência de nacionalização das minas como um passo à nacionalização da economia. Esta foi a base política da Carta da Liberdade da ANC. É a hora do governante ANC – ao invés de dobrar os joelhos para as grandes empresas – colocar a Carta em prática.
Traduzido por Marcela Anita