Durante os meses de janeiro e fevereiro, a produção na China caiu quase 16% e o resto do mundo mantinha o seu funcionamento. Quando o coronavírus se espalhou pelo mundo, a produção começou a parar em outras partes. No momento atual (18/3), a produção é retomada na China, mas é paralisada na Europa. Assim, o mercado mundial entra em colapso. Ou seja, a situação que leva à queda das bolsas tem, neste momento, relação com a queda da produção. E isso, de forma geral, tem relação com a crise que começou em 2007/2008 (crise de superprodução).
Os trabalhadores e jovens estão vendo suas vidas em jogo. O número de mortes aumenta, ao mesmo tempo com o número de infectados. Os cortes nos sistemas de saúde que antes apareciam em “casos” chocantes, de repente tornaram-se evidentes para uma grande massa que procura entender o que está acontecendo. Faltam leitos, faltam equipamentos, falta pessoal médico, faltam remédios. E começam a sobrar absurdos, como na Itália, onde os maiores de 80 anos são automaticamente descartados no atendimento e deixados para morrer.
Os patrões respondem da melhor forma que podem, afinal, o domínio da burguesia é garantido justamente porque ela também cumpre um papel social, que é garantir que a sociedade “funcione”. E quando a vida de todos é ameaçada, a sociedade não está “funcionando”, esse domínio pode e deve ser violentamente contestado.
As greves de trabalhadores que começam a acontecer exigindo a paralisação dos trabalhos não essenciais são um exemplo disso. Afinal, as medidas de “isolamento social” só funcionam se apenas os trabalhos essenciais se mantêm. Que utilidade tem hoje fabricar um carro se o trânsito, em um grande número de cidades, está proibido? Se as pessoas estão proibidas de deslocarem-se?
Este é o verdadeiro motivo, a manutenção de sua “legitimidade social” que leva a Volks a suspender o trabalho em toda a Europa e a Rede Globo a suspender a filmagem de suas novelas. A burguesia está vendo o calo apertar e não quer perder tudo, ainda que ao custo de prejuízos que ela conta recuperar depois.
Ressaltamos: a crise vinha de antes. O virtual duopólio existente na aviação civil entre a Boeing e a Airbus foi rompido violentamente com o fracasso do 737Max (avião proibido de voar, após duas quedas que mataram todos os ocupantes) da Boeing. Agora, com a crise, os EUA devem estudar meios de “salvar” a Boeing.
As Cias Aéreas viviam um boom imenso, causado pelo aumento do turismo. O aumento do preço do petróleo, de um lado, e de outro, a queda do valor das moedas dos países atrasados deixava esta situação em suspenso, entre o céu e o inferno. O vírus jogou tudo no inferno e os voos devem ser reduzidos a 50% ou menos do que os antes existentes.
Há muito tempo que a produção de carros excedia todos os mercados disponíveis, e a “onda” de carros elétricos tinha a ver com esta situação – criar um novo mercado, com a substituição dos modelos atualmente existentes. Neste momento, tudo isto está em xeque, principalmente pela queda do preço do petróleo.
O mercado de petróleo estava artificialmente inchado após a crise de 2007/2008. Uma das consequências (ou motivo) da guerra comercial de Trump foi manter o preço do barril de petróleo (ou o equivalente em gás) em torno de US$ 100. A crise derrubou o preço para quase US$ 30 e não há sinal de que vai subir.
E isso afeta diretamente a burguesia dos EUA. O petróleo de Xisto só é rentável com o valor acima de US$ 50 (aproximadamente) o barril. Trump propôs-se a continuar a comprar pelo preço antes vigente até encher os reservatórios nacionais… mas esses estão quase transbordando. E qual será o tamanho da crise se essas Cias não pagarem suas dívidas estimadas em, ao menos, US$ 1 trilhão?
Sim, a crise econômica é parte da crise política, e não terá uma rápida solução. Trotsky escreveu, no Programa de Transição, que as condições objetivas para o socialismo estavam dadas, aliás, já estavam apodrecendo. Hoje, a podridão exala um mau cheiro perceptível por todos. A crise do mercado mundial não será resolvida se a epidemia parar. E os mortos e feridos desta epidemia cobrarão à burguesia o seu preço em ouro e sangue. As grandes lutas estão na frente e as pequenas explosões de hoje são apenas o seu início.