Meu carro parece um tanque, meu macacão camuflado
Mas eu só prendo mendigo, então pivete ou viado
…
Pensam que sou inimigo procuram se esconder
O meu andar assusta, o meu olhar intimida
Preço que todos pagamos por uma bala perdida
Recebo ordens de doido, doidos por ordens da lei
Mas mesmo fora de ordem, ordens são ordens eu sei
(Marcelo Nova – Robocop)
Dia 24 de maio, a TV mostrou duas imagens: a “baderna” na manifestação de Brasília e os 10 corpos “estendidos no chão” mortos no Pará. Segundo a PM, “mortos em confronto”. Mas se a TV falava em baderna, mostrou também a PM atirando com munição letal (“não são feitas de açúcar as balas do meu trinta e oito”, Marcelo Nova) na direção de jornalistas e manifestantes. No fim das contas, quatro feridos graves entre os manifestantes, inclusive um com uma bala no pescoço que não pode ser extraída sob risco de vida. A repressão, que vinha aumentando, atingiu um novo patamar e Temer colocou os militares na rua quando pensou ter perdido o controle da “sua” capital.
Se olharmos bem, a polícia militar tem um papel bem preciso no Brasil e, nos fatos, digam o que digam papéis e entrevistas, serve contra as manifestações e greves dos trabalhadores e muito pouco contra a “criminalidade”. Os exemplos se sucedem: no Rio, um dia antes da greve geral do dia 28 de abril, a Tijuca, bairro tradicional da Zona Norte, foi invadida por bandidos que impuseram um toque de recolher e fecharam todas as lojas, inclusive supermercados. A PM? Nada de PM aparecer.
No dia 02 de maio, uma guerra entre facções criminosas acontece no bairro do Centro do Rio Cidade Alta. O interessante é que poucos dias depois, quando a ação da polícia prendeu mais de 40 traficantes e dezenas de fuzis, foi a denúncia de que a ação teria sido em decorrência do aluguel de caveirões por um dos bandos. A maior prova? Todos os fuzis apreendidos e todos os traficantes presos foram de uma só facção. Áudios gravados no dia começaram a circular no Whatsapp e foram parar na imprensa. 8 sargentos do batalhão que conduziu a ação foram afastados para “averiguação”. E a vida segue….
No Rio de Janeiro, no dia seguinte a divulgação dos áudios com as conversas “republicanas” de Temer com Joesley Batista, houve um “arrastão” nas lojas do Centro da cidade. Ao lado de um batalhão da PM, uma rua foi fechada por caminhões e todas as lojas foram assaltadas na madrugada, entre 3h30 e 5h30. O interessante é que um dos donos de loja viu o assalto, ligou para a polícia que só apareceu as 5 horas e segundo relato da própria PM trocou alguns tiros com os assaltantes e recuou….
Horas depois, na tarde do mesmo dia, as bombas e tiros de borracha de todo um aparato da PM dissolviam mais uma manifestação pelo Fora Temer. Ou seja, contra os bandidos uma simples viatura que recua. Aluguel de caveirões para facções criminosas. Nada para interromper a ação dos bandidos na Tijuca. A PM quando sobe morros sempre tem “balas perdidas” que acham moradores, mulheres e crianças particularmente. Negros principalmente.
O que se viu em Brasília mostrou a que serve a PM. Ela não agiu “contra os mascarados”. Testemunhos de servidores que enxergaram das janelas dos ministérios o que aconteceu contam que a PM começou a atirar e depois apareceram os “mascarados”. Aliás, interessante. Nenhum mascarado foi preso! Manifestantes baleados, espancados, teve. Mascarados que tocaram fogo em ministérios, nenhum preso, nenhum identificado. A procuradoria incriminando as centrais sindicais pela “baderna”, sim. Aliás, o Sr. Michel Temer, os seus ministros e deputados que aparecem nas gravações, não têm eles a maior culpa pela revolta popular que explode em atos inconsequentes? Não são eles os maiores culpados por não conseguirem prever que o ato seria imenso e não providenciarem a segurança que deveria ter? E os comandantes que mandaram a cavalaria contra todos os manifestantes, que ordenaram os tiros de bala de borracha, que toleraram os tiros de balas de aço não são indiciados? Não são eles os maiores responsáveis?
Como reagir
Se os manifestantes têm razão ao gritar pelo fim da PM não se pode esperar que isso seja feito pelos que promovem e aceitam tais ações. As mortes nos campos e os tiros nas cidades mostram o que é a PM. A questão é que os trabalhadores também não podem ir para as manifestações para tomarem tiros e serem espancados. Os sindicatos e centrais têm que estimular e organizar comissões de autodefesa, em cada fábrica, em cada local de trabalho, que organizem as manifestações e defendam os manifestantes contra a repressão. Ela só vai aumentar e se queremos vencer é preciso que nos organizemos. Na luta contra o capital, a arma dos trabalhadores é a sua organização.