A frase acima é de um trabalhador que atua no Hospital São José, em Joinville (SC), e está diariamente na linha de frente no combate à Covid-19. Ele foi entrevistado por um dos comitês de ação Fora Bolsonaro e, neste texto, preservamos seu nome. De acordo com ele, “as coisas estão cada vez piores, tenho vários colegas que já foram contaminados e estão em quarentena. Não para de chegar gente e estamos trabalhando dobrado por falta de pessoal”.
O trabalhador ainda fala sobre os investimentos e doações feitas por empresários da região, que supostamente aumentaram a estrutura do hospital:
“Essas novas alas que foram noticiadas já faziam parte do São José, eram de setores que foram fechados para dar espaço para os casos de Covid. Eles só foram lá e deram uma mexida por cima […]. Os leitos que foram entregues são muito inferiores aos que já tínhamos, inclusive os que vieram da ortopedia, isso dificulta ainda mais o nosso trabalho e nos sobrecarrega outras funções. Onde está esse dinheiro que foi doado? Por que não querem mostrar os números?”.
O Hospital São José se tornou referência para os casos de Covid-19 na região para continuar recebendo investimentos, mas há muito tempo sofre com problemas de infraestrutura, com a emergência lotada, falta espaço para os pacientes, falta funcionários para agilizar o atendimento e até mesmo equipamentos de apoio. Esse é o reflexo do sucateamento do serviço público de saúde.
De acordo com o trabalhador, no início, quando os casos do coronavírus começaram a aumentar, a uma quantidade de equipamentos de proteção individual era limitada por funcionário. Alguns chegaram a receber advertência por usarem máscaras fora do atendimento.
“Muitos fumam, bebem, são hipertensos, têm diabetes, como todo mundo. A gente conversa, a máscara umedece e perde sua função protetora, não dá pra limitar apenas duas máscaras por funcionário”, explica.
E esses ataques aos trabalhadores da saúde não se limitam apenas a uma instituição, no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, administrado pelo governo do estado, houve um corte de refeições para os funcionários, o que levou a muitos deles a protestarem contra a medida, paralisando suas atividades. Segundo o sindicato, o corte afetaria aproximadamente 980 servidores que atuam em turnos de 12 horas.
Não bastasse, na última semana, foram realizados testes em servidores da rede pública de saúde da cidade (apenas após muita pressão dos próprios trabalhadores). O resultado foi a confirmação de um grande número de profissionais contaminados, com unidades básicas com um, cinco, oito e até mesmo 17 trabalhadores positivados. O protocolo é atestar por sete dias estes profissionais e a situação vai piorar ainda mais a já crítica falta de servidores para atender a população. Um problema ainda maior é que os que não foram identificados como contaminados ainda podem estar na janela imunológica (período em que o vírus não é identificado nos testes) e são eles que, a partir da próxima segunda, farão mutirões de testagem em mais de 300 pessoas por dia em toda a cidade.
Segundo dados divulgados pela prefeitura, Joinville possuía, em 12 de junho, 23 mortes e 654 casos confirmados, mas o próprio prefeito e empresário Udo Döhler (MDB) já afirmou que o número real pode ser até 10 vezes maior que os oficiais.
Mais recentemente, na manhã de sexta-feira (5/6), quando foi perguntado sobre os dados em uma entrevista para uma rádio local, o próprio prefeito contrariou os números oficiais, com uma declaração totalmente incompreensível, onde afirmou que “na verdade, Joinville só possuí quatro mortes por coronavírus” e que duas delas foram “por causa de enfermeiros que contraíram o vírus em seus lugares de trabalho”.
A postura do prefeito não é diferente da de Bolsonaro e dos grupos de empresários e outros políticos que servem à burguesia. Eles não têm compromisso com a verdade, não querem que as pessoas saibam a profundidade da crise. Por isso, atitudes como a de ocultar os dados oficiais caem como uma luva para que possam continuar com suas políticas de extermínio.
Outro ataque direto aos trabalhadores foi a permissão do governo do Estado para que o transporte coletivo nas cidades voltasse a operar. Em Joinville, onde a quarentena praticamente não existe mais há semanas, esse retorno começou segunda (8/6) e ônibus operam lotados como sempre foram. Medidas como essa servem apenas para aprofundar a crise sanitária em que vivemos hoje, o aumento do número de contaminados e de mortes.
Udo Döhler é mais um que assumiu o compromisso de defender os interesses dos seus colegas empresários e não mede esforços para colocar a vida dos trabalhadores ainda mais em risco para garantir o lucro dos patrões.
Apenas a unidade dos trabalhadores através da luta organizada é capaz de barrar esses ataques e garantir nossas necessidades básicas, o direito ao emprego, à saúde pública de qualidade e à vida.
Entre em contato conosco, venha fazer parte de um Comitê de Ação Fora Bolsonaro para, juntos, construirmos essa luta. Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!