Vimos por meio desta nota repudiar veementemente a reintegração de posse ocorrida na madrugada do 28 de março de 2017. Um dia que entra para a história, de forma trágica, como mais um exemplo prático da falência de um suposto Estado de bem estar social. Instituições públicas como promotoras diretamente das arbitrariedades. Uma sociedade bárbara e falida, que aposta na intransigência e no profundo desrespeito com seus cidadãos mais vulneráveis e que mais precisam. Para as famílias não foi dada nenhuma alternativa e somente não houve uma tragédia ainda maior, com sangue e confronto, por conta da decisão coletivamente tomada pelas famílias da Ocupação de não enfrentar a Polícia Militar.
Apontaremos aqui, de forma sintética, cada um dos responsáveis pela criminosa reintegração de posse: Juiz, Prefeito e Governador. Juiz por ter ignorado a própria legislação e todos os procedimentos para uma solução pacífica e negociada. Serviu como mero protetor do proprietário, atuando de forma parcial. Prefeito porque ignorou o papel mediador que poderia cumprir, “lavando as mãos” de sua responsabilidade como gestor da ordem urbanística. Contradição enorme e que não se sustenta. Pior, ao iniciar a reintegração, não garantiu nenhuma solução alternativa de política habitacional, nem mesmo aceitou fornecer um ginásio. A culpa das famílias não terem onde ir passa pela suas mãos. Governador Alckmin, sua responsabilidade poderia ser medida de várias formas. Mas, fundamentalmente, porque a responsabilidade da Polícia Militar é sua. Você poderia ter adiado a ação da PM, dando mais tempo para as negociações com proprietário e famílias, e junto à Prefeitura. Lava as mãos e se exime de responsabilidades. Combinou com o Prefeito Jonas a tragédia realizada. Poderíamos ainda falar do governo federal, mas Temer é a expressão máxima da conjuntura em que estamos. Poderíamos falar do proprietário, mas ele é tão “vítima, tadinho”, que precisa ter de volta sua propriedade… para fazer o que mesmo? Abandonada por 35 anos, sem qualquer função social, pagando ITR e nem mesmo IPTU, com uma área como zona especial de interesse social, mas ele pode tudo… ele é o dono.
Mostraremos nas ruas como reagir à lógica dos proprietários especuladores que destroem as cidades. Não tenham dúvidas que cobraremos cada um e que a Comunidade Nelson Mandela seguirá de cabeça erguida e cara limpa, com a consciência tranquila de que luta por direitos devidos, com métodos corretos, e que somente a unidade e mobilização poderá avançar nas conquistas.
Sabemos que não somos um caso isolado, que estamos sofrendo as decorrências da conjuntura de aprofundamento da luta de classes, com enormes retrocessos sociais sendo impostos por uma minoria elitista, representada por empresários, latifundiários, especuladores, etc. Eles nos tacham de inimigos. Eles têm medo de nossa luta. Sabemos que eles não querem que “a moda pegue”, e que outras ocupações ocorram, com um protagonismo popular, da periferia, do povo organizado.
Justamente por isso nós sabemos que não podemos parar. Aqui está o povo sem medo, sem medo de lutar. Estamos ainda nos recompondo, ajudando cada família, organizando seus pertences e locais provisórios, respirando fundo e ganhando ainda mais ânimo para enfrentar os poderosos. Cada lágrima, cada palavra que expressou indignação, ódio, injustiça nós iremos canalizar para a força da organização. A luta continua! Amanhã será maior!
“Viva a luta da Comunidade Nelson Mandela!”
“Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um dever!”
“Que barulho é esse, parece um trovão, é o Nelson Mandela querendo atenção!”
“Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro!”
Campinas, 30 de março de 2017 – Famílias da Comunidade Nelson Mandela