Anunciado por Donald Trump como um “acordo de paz” para o Oriente Médio, a nova proposta para o conflito entre Palestina e Israel não passa de mais uma ação para reforçar o apoio que o imperialismo norte-americano historicamente tem dado ao regime sionista. As medidas apresentadas, em concordância com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, são uma série de termos humilhantes para os palestinos que, longe de “pacificar o Oriente Médio”, tende a agravar ainda mais as tensões na região.
As condições do “acordo” teriam que ser aceitas e defendidas por todas as facções palestinas, incluindo o Hamas. Porém, os líderes palestinos não foram chamados para negociar, nem participaram da elaboração da proposta. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, já se pronunciou comparando o mapa do “novo” Estado palestino com um queijo suíço e disse que se a paz for imposta, ela não vai durar.
Acontece que nem Trump nem Israel tentaram conquistar o apoio de qualquer liderança palestina ao plano. O que Trump chama de “Acordo do Século” não é um acordo de verdade, mas um ultimato. Seu objetivo é colocar todo o ônus sobre os palestinos sobre como fornecer as condições ideais para a realização do plano – com uma série de demandas impossíveis – oferecendo assim, caminho livro para as autoridades israelenses sobre como perseguir seus objetivos após a rejeição.
Israel já está agindo nesse sentido. Diante da possibilidade de anexação dos assentamentos ao território israelense, Netanyahu aprovou, em 27 de fevereiro, a construção de 1.800 unidades habitacionais na Cisjordânia, incluindo no assentamento de Eli. Além disso, no dia 25 de fevereiro, o primeiro-ministro “deu sinal verde para a construção de 3.500 casas no corredor conhecido como E1, em Jerusalém Oriental, ao lado do assentamento de Ma’ale Adumim, um dos maiores da área.” (O Globo, 27/2)
O que propõe o imperialismo
Em primeiro lugar, o “novo” Estado palestino seria baseado no reconhecimento dos assentamentos da Cisjordânia e Jerusalém Oriental como território israelense. As autoridades palestinas também deverão renunciar qualquer reivindicação futura sobre essas terras ou objeções à maneira como Israel assumiu o controle delas. Para termos uma ideia do que isso representa, é preciso compreender que estamos tratando dos territórios que foram tomados por Israel durante a Guerra dos Seis Dias, de 1967. Atualmente, existem mais de 140 assentamentos judeus em território palestino, que abrigam cerca de 500 mil pessoas.
Regiões estratégicas como o vale do Jordão, onde ficam as terras agrícolas mais importantes, passariam para as mãos de Israel, assim como o controle sobre as águas do Mar Morto e do rio Jordão. Em teoria, a Palestina teria acesso aos portos de Haifa e Ashdod – que já estão sujeitos ao controle de Israel –, mas, na prática, o governo israelense continuará como poder de abrir ou fechar o acesso conforme sua vontade.
O acordo também prevê a criação de duas áreas ao sul de Gaza, na fronteira com o Egito, que seriam conectadas por estradas e desenvolvidas como zonas econômicas especiais para investimentos. Entretanto, novamente Israel teria o poder de abrir e fechar as estradas de acesso a trabalhadores, suprimentos e produtos acabados, bloqueando assim qualquer desenvolvimento possível para a área.
Jerusalém se tornaria a capital “indivisível” de Israel. Os palestinos ficariam com a vila de Abu Dis, que engloba alguns bairros no subúrbio da cidade, como a nova capital e não teriam exército próprio para controlar seus territórios, tendo que reconhecer um regime de ocupação militar efetiva de um exército estrangeiro e hostil, a Força de Defesa de Israel.
As autoridades palestinas teriam que aceitar uma cláusula de “não há direito de retornar” para os refugiados palestinos de 1948 e 1967 e abandonar quaisquer reivindicações territoriais anteriores. Além disso, eles teriam que aceitar Israel como um Estado judeu.
Estes são apenas alguns pontos que já expressam o absurdo apresentado pelos EUA e Israel. Ao fim e ao cabo, o que oferecem aos palestinos é um mini-Estado, com a Cisjordânia e o enclave de Gaza. Se concretizado o plano, o “novo” Estado palestino será um conglomerado de lotes separados, conectados por um labirinto de pontes ou túneis.
Há solução para o problema?
Em “A história oculta do sionismo”, o jornalista Ralph Schoenman detalha o que é o movimento sionista:
“O que distingue o sionismo dos demais movimentos coloniais é a relação entre os colonos e o povo a ser conquistado. O movimento sionista tem como objetivo declarado não somente explorar o povo palestino, mas também dispersá-lo e expropriá-lo.”
Essa é a raiz da questão. A classe dominante israelense, sionista, tem realizado um processo de colonização da Palestina desde o início do século 20. Começaram com a compra de terras férteis e fábricas no território palestino, conseguindo em 1947, o reconhecimento oficial do Estado israelense. De acordo com Schoenman:
“Entre o dia 29 de novembro de 1947, data da partilha da Palestina pelas Nações Unidas, e 14 de maio de 1948, quando o Estado de Israel foi formalmente proclamado, o exército sionista e a milícia apoderaram-se de 75% da Palestina, expulsando do país 780 mil habitantes.”
Nos anos subsequentes novos processos de expansão israelense ocorreram. Processos que contaram com brutal violência por parte de Israel, que não buscava apenas expulsar o povo palestino, mas exterminá-lo. O que está ocorrendo agora é uma continuidade desses processos.
Se por um lado os EUA buscam fortalecer seu “braço” no Oriente Médio, por outro, os sionistas avançam em seus planos expansionistas de tomada de todo o território palestino.
Os marxistas reivindicam como única solução a criação de um Estado Palestino laico, onde possam viver árabes e judeus, sem distinção étnica ou religiosa. No entanto, também compreendemos que esse objetivo é impossível nos limites do capital. A libertação do povo palestino e das massas exploradas israelenses só poderá ser concretizada na luta por uma sociedade socialista.