No dia 9 de maio foi celebrado o acordo eleitoral entre Podemos e Izquierda Unida (IU) para, juntos, participarem das eleições de 26 de junho conjuntamente em seus acordos políticos na Catalunha (En Comú Podem), na Galícia (En Marea) e no País Valenciano, onde farão o pleito com Compromís. Esta é uma notícia extraordinária, ansiada durante meses por milhares de trabalhadores, jovens, militantes sociais e aposentados; e dá vazão a um entusiasmo transbordante.
No dia 9 de maio foi celebrado o acordo eleitoral entre Podemos e Izquierda Unida (IU) para, juntos, participarem das eleições de 26 de junho conjuntamente em seus acordos políticos na Catalunha (En Comú Podem), na Galícia (En Marea) e no País Valenciano, onde farão o pleito com Compromís. Esta é uma notícia extraordinária, ansiada durante meses por milhares de trabalhadores, jovens, militantes sociais e aposentados; e dá vazão a um entusiasmo transbordante, já que esta coligação da esquerda parte não somente com a possibilidade certa de ficar como segunda força nas eleições; como também aparece para disputar a vitória com o Partido Popular (PP).
No outro lado, entre os partidos e os políticos do atual regime, reinam o pânico e a histeria, vociferando todos na mídia contra a coligação Podemos–IU com o mesmo qualitativo de: “velha esquerda comunista”. Um assíduo colaborador do super-reacionário diário ABC, Gabriel Albiac – um “progressista” transformado em romeiro do regime – definia há poucos dias o previsível acordo Podemos–IU como “a aliança entre o ranço estalinista e o fascismo juvenil”.
Como dizíamos, todas as pesquisas de opinião antes de se materializar este acordo eleitoral já eram unânimes em predizer que o voto conjunto Podemos–IU superaria ao do PSOE (Partidos Socialista Operário Espanhol), o que, previsivelmente, deveria lhe dar também um número maior de cadeiras no Congresso dos Deputados. Mas a isso devemos acrescentar o impulso adicional que terá o efeito de arraste de se apresentarem unidos, transmitindo uma sensação de força e confiança, fato que poderá dar à coligação Podemos–IU condições, inclusive, de disputar a vitória com o PP.
Nas eleições passadas, em 20 de dezembro, grande parte a decolagem do Podemos na Catalunha, Galícia e Comunidade Valenciana teve como base os dias que precederam o início da campanha eleitoral, com discursos muito radicais e combativos, reforçados pelos posteriores debates televisionados e os comícios de massa do Podemos e seus acordos políticos durante a campanha eleitoral em todas as zonas da Espanha. Supõe-se que comícios conjuntos de Pablo Iglesias e Alberto Garzón serão agora ainda mais massivos, criando um ambiente eletrizante em todo o país.
De fato, uma pesquisa do Centro de Pesquisas Sociológicas (CIS em sua sigla em espanhol), de início de abril e publicada recentemente, mostrava que a intenção direta de voto era mais simpática a Podemos, IU e seus acordos, em conjunto, do que ao PP. Mais ainda, a mesma pesquisa mostrava que a intenção direta de voto a Podemos–IU-acordos ganhava em todas as faixas etárias entre aqueles com menos de 55 anos. O PSOE era a primeira força na faixa de 55 a 64 anos e o PP somente ganhava entre os de 65 anos ou mais.
E se isso era registrado há um mês, quando todos se lançavam contra o Podemos, culpando-o pela inevitabilidade de novas eleições, o ambiente atual e as expectativas geradas pelo acordo Podemos–IU só fará reforçar estas tendências.
O que preocupa a burguesia espanhola
A burguesia espanhola tem por que se preocupar. Não somente tem visto milhões mobilizados nas ruas durante os anos de crise, cortes, pobreza e injustiças sociais; também vê os mesmos milhões a intervir ativamente na política, com o voto e com a militância organizada, por meio de algumas organizações (Podemos, IU, seus acordos políticos e movimentos sociais de todo tipo), fugindo ao controle direto dos ricos e dos poderosos.
Para a classe dominante espanhola, o crime das pessoas comuns é decidir agora tratar seriamente seus jargões oficiais, repetidos como um mantra durante anos, sobre “a necessidade da participação cidadã na política como um elemento de vitalidade democrática”. Assim, as pessoas comuns, milhões de trabalhadores, jovens, donas de casa e aposentados, decidiram participar seriamente da política e tomar o próprio destino em suas mãos. Suas reivindicações são bem modestas e concretas: postos de trabalho e salários descentes; aposentadorias dignas; que toda pessoa possa ter um teto para viver; estudo sem restrições econômicas; uma saúde pública bem servida e para todos; que os ricos paguem impostos; que as pessoas possam se expressar e se manifestar livremente sem risco de serem multadas ou presas; e que o povo possa dispor de seu destino sem esperar a aprovação das damas e dos cavalheiros de Bruxelas (sede da União Europeia). O capitalismo espanhol não somente não pode garantir nenhuma destas demandas, como seu regime trabalha ativamente contra elas. Eis a questão do tema.
Mas as pessoas comuns, enquanto apertavam o cinto, perdiam seu trabalho, viam reduzir seus salários e benefícios sociais, ou deixavam de estudar por não poderem pagar as altas taxas de matrícula; viram que os mesmos banqueiros, industriais e políticos que defenderam e aplicaram essas políticas ganhavam montanhas de dinheiro e tinham suas fortunas depositadas em paraísos fiscais, bem distantes do controle da receita pública e sem pagar um euro de impostos.
As massas trabalhadoras não estão dispostas a voltar a suas casas com as mãos vazias. Este é o medo mortal que faz a burguesia suar: que a incapacidade do capitalismo espanhol de satisfazer as necessidades básicas das famílias trabalhadoras empurre as camadas, cada vez mais amplas, a ideias anticapitalistas e socialistas de expropriação do grande capital especulativo e do controle público da riqueza do país, para que sirva às necessidades da imensa maioria. E já não têm um PSOE poderoso nem alguns dirigentes sindicais com autoridade para frear este movimento de massas e de radicalização política, por meio da traição aberta e da frustação, para desviá-lo para caminhos seguros ao regime. Por sua vez, a velha guarda conservadora e enrugada do PCE (Partido Comunista Espanhol) e da IU, que também desempenhou um lamentável papel no passado – personificada em figuras grotescas como Llamazares ou o núcleo íntimo em torno de Cayo Lara; perdeu o controle da organização e teve que retroceder, maldizendo pelos cantos a nova direção, mais à esquerda e combativa, representada por Alberto Garzón.
Conquistando uma posição após outra
Olhando em retrospectiva, os movimentos de oposição política ao atual regime capitalista caduco – independentemente da confusão e da falta de clareza em seus objetivos e de suas direções atuais – não faz outra coisa que avançar, conquistando uma posição após outra sem nenhum revés sério.
Começou com a arrancada de 8% do Podemos nas eleições europeias há dois anos (e os 10% da IU); continuou, um ano mais tarde, com o despejo do PP das grandes cidades e da maioria das Comunidades Autônomas que governava e com a conquista das grandes cidades para os “Ayuntamientos del Cambio” (Câmaras Municipais da Mudança) em Madrid, Barcelona, Valência, Zaragoza, Cádiz, Santiago e La Coruña; prosseguiu com as eleições de 20 de dezembro, quando o Podemos e seus acordos políticos na Catalunha, na Galícia e no País Valenciano varreram o PSOE das principais zonas industriais e operárias da Espanha na Catalunha, no País Basco, em Madrid, na Galícia, no País Valenciano, nas Ilhas Baleares e nas Canárias e se aproximaram muito em Aragão e nas Astúrias. Em seguida, a soma de votos de Podemos–IU-acordos superou a do PSOE em 600 mil e ficou situada, potencialmente, como a segunda força política do país, um marco histórico. Hoje, a ratificação deste segundo posto nas eleições de 26 de junho já é certa, não havendo mais controvérsia sobre isso e o que se pretende é despontar como a principal força política do país.
Por tudo isso, aguarda-se para as próximas semanas uma escalada da campanha infame de mentiras, calúnias e criminalização que já sofrida contra o Podemos, a IU e seus acordos políticos, sem precedentes desde a época da ditadura franquista. Mas isso terá o efeito de polarizar toda a campanha ao redor da coligação de esquerdas, enquanto que as diferenças entre PP, Ciudadanos e PSOE ficarão cada vez mais dissimuladas.
A necessidade de um programa socialista
Celebramos o amadurecimento político dos dirigentes do Podemos e da IU em saber elevar sobre interesses partidários mesquinhos e prejuízos políticos sem sentido a consideração dos interesses da classe trabalhadora e dos demais setores populares oprimidos, enfrentando as resistências internas dos setores minoritários, imobilistas e conservadores. Trata-se agora é de lançar uma campanha unitária, entusiástica e o mais massiva possível com atos de multidões com as principais referências da coligação das esquerdas.
Porque se trata, como proclamou Pablo Iglesias, de se arrancar o PP do Moncloa (palácio sede do governo espanhol) e atirar dali também suas políticas: revogar as reformas trabalhistas do PP e do PSOE, a Lei da Mordaça (que está impondo uma média de 30 multas diárias a militantes trabalhadores e sociais por exercerem seu direito à liberdade de expressão e de manifestação) e a lei de ensino LOMCE; proibir os despejos; reduzir as taxas universitárias; incrementar os gastos sociais; elevar o salário mínimo e os salários em geral; reconhecer os direitos democrático-nacionais dos povos catalão, basco e galego, com a celebração de um referendo acerca da autodeterminação etc. À espera de conhecer concretamente o programa eleitoral que apresentará a coligação, aguarda-se similaridade com o apresentado em dezembro e que recolherá as demandas mais sensíveis às famílias dos trabalhadores.
Contudo, também temos que advertir que um eventual governo da esquerda enfrentará desde o primeiro dia a irreconciliável oposição da oligarquia espanhola. Os capatazes de Merkel (chanceler alemã) em Bruxelas já estão exigindo do governo espanhol um ajuste de 10 bilhões nos gastos públicos deste ano para alcançar o objetivo de déficit que querem impor. Para atender às demandas sociais é necessário tirar o dinheiro de algum lugar, não somente elevando os impostos para os parasitas ricos que escondem suas fortunas aos olhos do povo, mas também da enxurrada de dinheiro que escoa todos os anos com o pagamento da infeliz dívida pública. Mesmo assim não seria o suficiente no atual contexto de estagnação econômica mundial.
A experiência do governo de Tsípras na Grécia mostra que, a menos que um governo dos trabalhadores e do povo arrebate as oligarquias (os bancos, as grandes empresas, os latifúndios) do comando da economia, será submetido por estas a uma pressão implacável para fazê-lo retroceder e colocá-lo de joelhos. Por isso, acreditamos que é necessário romper com o capitalismo e adotar um programa verdadeiramente socialista.
Nossa tarefa como marxistas é acompanhar ao movimento de massas dos trabalhadores e da juventude e explicar, pacientemente, estas ideias, confiando que a experiência faça ver a necessidade de vincular a luta pelas reformas mais imediatas com a transformação socialista da sociedade, como única saída ao caos e à barbárie capitalistas, não somente na Espanha, mas na Europa e em todo o mundo.
Artigo publicado originalmente em 10 de maio de 2016, no site Lucha de Clases, da sessão da Corrente Marxista Internacional (CMI) na Espanha, sob o título “El acuerdo electoral de PODEMOS, IU y sus confluencias desata el entusiasmo popular y provoca el pánico del régimen“.
Tradução de Nathan Belcavello.