Bruno Aiub, mais conhecido como Monark, apresentador do Flow Podcast, defendeu na última segunda-feira (7) a ideia de que deveríamos viver em uma sociedade na qual a liberdade de expressão fosse irrestrita, incluindo a liberdade para posicionamentos racistas e antissemitas. O que pensam os marxistas sobre o tema?
Para a classe trabalhadora, a existência de maiores liberdades democráticas e de expressão nos países capitalistas permite que ela manifeste a sua consciência por meio da linguagem. Dessa maneira, existem melhores condições para que os trabalhadores se organizem politicamente por meio de sindicatos, associações e partidos políticos. Para os comunistas, defender a liberdade de opinião e expressão é um dos fundamentos da luta pelos objetivos imediatos e históricos dos trabalhadores.
Por exemplo, sem liberdade de expressão, convencer os operários sobre a necessidade de lutar por uma sociedade socialista (que nunca existiu), onde os mais avançados meios de produção, de imprensa, de comunicação, serão geridos pela coletividade, e não para reproduzir o capital, torna-se uma tarefa mais difícil. Em condições de forte bonapartismo, em períodos de exceção política ou sob um governo fascista, organizar os trabalhadores, mesmo que para suas reivindicações mínimas, demanda muito mais energia que em uma república democrática, e gera elevadas perdas.
A liberdade de expressão, no entanto, tende a diminuir no capitalismo, na medida em que a crise econômica se aprofunda e a agitação social se expande. Ela surgiu historicamente em uma época em que a burguesia precisava dela para ascender como classe, contra seus antigos inimigos. Hoje, qualquer sinal de aumento da atividade política dos trabalhadores é respondido com repressão. A burguesia destrói aos poucos o que foi uma das conquistas das revoluções burguesas dos séculos passados.
Depois de toda essa introdução, o que precisamos levar em conta aqui é que o youtuber Monark, ao simpatizar com a existência legal de um Partido Nazista, não está atuando no âmbito de uma assembleia de trabalhadores, não está falando dentro de um partido operário, comunista ou de um sindicato. Tampouco falou como um membro da classe trabalhadora. Além disso, o único compromisso do podcast “Flow” é, como o de toda mídia/empresa burguesa, fazer dinheiro para seus proprietários, reproduzindo o capital. Como vimos em vários episódios da história, se for necessário para a imprensa burguesa apoiar ditaduras em nome da defesa dos seus interesses de classe, ela fará. O nazismo foi apoiado por muitos setores dessa imprensa e patrocinado pela burguesia.
Seria impensável, em um espaço de organização dos trabalhadores, um trabalhador advogar pelo extermínio físico de si próprio e de seus companheiros: as tropas de assalto fascistas/nazistas destruíram fisicamente as organizações políticas dirigidas pela social-democracia e pelos comunistas. A luta dos fascistas pelo poder político adotou táticas bem-sucedidas durante a primeira metade do século 20, ao canalizar o ódio das massas contra o sistema capitalista em crise, contra os reformistas traidores, e submeter as organizações operárias ao Estado fascista, incluindo até, como método dessa luta, o extermínio físico dos seus oponentes.
Um companheiro trabalhador que estiver ao lado da “liberdade de expressão e organização” para os nazistas em uma assembleia ou célula de um partido comunista deve ser alertado sobre o erro que significa defender liberdade de organização para nossos algozes. Esse companheiro pode estar sendo idealista, estar aderido às ideias burguesas de liberdade abstrata, cidadã. Portanto, em primeira instância, devemos ter paciência com falas desse tipo. Mas essa paciência de maneira alguma será infinita. Caso a defesa de nazistas seja convicta, provavelmente esse “defensor da liberdade” não é um companheiro, mas um infiltrado da direita, um provocador da polícia.
Monark, certamente, não é um fascista. Tampouco é um socialista ou comunista. Ademais, desconhece que o ataque ao liberalismo era base do fascismo, como podemos ver nas obras de Mussolini de maneira cristalina. Nesse sentido, a defesa da existência de um Partido Nazista como parte de uma agenda de liberdades é suicida. Monark é um liberal do tipo “animador de torcida”, ignorante sobre a história do liberalismo no período fascista. Mesmo que os nazistas e os fascistas odiassem os comunistas e quisessem exterminá-los, em relação aos liberais, sentiam repulsa e desconfiança, pois embora fossem considerados menos perigosos ao seus domínios, deveriam, sob a mira das armas de fogo, canivetes e porretes, ficar calados.
Ele também demonstra desconhecer a história e o que realmente foi o nazismo. A base de sua argumentação parte da defesa de uma “democracia pura”, em que todos podem expressar qualquer opinião, sejam elas racistas, antissemitas etc. Seria essa uma forma, segundo Monark, de expor aqueles que defendem essas ideias. Como afirmou Lenin, “a ‘democracia pura’ é uma frase mentirosa de liberal que procura enganar os operários. A história conhece a democracia burguesa, que vem substituir o feudalismo, e a democracia proletária, que vem substituir a burguesa”.
E mais adiante explica:
“A democracia burguesa, sendo um grande progresso histórico em comparação com a Idade Média, continua a ser sempre — e não pode deixar de continuar a ser sob o capitalismo — estreita, amputada, falsa, hipócrita, paraíso para os ricos, uma armadilha e um engano para os explorados, para os pobres.”
Como comunistas, defendemos toda liberdade de expressão para os trabalhadores e seus instrumentos de organização (partidos, sindicatos etc.), entretanto, não somos a favor da censura ou proibição de partidos burgueses, pois sabemos que se algo do tipo acontecer, serão os comunistas censurados e tornados ilegais da mesma forma. Nos opomos à legalização de um Partido Nazista não porque ele defende ideias burguesas (o que faz abertamente), mas, sim, por se tratar de um tipo de partido utilizado pela classe dominante para preservar o capital a qualquer custo, isso inclui, como demonstrado anteriormente, exterminar fisicamente operários e toda a sua vanguarda. O fascismo/nazismo surgiu na época de decadência do capital, na sua fase imperialista, como último recurso para salvar um regime agonizante da revolução socialista.
Se a república burguesa proibiu o nazismo para se salvar da fúria popular no pós-guerra, os comunistas devem defender que o nazismo não seja só proibido como “ideologia política”, mas devem combatê-lo. Para isso, os trabalhadores precisam contar com seus próprios métodos de luta, e não devem confiar de forma alguma na Justiça e instituições burguesas. Um importante exemplo na nossa história foi o combate ocorrido na Praça da Sé, em 1934, no episódio que ficou conhecido como a Revoada das Galinhas Verdes, quando a Frente Única Antifascista barrou o avanço dos integralistas. Não se trata de criarmos uma fogueira em praça pública para, após vasculhar casas, queimar documentos de autores fascistas. Eles carregam valor histórico para que aprendamos com os erros passado. Nem mesmo se trata de proibir um dos livros de Hitler, como fez recentemente a prefeitura do Rio de Janeiro, atitude hipócrita e eleitoreira dos vereadores. Trata-se do seguinte: bem, os nazistas são pela cassação do direito a livre expressão dos trabalhadores, principalmente se forem comunistas, e pelo extermínio físico da sua vanguarda. Vamos defender a liberdade de organização para nazistas?