Tese Aberta à Discussão – III Congresso do PT
No Brasil que os petistas querem a terra pertencerá a quem nela trabalha e não existirá o latifúndio. Viveremos o pleno emprego e os trabalhadores controlarão as fábricas e as empresas. Toda a juventude estudará em escolas públicas e gratuitas e os idosos serão reverenciados porque já fizeram muito e sabem mais. E tudo que se refere à saúde será público e gratuito. Todo o povo trabalhador terá acesso às bibliotecas. E a fome, a miséria e sofrimento serão eliminados.
A condução política dos destinos no Brasil não estará mais nas mãos da burguesia e seus políticos profissionais. O povo trabalhador do campo e da cidade controlará democraticamente toda a sociedade elegendo diretamente seus representantes em grandes assembléias populares. Estes representantes serão revogáveis a qualquer momento e estarão em permanente aliança com os explorados e oprimidos de todo o mundo.
No Brasil que os petistas querem e que a classe trabalhadora necessita, os bancos e o sistema financeiro, as grandes empresas nacionais e multinacionais, serão estatais e sob controle dos próprios trabalhadores, que organizados de forma democrática e independente centralizarão seus esforços para planificar toda a economia e colocá-la a serviço da maioria do povo.
No Brasil que queremos o capitalismo foi derrotado e acabou-se o regime da propriedade privada dos grandes meios de produção, terminando com a exploração e a opressão. A palavra felicidade não será um sonho longínquo, mas o cotidiano de homens e mulheres emancipados.
Foi para isso que o PT nasceu. Este é o Brasil socialista que queremos como parte da grande irmandade que é a classe trabalhadora internacional, oprimida e explorada. Um partido socialista que apóia a revolução na Venezuela e na Bolívia, que exige a retirada das tropas invasoras do Iraque e defende a autodeterminação dos povos, trazendo de volta imediatamente as tropas brasileiras que comandam a ocupação do Haiti.
Mas não se conquista o paraíso rezando. É preciso lutar para realizar os sonhos
Por isso, a história da classe trabalhadora é a história de suas lutas para sobreviver enfrentando a exploração do regime capitalista e preparando suas forças para a construção do socialismo. A história de todas as sociedades sempre foi a história da luta de classes, da luta dos oprimidos contra seus opressores.
Por isso não haverá avanço duradouro se não começarmos por romper o Governo de Coalizão de nosso partido com os partidos do capital (PMDB, PP, PL, PTB e outros) e constituirmos um governo dos trabalhadores para “destravar” verdadeiramente o Brasil das amarras do capitalismo e caminhar para o socialismo.
A votação de Lula no primeiro turno das eleições de 2006 foi o resultado dos quatro anos do primeiro governo. Após ter conquistado uma maioria em 2002, em vez de ampliar o apoio popular, Lula faz apenas 48% dos votos. Um governo ao lado do povo deveria fazer a mesma trajetória que fez Chávez na Venezuela que a cada eleição amplia percentualmente seu apoio e chega a 2006 conquistando 63% dos votos. E declara então que se trata de enterrar o capitalismo e construir o socialismo.
O susto do 1º Turno faz girar a campanha. Com a denúncia das privatizações de FHC e Lula declarando que esta era a eleição dos “pobres contra os ricos”, traz de volta parte dos que abstiveram, votaram nulo ou branco e ainda arranca 2 milhões de votos de Alckmin. O povo trabalhador barrou a volta da burguesia ao Governo Federal.
Agora, é preciso governar para quem deu o mandato. Interrompendo já os leilões de áreas petrolíferas, cancelando o projeto de pedágio nas estradas federais, reestatizando todas as empresas privatizadas, as fábricas ocupadas, iniciando a reforma agrária.
Todas as grandes correntes que conformam a DN PT aprovaram, unidas, toda a política do governo e especialmente apoiaram a formação do “Governo de Coalizão” com PMDB, PP, etc. Prometem aos petistas e aos trabalhadores que vão “destravar” o Brasil com “Desenvolvimento, distribuição de renda e educação de qualidade”. Mas, não vão cumprir a promessa se o PT não enfrenta a verdadeira trava da economia, ou seja, a exploração do imperialismo, do capital.
Não se pode contornar a situação mundial que se encontra num impasse e que tem como horizonte uma crise e uma brutal recessão. O imperialismo semeia tempestades e sofrimento sobre o planeta. Sem enfrentar isso com controle de câmbio, monopólio do comércio exterior e principalmente a anulação unilateral das Dívidas Interna e Externa, não haverá nenhum destravamento. Apenas falsas soluções que empurram o problema para frente.
Um governo de coalizão do PT, Partido dos Trabalhadores, com Delfin Neto, ex-ministro da ditadura militar, com Sarney, presidente biônico, com apoio de Collor de Mello, expulso da presidência, com corruptos como Quércia e Jader Barbalho, só pode levar à desmoralização de Lula e do nosso partido, o PT.
Este 2º Governo Lula de coalizão com a burguesia viverá em crise e vai ser levado pelas pressões da burguesia a tentar continuar desenvolvendo uma política no interesse do capital, da ordem. Ele será extremamente pressionado pela burguesia, e pelo imperialismo, para retomar e aprofundar todos os ataques previstos, como as Reformas Trabalhista e Sindical, da Previdência, Universitária e outras. Entrando neste caminho o governo Lula vai aprofundar os choques, já iniciados no primeiro mandato, com os trabalhadores do campo e da cidade, que estão fortalecidos pela derrota que impuseram à burguesia (Alckmin). E que reelegeram Lula mesmo estando desconfiados e mais exigentes em relação ao segundo mandato de Lula. Novas e grandes lutas de classes se avizinham.
Não é possível fazer um governo de harmonia entre o capital e o trabalho, fazendo desaparecer a luta de classes. A colaboração de classes é uma ilusão e uma política trágica. O único resultado seguro deste “Governo de Coalizão” só pode ser o mergulho do PT em uma crise política ainda maior do que todas as que já viveu até agora.
A DN PT e Lula deveriam fazer o que faz Chávez na Venezuela, aprofundando a revolução que todos apoiamos com tanto entusiasmo. Chávez estatiza as fábricas ocupadas e anuncia a reestatização de todas as empresas privatizadas. Defende a revolução cubana e a mais ampla coalizão contra o imperialismo, inicia a reforma agrária. Se Lula faz a mesma coisa teria o apoio e a mobilização nas ruas de dezenas de milhões de trabalhadores do campo e da cidade.
Fazer a Reforma Agrária, estatizar os bancos e as grandes empresas, sob controle e administração democrática da classe trabalhadora, esta é a condição prévia para uma economia planificada socialista. Só isso pode resolver definitivamente os problemas do povo brasileiro.
A única coalizão de que o povo precisa é um governo do PT, sem ministros burgueses, com as organizações do movimento operário e camponês. É a estes que Lula e nosso partido devem o segundo mandato. Este é o governo que o povo trabalhador precisa para retirar as tropas do Brasil da vergonhosa ocupação do Haiti, para fazer a Reforma Agrária, reestatizar a Vale do Rio Doce, as ferrovias, os serviços públicos e mobilizar as classes trabalhadoras para enfrentar os capitalistas e o imperialismo, abrindo caminho para o socialismo.
Defender as conquistas e reivindicações lutando pelo socialismo
Na sua luta contra a minoria de privilegiados, proprietária dos meios de produção, das fábricas, empresas e dos latifúndios, a classe trabalhadora só tem uma arma, que é a sua organização. Foi com esta arma que os trabalhadores da cidade e do campo abriram, no Brasil, uma nova perspectiva para milhões e milhões de oprimidos construindo o PT para mudar radicalmente a sociedade. O PT não nasceu para gerenciar os negócios da burguesia e seu aparelho de Estado, que garante a repressão e o controle social para que os capitalistas continuem com seus privilégios fantásticos e os trabalhadores suando de sol a sol, angustiados com o futuro de sua família e o seu próprio.
Jamais conquistaremos o Brasil que queremos se não soubermos defender nossos atuais direitos, nossas conquistas e nossas reivindicações. O pouco que conquistamos foi fruto de muita luta e o que ainda necessitamos conquistar vai exigir grandes esforços da classe trabalhadora e da juventude. E para isso é preciso uma política verdadeiramente socialista e um partido de trabalhadores.
Sem um partido que só expresse os interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora não é possível conquistar nada duradouramente e muito menos o socialismo. Só uma revolução social pode tirar os privilégios desta minoria decomposta que se chama burguesia. Mas, nenhuma revolução pode ser vitoriosa sem um partido dos trabalhadores que tenha uma clara visão das forças em luta, da situação econômica e política, enfim que tenha aprendido com a história e esteja disposto a ir até o fim para conquistar os objetivos finais de sua classe. Um partido que defenda cada uma das conquistas atuais, recusando todas as contra-reformas atuais (Previdência, Trabalhista, Sindical e Universitária) e ajude a classe trabalhadora a se levantar por novas conquistas. Só este partido pode acabar com toda a opressão e exploração e tomar em suas mãos todo o poder político e econômico no Brasil. Isto exige uma perspectiva marxista, um aprendizado com as experiências de Marx, Engels, Lênin e Trotsky, com a revolução russa e outras.
Nossas forças estão em nossa própria classe: “Que ninguém ouse duvidar da capacidade de luta da classe trabalhadora”. Só ela pode encontrar seu próprio caminho. É impossível conseguir que o escorpião deixe de ser escorpião, assim como é impossível conseguir que um capitalista deixe de explorar e oprimir os trabalhadores. Nenhum burguês com gravata vermelha vai fazer nosso trabalho.
Uns mentindo, falsificando, roubando, reprimindo, matando e fazendo guerras para manter os seus privilégios, outros lutando para livrar-se das correntes que oprimem. Tanto os trabalhadores como os capitalistas organizam os seus partidos de classe e elegem os seus políticos. Os políticos capitalistas sempre pretendem falar em nome de todo o povo para garantir a alegria de uma minoria exploradora.
A burguesia prometeu os céus, mas é incapaz de realizar sua promessa e mergulhou o planeta num inferno.
Ao mesmo tempo forças poderosas trabalham para impedir que os socialistas, os trabalhadores, rompam as barreiras do capitalismo. Eles tentam convencer todos de que o único horizonte possível é a reforma e a “humanização” do monstro imperialista. Mas, nosso partido, o PT, nasceu para emancipar os trabalhadores, romper com o regime da propriedade privada dos grandes meios de produção e construir o socialismo, instalando o verdadeiro reino da liberdade, igualdade e fraternidade. Esta é a tarefa que os petistas que se mantêm fiéis a sua classe e aos seus ideais socialistas têm que continuar.
O Socialismo que queremos
O socialismo nada tem a ver nem com a social-democracia que administra o capitalismo e nem com as ditaduras stalinistas que esmagaram a revolução russa e oprimiram todos os povos do leste europeu, assim como na China, Vietnam, etc. Os que chamavam o stalinismo de “socialismo real” não compreendiam nada do que era socialismo segundo os ensinamentos de Marx e Engels. O socialismo é a democracia das maiorias sobre a base da propriedade social, coletiva, dos meios de produção.
Cada país definirá, levando em conta a história e as condições políticas existentes, com a intervenção consciente dos socialistas, seu próprio caminho para o socialismo. Mas, se a luta de classes é nacional na sua forma, ela é internacional em seu conteúdo. Os princípios do socialismo são válidos em todo o mundo.
A nova ordem socialista tirará o funcionamento da indústria e de todos os ramos da produção das mãos de particulares e o entregará a toda a sociedade para funcionar segundo um plano comum e com a participação de todos os membros da sociedade.
Será abolida a propriedade privada, que será substituída pela utilização em comum de todos os instrumentos de produção e pela distribuição dos produtos com base num acordo comum, ou seja, pela chamada comunidade dos bens. A abolição da propriedade privada é, de fato, a síntese mais concisa e mais característica da transformação da ordem social em seu conjunto, transformação essa que deriva do desenvolvimento da indústria.
Hoje, graças ao desenvolvimento da grande indústria produziram-se capitais e forças produtivas em proporções jamais conhecidas antes. E existem os meios para aumentar ao infinito essas forças produtivas.
Essas forças produtivas, poderosas, ultrapassam, hoje, a tal ponto, os marcos da propriedade privada e dos estados nacionais, que provocam a todo instante as mais violentas crises econômicas e sociais. Atualmente, a abolição da propriedade privada tornou-se não só possível, como também absolutamente necessária.
As conseqüências da eliminação da propriedade privada
Ao despojar os capitalistas da utilização de todas as forças produtivas e de todos os meios de comunicação, assim como da troca e da distribuição dos produtos, ao administrar tudo isso de acordo com um plano comum baseado nos recursos disponíveis e nas necessidades de toda a sociedade, a própria sociedade eliminará, antes de tudo, todas as conseqüências deploráveis hoje inerentes ao funcionamento da grande indústria.
As crises desaparecerão; a produção ampliada, na atual organização da sociedade representa uma superprodução e uma poderosa causa de miséria. Ao invés de engendrar a miséria, a superprodução garantirá bem mais que as necessidades imediatas da sociedade, a satisfação das necessidades de todos e engendrará novas necessidades, bem como os meios para satisfazê-las. Desse modo, será a condição e a causa de novos progressos e os alcançará sem crises sociais.
O desenvolvimento da indústria colocará à disposição da sociedade uma massa de produtos suficiente para satisfazer às necessidades de todos. Desse modo, a sociedade criará produtos suficientes para que se possa organizar a distribuição de maneira a satisfazer as necessidades de todos os seus membros. Com isso, ficará supérflua a divisão da sociedade em diferentes classes contrapostas entre si. Tal divisão, além de supérflua, será mesmo incompatível com a nova ordem social. A existência das classes tem origem na divisão do trabalho, e a divisão do trabalho, tal como existiu até agora, desaparecerá completamente.
A indústria explorada em comum e segundo um plano, por toda a sociedade, exige homens cujas capacidades estejam desenvolvidas em todos os aspectos, homens que possam abraçar todo o sistema da produção. A educação libertará os jovens do caráter alienante que a atual divisão do trabalho imprime a cada indivíduo. E a sociedade organizada sobre bases socialistas permitirá o desenvolvimento pleno de todas as capacidades humanas.
A planificação da economia sob o controle democrático de todo o povo, a organização da produção para satisfazer as necessidades de todos, o fim da situação em que as necessidades de uns são satisfeitas à custa de outros, o desaparecimento das classes e de seus antagonismos, o desenvolvimento pleno das capacidades humanas mediante a eliminação da divisão do trabalho até agora existente, a educação e a fusão do campo e da cidade: serão esses os principais resultados da abolição da propriedade privada.
Atualmente, vivemos uma época da história da humanidade em que o imperialismo, fase suprema do capitalismo, está destruindo todas as conquistas operárias, democráticas e nacionais, inclusive aquelas que a burguesia construiu em seu passado remoto. Contra esta barbárie que o capitalismo engendra erguem-se a classe trabalhadora e os oprimidos do mundo. É para ajudar este movimento que se constrói a Esquerda Marxista do PT. Mas, para a vitória internacional é preciso construir uma verdadeira Internacional Operária.
A queda mundial no abismo da barbárie não pode ser evitada a não ser substituindo o capitalismo pela economia socialista planificada em escala mundial. É toda a Humanidade que deve entrar na via do progresso social ou não haverá futuro.
1917/2007 – 90 anos da revolução russa
Há 90 anos os operários, soldados e camponeses russos, dirigidos pelo partido bolchevique de Lênin e Trotsky tomaram o poder e estabeleceram o Regime dos Soviets expropriando o capital e realizando o ideal da Comuna de Paris.
Este foi o acontecimento mais importante da história da humanidade e a sua atualidade é cada dia mais evidente frente à decomposição social, política e econômica do regime capitalista, que sobrevive à custa da ampliação da miséria, da dor e do sofrimento de bilhões de seres humanos.
A degeneração do primeiro Estado Operário da história, sob pressão do imperialismo e da traição da social-democracia, se concretizou na URSS através do surgimento de uma burocracia contra-revolucionária, o stalinismo, que usurpando o nome e o prestígio do partido bolchevique e da primeira revolução proletária vitoriosa, se dedicou por décadas a enlamear a bandeira do comunismo, enterrar a revolução em todo o mundo e liquidar a República dos Conselhos. Agindo na URSS e em todo o mundo através dos PCs, o stalinismo e sua irmã mais velha, a social-democracia, impuseram uma extraordinária regressão política e teórica ao movimento operário internacional. Foi daí que surgiram as falsas teorias do “Socialismo num só país”, da “Revolução por etapas”, das “Democracias Populares”, do “Acúmulo de Forças” e das “Frentes Populares”.
A destruição da URSS, estado operário degenerado, e dos outros estados operários deformados burocraticamente desde seu nascimento (Tchecoslováquia, Hungria, Polônia, etc.) assim como a restauração do capitalismo na China, diretamente conduzido pelo Partido Comunista Chinês, são a confirmação do que explicou Trotsky no livro “A Revolução Traída”. Os acontecimentos atuais demonstram o fracasso do stalinismo e sua fracassada teoria do socialismo em um só país, negação do socialismo internacional de Marx e Engels.
Reafirmando a história do movimento dos trabalhadores em sua luta pelo socialismo, no ano de 2007 vamos comemorar os 90 anos da Revolução Russa com atividades políticas para restabelecer a ligação da classe operária com a sua revolução.
A atualidade da Revolução Russa se expressa no combate objetivo cotidiano de milhões e milhões de trabalhadores que buscam, com seu movimento prático, defender a própria existência. Mais do que nunca é atual a palavra de ordem: Socialismo ou Barbárie.
O PT que os petistas querem é socialista
Um partido forte, de classe, democrático e coletivamente controlado pela base, só pode existir com uma verdadeira política socialista. Com esta política os núcleos de base existiriam de fato e teriam um real poder de decisão, pois deles dependeria a luta do partido. Eles só podem sobreviver num ambiente de luta e discussão política fraterna, e não num ambiente parlamentar em que só se fala de eleições e os militantes só são convocados para carregar propaganda eleitoral.
Mas, isto exige do partido independência financeira e, portanto, é preciso que o Partido dos Trabalhadores retome a sua sustentação independente recusando viver do Fundo Partidário (dinheiro governamental) e combata a proposta de financiamento público de campanhas, que atrela o partido ao funcionamento das instituições da burguesia. O PT deve viver das contribuições dos filiados e apoiadores, assim como de campanhas financeiras de massa.
Mas, a democracia interna coerente com uma verdadeira política socialista exige uma reorganização do partido para que valham as bases, as instâncias, e não mais as “estrelas”, os mandatos incontroláveis e os executivos que governam como burgueses.
Para que o partido seja a verdadeira expressão de nossa luta e, portanto, seja nossa voz, deve adotar algumas medidas:
1. Todos os mandatos parlamentares e executivos devem estar sob controle da direção e das bases do partido. Os projetos e a atuação parlamentar ou executivo devem ser colocados sob o controle democráticos das instâncias e da base do partido através de reuniões, plenárias, assembléias, etc., e a eles devem prestar contas regularmente.
2. Todo parlamentar ou executivo continuará, em seu mandato, a receber apenas um salário igual ao recebido em sua anterior profissão, até o limite do salário de um operário especializado, mais as despesas necessárias para o exercício da função. Todo o restante dos valores recebidos, no parlamento ou no executivo, pertence ao partido e a ele deve ser entregue. Isto vale para todos os assessores nomeados, que devem ser definidos em discussão com a direção e a base partidária.
3. Todas as decisões partidárias, especialmente a eleição das direções, candidaturas, etc., devem ser realizadas diretamente nos Encontros após os debates políticos encerrando esta etapa lamentável chamada PED onde o debate político e os verdadeiros militantes petistas têm pouca ou quase nenhuma importância. Não há partido socialista de verdade sem a participação ativa e decisiva dos militantes desde a base.
A força do PT veio de sua independência e sua democracia interna
No final dos anos 70, no Brasil, como em quase toda a América Latina, o ascenso internacional da luta de classes se caracterizava por greves de massa, pela rearticulação do movimento sindical e finalmente pelo surgimento do Partido dos Trabalhadores.
O PT nasce como expressão do movimento operário. A força motriz da sua articulação é a luta dos trabalhadores brasileiros e a força do movimento operário internacional. Desde que existe como classe, o proletariado brasileiro vem lutando pela sua independência como classe frente aos seus exploradores e opressores. Enfrentando primeiro os anarquistas, que se recusaram no começo do século a completar no plano político-partidário a independência sindical incipiente, e depois o PCB estalinizado, que traiu a vontade de independência política que esteve na sua origem, preparando a aventura golpista e a derrota de 1935, que levou à destruição dos sindicatos independentes existentes, o proletariado brasileiro viu-se lançado por décadas na condição de classe praticamente desprovida de organização própria. O ferrolho stalinista foi, neste período de 1940 a 1964, o principal sustentáculo dos sindicatos oficiais, além de todas as formas de colaboração de classes que impediram a expressão política independente dos operários e das massas em geral.
Ao cabo de 16 anos de ditadura militar os trabalhadores brasileiros fizeram um sem-número de greves que partindo das reivindicações elementares chegaram a colocar em questão a ditadura militar. Foi o que se viu na greve de 40 dias dos metalúrgicos do ABC em 1980. Depois disso, os trabalhadores mantiveram suas lutas procurando os meios de centralizar seu combate, centralizar sua vontade de pôr fim à situação, avançando em direção à greve geral de todos trabalhadores.
Nesta época a ditadura militar começava a se desagregar, o PCB entrava em crise profunda e mortal, a classe operária e a juventude se lançavam às ruas e construíam ou reconstruíam suas organizações (CUT, sindicatos, UNE, UBES, etc.) com um entusiasmo revolucionário.
Foi assim que o PT foi construído, na luta de massas contra a ditadura, contra os capitalistas e pelo socialismo.
A falsa teoria da “Etapa de Acumulação de Forças” e do “Governo Democrático e Popular”
Mas, em 1987, no 5º Encontro Nacional, o PT começa a ser desviado de seu caminho como partido socialista independente da burguesia. A resolução política adotada introduzia, com novas palavras, uma velha teoria stalinista, a teoria da revolução por etapas e da necessidade do apoio e aliança com a “burguesia nacional” para avançar na etapa “democrática”.
Este velha teoria menchevique e stalinista aparecia disfarçada agora como a “Teoria do Acúmulo de Forças” e da luta pela construção de um “Governo Democrático e Popular”. A partir daí nenhuma grande luta podia ser desenvolvida porque, afinal, estávamos apenas na etapa de acumulação de forças. Em outras palavras, a classe trabalhadora era atrasada e, portanto responsável por suas próprias desgraças. E quando a luta das massas brasileiras, apoiando-se no ascenso internacional da luta de classes, apesar desta política capituladora, levou o PT ao governo, sejam prefeituras, governos estaduais, ou como hoje ao governo federal, os dirigentes reafirmavam que era preciso, sempre, constituir o “Governo Democrático e Popular” que corresponderia à atual etapa histórica da luta de classes, segundo esta falsa teoria.
O ponto 22, da Resolução Política do 5º Encontro Nacional do PT, concentrava a orientação política adotada. Esta orientação levaria ao abandono progressivo das lutas e a uma adaptação crescente às instituições da burguesia, ao capitalismo e a ordem:
“A situação de crise do governo, de recessão e de ameaças às bandeiras populares na Constituinte impõe uma série de tarefas ao PT, que – embora reconheça não estarem colocadas na ordem do dia para a classe trabalhadora nem a luta pela tomada do poder nem a luta pelo socialismo – combate por uma alternativa democrática e popular. Trata-se, portanto, de uma conjuntura de acumulação de forças na qual a política do partido terá de dar conta de três atividades centrais…”. (Resolução do ENPT/1987).
Estava aberta a temporada de caça aos “setores democráticos e populares” e logo depois diretamente de burgueses “democráticos e populares” e seus partidos. Surge a “Frente Democrática e Popular”, ou simplesmente “Frente Popular”, como expressão desta política de alianças e colaboração de classes. Hoje, como se sabe, o companheiro Lula e todas as correntes que apóiam sua política, já chegaram ao “centro”, como ele chama os partidos burgueses, apoiando a proposta de “Governo de Coalizão”, com PMDB, PP, PDT, etc. O fundo desta teoria é o respeito às instituições da burguesia e a perspectiva de manutenção do capitalismo como único regime social possível.
O desenvolvimento dessa teoria de “revolução por etapas”, como pregava o PCB, é que vai levar a maioria da direção do PT a impedir a aprovação do combate pelo “Fora Collor” no 1º Congresso do PT, em 1991. E depois, quando o movimento tomou as ruas apesar de sua resistência, a constituir o “Comitê Nacional pela Ética na Política”, cujo objetivo era tentar circunscrever a luta das massas contra Collor a uma “moralização do aparelho de Estado”, como se a burguesia e seu Estado, todos os seus governos, não fossem cada vez mais mafiosos.
Esta política chamada “Ética na política” apaga as fronteiras de classe e como já se sabe não garante nada e muito menos impede a corrupção e a roubalheira. E não pode resolver nada porque o que causa a decomposição social é a manutenção do regime capitalista. Enquanto a sociedade for organizada para o lucro e poucos tiverem tudo e bilhões de outros não tiverem nada ou muito pouco, a história se repetirá e cada vez mais a sociedade mergulhará na barbárie.
Hoje, está absolutamente claro que o proletariado brasileiro, através da construção do PT e depois através da CUT, conquistou um grande grau de consciência de classe e de defesa de seus próprios interesses. O movimento do proletariado entre o 1º e o 2º Turno para barrar a burguesia, votando em Lula, e inclusive arrancando 2 milhões e meios de votos de Alckmin, foi um fato inédito.
Ao mesmo tempo, pela negativa, o fracasso da aventura do PSOL ilustra o que se passa com aqueles socialistas que não se guiam pelas necessidades das massas trabalhadoras e nem entendem como aprende e se desenvolve a consciência da classe.
A campanha do PSOL e seu resultado eleitoral, as conseqüências da aventura do PSOL e de sua campanha eleitoral antioperária já estão claras para a maioria dos ativistas políticos e sindicais. Inclusive para muitos militantes do próprio PSOL, que romperam com o PT acreditando estar construindo um tipo de PT “reorientado”, um tipo de PT que havia feito um balanço dos seus problemas e que, portanto, se constituiria como um partido revolucionário. A direção do PSOL e a campanha de Heloísa Helena se encarregaram de mostrar como eles estavam equivocados.
A Esquerda Marxista do PT
O desenvolvimento e a história do PT exigem, na atual situação política, um grande esforço dos militantes petistas para aprender com as experiências realizadas. Exige uma elevação no grau de consciência de classe dos trabalhadores e de formação dos militantes para enfrentar com lucidez as novas situações. É preciso construir, partindo de nossa experiência comum desde a fundação do partido, uma verdadeira Esquerda Marxista do PT, desenvolvendo-a a partir da discussão ampla, junto aos trabalhadores, do programa marxista, único capaz de nos guiar na atual situação política, e da organização prática das lutas cotidianas da classe. Para esta dupla tarefa, discussão política e ação, é que deve ser incentivada a criação de Núcleos Socialistas de Base, onde petistas de diferentes origens e sensibilidades, voltam a se encontrar para discutir e agir juntos na luta de classes.
A Esquerda Marxista do PT vai se desenvolver num combate teórico e político duro, mas fraterno, sem ataques pessoais ou denuncismo histérico, mas politicamente fundamentado contra os desvios e as políticas de capitulação que, abandonando nossos objetivos socialistas, conduzem a um beco sem saída e à destruição das conquistas e do próprio PT. A Esquerda Marxista do PT reafirma e desenvolve o que está inscrito no Manifesto de Fundação do PT, e que foi abandonado por muitos companheiros:
“Por um partido de massas
O Partido dos Trabalhadores nasce da vontade de independência política dos trabalhadores, já cansados de servir de massa de manobra para os políticos e os partidos comprometidos com a manutenção da atual ordem econômica, social e política. Nasce, portanto, da vontade de emancipação das massas populares…
Os trabalhadores querem se organizar como força política autônoma. O PT pretende ser uma real expressão política de todos os explorados pelo sistema capitalista. Somos um Partido dos Trabalhadores, não um partido para iludir os trabalhadores…
Queremos, por isso mesmo, um Partido amplo e aberto a todos aqueles comprometidos com a causa dos trabalhadores e com seu programa. Em conseqüência, queremos construir uma estrutura interna democrática, apoiada em decisões coletivas e cuja direção e programa sejam decididos em suas bases…
O PT afirma seu compromisso com a democracia plena e exercida diretamente pelas massas. Neste sentido proclama que sua participação em eleições e suas atividades parlamentares se subordinam ao objetivo de organizar as massas exploradas e suas lutas.
Lutará por sindicatos independentes do Estado como também dos próprios partidos políticos.
O Partido dos Trabalhadores pretende que o povo decida o que fazer da riqueza produzida e dos recursos naturais do País. As riquezas naturais, que até hoje só têm servido aos interesses do grande capital nacional e internacional, deverão ser postas a serviço do bem-estar da coletividade.
Os trabalhadores querem a independência nacional. Entendem que a nação é o povo e, por isso, sabem que o país só será efetivamente independente quando o Estado for dirigido pelas massas trabalhadoras…
Por isso o PT pretende chegar ao governo e à direção do Estado para realizar uma política democrática, do ponto de vista dos trabalhadores, tanto no plano econômico quanto no plano social. O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados e nem exploradores. O PT manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo.” (Manifesto de Fundação do PT, 10/02/1980).
Este é o partido que os petistas fiéis à sua classe, e ao socialismo, querem e a classe trabalhadora necessita. É por ele que lutamos.