Como o governo Temer acelera a entrega da estatal e dos recursos naturais para exploração e benefício das nações imperialistas.
Não faz muito tempo, em 2007, foi descoberto no litoral brasileiro uma riqueza incalculável em potencial econômico. Calcula-se que mais de 50 bilhões de barris de petróleo possam estar localizados abaixo da camada de sal no fundo do oceano [1], o que corresponde a cerca de 4% das reservas mundiais. A descoberta e a exploração dessa nova fronteira somente poderiam ser iniciadas por uma empresa estatal, já que os riscos envolvidos eram muito grandes e muitos recursos foram alocados.
Os trabalhadores da Petrobras aceitaram o desafio e tiveram êxito na empreitada. Hoje, de acordo com o Plano de Negócios da Petrobras de 2017-2021 [2], o custo de produção do pré-sal é cerca de onze dólares o barril. Esse valor já é menor do que o custo de produção do barril de petróleo no pós-sal da Bacia de Campos, dada a grande pressão a que esses poços estão submetidos e uma vez que um poço do pré-sal entra em produção a extração diária é muito elevada. Muitos equipamentos e técnicas continuam sendo desenvolvidos visando a extração do petróleo [3].
Apesar da superprodução de petróleo e o consequente excesso de oferta no mercado mundial, que derrubou o preço do barril de petróleo para 40 dólares, ainda é bastante lucrativo a produção no pré-sal. Mas é uma ilusão achar que o preço do barril de petróleo voltará aos patamares anteriores. Mas a quem servirá o petróleo e o desenvolvimento tecnológico?
Toda essa riqueza não abriu os olhos apenas da Petrobras e do Estado brasileiro, mas também de diversas empresas monopolistas internacionais que viram no Brasil a possibilidade de exportar seus capitais para gerar lucros com a produção de petróleo aqui. Aliado às reformas trabalhistas de Temer e sua enorme generosidade, maior que a de Lula e Dilma, de entregar a Petrobras e o petróleo brasileiro ao controle das multinacionais, a burguesia brasileira – aliada estratégica dos imperialistas – tem cada vez mais os olhos brilhantes. Cada anúncio de venda, leilão e privatização são como música aos ouvidos burgueses. Um antigo ditado funciona no Brasil e em qualquer país atrasado de maneira um pouco diferente do habitual: entregam-se os dedos, ganham-se os anéis.
Pedro Parente, atual presidente da Petrobras nomeado pelo presidente Michel Temer, envolvido em esquemas de corrupção no BNDES [4], vendeu, em julho, 66% do campo de Carcará, o primeiro campo no pré-sal vendido diretamente para uma empresa estrangeira, a norueguesa Statoil. Esse campo entrará em operação em 2020 [5], e estima-se que o petróleo deste campo foi vendido por menos de dois dólares o barril.
Outra operação que mostra o desmonte da Petrobras em favorecimento de companhias estrangeiras é a venda da BR Distribuidora. Parente planeja vender 51% do seu capital votante [6], ou seja, pretende entregar o controle da BR Distribuidora para empresas estrangeiras. Além de ser a fatia mais lucrativa da companhia, a rede de postos da Petrobras chega a lugares onde não necessariamente é lucrativo estar.
Portanto, a gigantesca riqueza e o esforço dos trabalhadores e pesquisadores brasileiros na extração de petróleo e descoberta do pré-sal estão sendo entregues a preço de banana aos monopólios estrangeiros e sob total controle destes. Isso demonstra mais uma vez a atualidade da obra de Lenin, “Imperialismo, Etapa Superior do Capitalismo”. É evidente ontem e hoje, e enquanto houver capitalismo, que as nações atrasadas estarão cada vez mais reféns do capital estrangeiro caso queiram se desenvolver, sendo que por necessitarem tanto desse capital estarão sempre relegadas ao lugar de países “atrasados”. Afinal, que país “desenvolvido” conseguirá manter-se desenvolvido e capitalista sem os países “atrasados”? O pré-sal é um galão de oxigênio adicional ao moribundo sistema capitalista.
Porém, os trabalhadores da Petrobras já demonstraram sua disposição de luta na greve de 23 dias do ano passado, impactando a produção e distribuição de petróleo no país. Mas para vencer essa batalha é necessário que os trabalhadores petroleiros conquistem a solidariedade de toda a classe trabalhadora brasileira. O governo Temer é frágil e pode estar querendo dar um passo maior do que suas pernas.
[1] http://redeglobo.globo.com/globociencia/noticia/2012/05/descoberto-em-2007-pre-sal-guarda-50-bilhoes-de-barris-de-petroleo.html
[2] http://www.investidorpetrobras.com.br/pt/apresentacoes/plano-de-negocios-e-gestao