A escalação de Dilma para o novo governo e a proposta da CUT de redução de salários. Crise e colaboração de classes.
A escalação de Dilma para os ministérios do novo governo começou com Joaquim Levy (diretor do Bradesco) para a Fazenda, Nelson Barbosa para o Planejamento e Armando Monteiro (da Confederação Nacional da Indústria) para o Desenvolvimento. O governo, dessa forma, acaba de consolidar seus mais sólidos laços de subordinação ao mercado financeiro, aos banqueiros, aos industriais, ou seja, à burguesia.
Para completar o time, aguarda-se a nomeação de uma representante dos latifundiários e do agronegócio, Katia Abreu, para o Ministério da Agricultura.
Esta será a equipe que vai colocar em prática os planos de austeridade do novo governo que, após sair vitorioso das eleições por obra e vontade dos trabalhadores para barrar a direita, em meio a uma profunda crise internacional do capitalismo e com a sua entrada no país, abandona qualquer matiz de vermelho estampado nas camisetas no segundo turno e transforma o branco da paz declarada aos senhores, depois da vitória, em uma cor esmaecida e fétida, rastejando frente aos capitalistas.
Levy em entrevista à imprensa declarou a linha de sua atuação dentro da austeridade: “cumprir a meta consolida o crescimento e melhora conquistas sociais”.
O aceno de melhorias nas conquistas sociais associada ao cumprimento das metas (economizar, aumentar o superávit primário para pagar os juros da dívida pública junto aos bancos nacionais e internacionais) faz lembrar a malfadada época da Ditadura, quando o então ministro Delfim Netto, para arrochar a classe trabalhadora, anunciava a sua espetacular fórmula: “fazer crescer o bolo para depois reparti-lo”. O resultado da aplicação desta frase, nos fatos, resultou no maior arrocho salarial da história, inflação galopante e desemprego. A história só se repete em forma de farsa.
O fechamento do ano com um PIB próximo de zero e com várias empresas aplicando as paradas na produção, demitindo e antecipando férias coletivas, é a prova cabal de que as medidas (não cobrança de impostos aos empresários, desonerações da folha e dinheiro do BNDES distribuído a rodo aos milionários) tiveram efeito contrário. A inflação aumentou, o desemprego aumentou, e o PIB zerou, os ricaços ficaram mais ricos. Os pequenos se encolheram ou desapareceram. O imperialismo quer mais, os banqueiros querem mais. O governo declara paz aos senhores e guerra aos trabalhadores.
Levy anuncia que o PIB de 2015 deve ter um crescimento. Qual, não indica. Parece que aprendeu que é melhor ficar calado, do que fazer como Mantega, que declarava um grandioso PIB só para a cada mês precisar se desmentir, jogando os índices para baixo. Levy também anuncia que deverá haver um superávit da ordem de 1,2% do PIB em 2015 e, depois, em 2016 e 2017, a meta fiscal subirá para no mínimo 2% do PIB. Sabe que é melhor prometer menos e cumprir, do que ficar desacreditado junto ao mercado, como seu antecessor.
Declarou o novo ministro: “Em 2015, a melhora do superávit primário alcançada não deve permitir chegar ao valor de 2% do PIB. Deve-se trabalhar com meta de 1,2%, na forma das estatísticas do Banco Central. Para 2016 e 2017, a meta não será menor que 2% do PIB”.
“Alcançar essas metas [de superávit primário] é fundamental para ampliar confiança na economia brasileira. Isso permite ao país consolidar o crescimento econômico e melhorar as conquistas sociais realizadas ao longo dos últimos 20 anos”.
Ou seja, o fundamental é que virá mais austeridade em 2015, e depois outras doses mais em 2016 e 2017. Mas para dar um rosto humano para tudo isso, acena com melhorias nas conquistas sociais. O que querem, na verdade, é contar com o sacrifício dos trabalhadores para salvar o sistema em decadência.
CUT propõe a redução da jornada com redução dos salários
A CUT, antecipando-se ao novo ministro, já declarou, junto com a antes odiada Força Sindical, que querem aqui aplicar a redução da jornada com redução dos salários. Para ajudar quem mesmo?
Marx ensinava que redução de jornada não significa, necessariamente, redução da produtividade e da mais-valia. Reduzir a jornada de trabalho e continuar a produzir a mesma quantidade de mercadorias, ou mais, associada à redução dos salários, significará aumentar exponencialmente os lucros, fazendo decair a massa de salários. Isso reduzirá o consumo e levará a economia ao colapso. Aumentará a miséria e concentrará mais riqueza nas mãos de poucos.
A Esquerda Marxista repudia essa proposta e convoca todos os sindicatos a se posicionar contra a proposta de redução dos salários e manter a luta por redução da jornada sem redução dos salários, fim das isenções e desonerações, revogação das reformas da previdência, 30 anos de trabalho para se aposentar e com salário integral, estabilidade no emprego e estatização das empresas que realizarem demissões.
Nós confiamos na capacidade de luta da classe operária e da juventude. É preciso travar o combate retomando as tradições de independência de classe dos anos 80, as quais foram traídas e abandonadas pelas atuais direções do PT e da CUT.
Estamos trabalhando, junto com outras forças, na construção de uma Frente da Esquerda Unida. Chamamos todos jovens e operários fartos da política de colaboração de classes a juntarem-se na construção dessa Frente.
Nem mais uma gota de nosso suor! Austeridade aos banqueiros e empresários, eles que paguem a conta! Já lhes demos muito de nossa vida! Fora Ministros capitalistas!