Volta e meia a discussão sobre deixar ou não a Polícia Militar entrar nos câmpus universitários reaparece. Isto acontece pois ela não tem a intenção de acabar com os crimes, como poderia pensar o estudante se ele fosse adepto do senso comum, mas sim de evitar o avanço do povo sobre a burguesia e fazer uma revolução. Sabendo das medidas que a polícia toma, os estudantes costumam repudiar a entrada do braço armado do Estado em seus locais de estudo. Lembram também de um passado recente onde as organizações estudantis estavam cheias de controle estatal e de pessoas que seriam perseguidas, presas, torturadas e mortas pelo Estado capitalista. Não devemos descartar a ameaça desse passado recente voltar, e por isso devemos nos organizar contra este Estado.
É sabido que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo, com uma quantidade de assassinatos comparados apenas com locais onde existem guerras declaradas, com exércitos, bombas e tanques. Existe um mito de que a polícia ser mais violenta ajuda a diminuir a violência na sociedade. Empiricamente o Brasil é a prova de que essa ideia é apenas mito e não realidade.
Segundo o projeto de lei enviado pelo ministro Sergio Moro, essa polícia poderia voltar a executar pessoas dentro de universidades também. Com a lei aprovada qualquer policial poderia alegar que assassinou um aluno sob forte emoção e sairia impune. Porém, mesmo se essa lei não for aprovada e alguns policiais forem punidos pelas suas execuções de supostos criminosos, a instituição Polícia Militar continuará existindo e com essa suposta imagem de que combate o crime, sendo que na verdade ela combate o povo.
Em 2015 conheci na universidade de Ottawa uma organização onde os estudantes tinham além de seus celulares algumas formas de proteção, e acompanhavam alunos que passariam por áreas perigosas do campus, ao redor deste campus, na sua saída e chegada à universidade. Como no Brasil, no Canadá a polícia tem o monopólio da força. Os estudantes não podiam andar armados, mas estavam sempre preparados com algumas ferramentas de auto defesa para se ajudarem. Apesar disso o fato de estarem em grupo já era uma força que caso alguém planejasse atuar sozinho contra algum estudante já não era mais possível.
Vemos então que uma solução para o problema da violência nas universidades não significa que a Polícia Militar deva passar a conviver nesses espaços. Em primeiro lugar, esses ambientes deveriam ser plenamente iluminados e vigiados, com estrutura e por trabalhadores contratados para manter a segurança dos estudantes, professores e demais funcionários. Para isso, é preciso um investimento e recursos capazes de suprir essa necessidade. Em segundo, o exemplo dos jovens canadenses demonstra que os estudantes organizados são mais capazes não apenas de combater iniciativas de violência, mas também de impor demandas sociais mais amplas. Nesse germe de consciência coletiva, imposto pela realidade, pode florescer a percepção da sociedade de classes em que vivemos.