Em uma nota conjunta da “oposição” a Bolsonaro, assinada pelo PSB, PDT, PCB, PT, PSOL, PCdoB, é explicado que:
Bolsonaro não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia. Comete crimes, frauda informações, mente e incentiva o caos, aproveitando-se do desespero da população mais vulnerável. Precisamos de união e entendimento para enfrentar a pandemia, não de um presidente que contraria as autoridades de Saúde Pública e submete a vida de todos aos seus interesses políticos autoritários. Basta! Bolsonaro é mais que um problema político, tornou-se um problema de saúde pública. Falta a Bolsonaro grandeza. Deveria renunciar, que seria o gesto menos custoso para permitir uma saída democrática ao país. Ele precisa ser urgentemente contido e responder pelos crimes que está cometendo contra nosso povo. (grifo nosso)
Isso é, para dizer o mínimo, intrigante. Afinal, a nota fala que Bolsonaro comete “crimes” e pede que ele tenha “grandeza” e “renuncie”? Normalmente, o criminoso não renuncia ao seu crime para ter “grandeza”. Pelo contrário, ele agride mais ainda quem lhe cobra isso, como qualquer um que foi assaltado pode constatar.
Mais intrigante ainda é que a nota venha no momento em que o povo inteiro, batendo panelas, se manifesta nas janelas gritando “Fora Bolsonaro”. Ou seja, ao invés de ajudar os trabalhadores e jovens a se livrar de Bolsonaro, o que querem as oposições é uma “saída democrática” que permita manter o “status quo” ainda que Bolsonaro tenha que sair, se possível, renunciando frente a esta pressão “moral” que a oposição faz a ele. Na verdade, uma verdadeira defesa do seu mandato frente aos trabalhadores e jovens que enxergam em seu governo exatamente aquilo que a nota aponta, um presidente que “comete crimes”.
Mas, será que isso não foi uma concessão que o PT e o PSOL fizeram a outros partidos que ainda não assumiram o “Fora Bolsonaro”? A resolução do Diretório Nacional do PT de 14 de março explica a posição do partido:
“O PT conclama seus dirigentes, lideranças de movimentos populares, sindicais, governadores, parlamentares, prefeitos, lideranças religiosas, comunitárias, juntamente com todos os partidos comprometidos com a democracia a se manterem em vigília permanente diante da ameaça contra as instituições e o Estado Democrático de Direito.
Ditadura nunca mais! Todos às ruas em defesa dos direitos do povo e da democracia. Todos às ruas para derrotar Bolsonaro!”
Ou seja, o partido coloca como central unir todos os “partidos comprometidos com a democracia” na defesa das “instituições e o Estado Democrático de Direito”. Em outras palavras, na crise atual, a principal tarefa do PT é impedir que o Estado burguês se esfarele, golpeado pelas massas.
Lula, que enxerga exatamente o que vem a seguir, explica em entrevista (Folha de S. Paulo, 2/4):
“Da renúncia para o impeachment, é um pouco. Da renúncia para o ‘fora, Bolsonaro’, é um pouco. Na hora que tiver manifestação de rua, o ‘fora, Bolsonaro’ ganha força”.
Em outras palavras, a única coisa que segura Bolsonaro, hoje, é o fato de não existirem manifestações devido à epidemia. E o que fazer para prevenir isso? O melhor seria Bolsonaro renunciar, se não, buscar uma saída institucional antes que o povo venha e atropele tudo.
A nota do PSOL, decidida em 26 de março, tenta ser mais à “esquerda”, refletindo a pressão popular dos panelaços:
“Bolsonaro não pode mais ser presidente. Ele é hoje o principal e mais forte obstáculo para o país combater a ameaça da pandemia.
O PSOL empenhará todos os seus esforços para tirá-lo do poder o quanto antes. Estamos desafiados a construir essa saída de forma o mais ampla possível, buscando partidos, movimentos, entidades democráticas e cidadãos e cidadãs.
Mas é necessário que essa saída seja democrática e impulsionada pelo povo. As muitas irregularidades cometidas por Bolsonaro colocam diversas possibilidades de afastamento: cassação da chapa Bolsonaro-Mourão no TSE, com chamado à novas eleições, o impeachment via Congresso Nacional ou a pressão por sua renúncia.”
Sim, há pressão “por sua renúncia”, o “impeachment”, “novas eleições”, tudo, menos a derrubada revolucionária do governo pelo povo em luta. E é isso que se prenuncia quando as medidas atuais que favorecem os banqueiros e as grandes empresas, que aumentam o arrocho dos trabalhadores, formais e informais, se tornarem mais insuportáveis para a grande massa de trabalhadores e jovens.
O problema do PSOL, do PT e dos partidos que se juntaram a eles (PDT, PCdoB, PCB, PSB) é um só: como manter o Estado burguês e o capitalismo numa situação em que o capitalismo está sendo questionado em todo o mundo? Em que “nada será como antes”? Em que a crise da economia veio à luz do dia por um “acidente”, que foi a epidemia do coronavírus? A posição da Esquerda Marxista é aquela expressa em seu “Programa Emergencial para a Crise no Brasil”: Fora Bolsonaro, por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!