Após uma indefinição inicial, a Polícia Civil assumiu o comando das apurações sobre os assassinatos de Marielle Franco e de Anderson Gomes. Diante dos traços nítidos de execução e de envolvimento de agentes do Estado, uma campanha internacional foi lançada pedindo a criação de uma comissão de juristas e defensores dos direitos humanos para realizar uma investigação independente. Essa iniciativa atraiu apoio de várias figuras públicas pelo mundo, com adesão de muitos brasileiros.
Cabe frisar o sentido em que apontam seus signatários. Muitos dos que estão aderindo à campanha estão sensibilizados pela brutalidade do crime e por seus significados políticos. A campanha, que pede a apuração independente, revela a contradição de exigir uma investigação imparcial dos agentes da polícia e do Estado, que são alguns dos principais suspeitos dos crimes.
Estão colocadas também duas análises distintas sobre as motivações dos crimes. A Executiva Nacional do PSOL analisa que “Marielle foi assassinada por ser negra, mulher, trabalhadora, moradora de favela, bissexual e também por ser lutadora, de esquerda, de um partido socialista que defendia a pauta dos direitos humanos e causa dos oprimidos e explorados.” Já a campanha internacional observa que “O ativismo de Marielle fez com que ela ganhasse muitos inimigos poderosos (…) Ela era uma das principais vozes contrárias à intervenção militar no Rio de Janeiro e era relatora da Comissão que acompanharia a intervenção na cidade.”
Essas diferenças aparentemente sutis revelam posições políticas diferentes que conduzem a medidas de ação distintas. O chamado à campanha internacional, que teve a adesão imediata da Esquerda Marxista, questiona o papel do aparato de Estado, tanto de suas instituições quanto de seus agentes. Analisa a execução de Marielle sob o plano principal dos poderosos interesses inseridos na luta de classes que envolve crime organizado, empresas, polícia e políticos.
Dessa forma, indiretamente essa campanha questiona as bases da República brasileira, expressando a desconfiança em suas instituições e agentes. Nós nos somamos às vozes que exigem uma investigação independente. E explicamos que a execução de Marielle evidencia a necessidade da auto-organização da população, realizando sua própria defesa se for necessário. Somente isso pode garantir que o desafio à impunidade e a superação da violência urbana, valentemente apontadas por Marielle, tornem-se realidade.