Mais uma carta do Maranhão, explicando a situação. Os petistas de lá estão se organizando e resistindo, dando um belo exemplo para o Partido.
A tentativa de estupro é considerada um crime de natureza hedionda. Está entre aqueles mais revoltantes, que causam maior aversão à coletividade. Do ponto de vista político, o assédio moral da oligarquia Sarney sobre o PT do Maranhão pode ser definido como uma atitude hedionda, uma tentativa de estupro que, nos próximos dias, pode se consumar como atentado ainda mais violento, contra a vontade da imensa maioria dos militantes e filiados.
Se não, vejamos. No último mês de dezembro, em entrevista para o jornal Vias de Fato, Manoel da Conceição, fundador do PT, membro da primeira direção nacional e, indiscutivelmente, uma das maiores figuras do partido no Brasil, disse: “Eu não tenho condições psicológicas e muito menos políticas de subir num palanque para pedir votos para Sarney, Lobão ou Roseana. Para mim, não dá. Tenho muitas marcas. Como vou subir e pedir votos para aqueles que foram coniventes com os que mataram e torturaram meus companheiros? Que me torturaram? Em nome da memória desses companheiros, minha posição será outra”. Na mesma entrevista Manoel afirmou que durante a ditadura militar programaram a sua morte e que “Sarney esteve metido nisso”.
Três meses depois das fortes declarações de Manoel, no dia 27 de março deste ano, um congresso do PT maranhense tomou uma decisão que, para quem conhece a realidade local, foi mais do que óbvia: o partido não faria aliança com o grupo Sarney no Estado. A coligação no Maranhão excluía a máfia e partiria de uma união entre o PT, PC do B e PSB.
Mas, neste mesmo dia 27, o peemedebista Ricardo Murad – cunhado de Roseana e Fernando Sarney – foi para o famigerado Sistema Mirante/Globo e publicou uma nota onde disse que “a palavra final caberá à Direção Nacional do PT”. Um dos arrogantes do PMDB anunciava ali que estava sendo planejada mais uma violência política no Maranhão. Pouco tempo depois, a imprensa nacional começou a informar que, em nome do acordo em torno da candidatura Dilma Roussef, o coronel Sarney estaria exigindo que no Maranhão “o PT fosse obrigado” a apoiar sua filha Roseana. Um caso de “quero, posso e mando”, comum na história da oligarquia, mas inteiramente estranho a um partido que se propôs a radicalizar na democracia interna.
Porém, após a ameaça e antes da violência maior, veio o aliciamento. Em abril, depois do congresso que recusou qualquer aproximação com Sarney, o governo de Roseana entregou para alguns integrantes do PT a poderosa Secretaria de Educação e mais a Secretaria de Desenvolvimento Social. Um ano antes, uma ovelha desgarrada (petista) já tinha, numa atitude isolada, aceito a Secretaria do Trabalho. Ocupadas todas estas secretarias, a tara pelo poder ainda levou a máfia a prometer aos petistas a Secretaria de Ciência e Tecnologia.
Dias depois, veio o escândalo: foi denunciado que, ao longo deste processo de disputa interna, alguns integrantes do PT no Maranhão teriam sido comprados para apoiar Roseana. Alguns delegados do congresso teriam recebido entre 20 e 40 mil reais. Resumindo, depois de perder no voto, o grupo Sarney resolveu prostituir mais alguns, para poder estuprar o todo.
Antes desta notícia, que se alastrou pelo Brasil a fora, Domingos Dutra, único deputado federal do PT maranhense, disse que se houver intervenção ele fará uma greve de fome. E logo depois do escândalo do suborno dos delegados, no final de maio, um grupo de militantes do campo majoritário do PT, entre eles os presidentes da CUT e da FETAEMA (a Federação que abriga dezenas de sindicatos de trabalhadores rurais), assinaram um documento onde, entre várias outras coisas, estava dito que eles “não aceitam entregar a estrela do PT ao grupo Sarney”. O jornalista Ed Wilson, um dos que também assinou este documento, chegou dizer em seu blog que a manobra pró-Roseana é “sórdida, inescrupulosa e debochada”.
Bem, meus amigos, a verdade é que todo este enredo com ingredientes de fraude, suborno, aliciamento, cooptação, golpe e estupro político, é a sequência do que se instalou no Maranhão há mais de meio século. Na década de 1950, por exemplo, o poderoso Assis Chateaubriand, vivendo no Rio de Janeiro, quis um mandato de Senador da República. Sem votos para tal empreitada, foi sugerido ao megaempresário das comunicações que a melhor alternativa para sua ambição era o Maranhão, do cacique Vitorino Freire. E assim, à custa de dinheiro e manipulação dos votos, ele conseguiu um mandato de senador sem precisar pisar no Estado.
Sarney (ex-afilhado de Vitorino) faz hoje por sua filha, o mesmo que seu antigo padrinho fez para Chateaubriand (e tantos outros) há mais de meio século. Sem escrúpulos, nem limites, de Vitorino a Roseana, esta tem sido a rotina, a regra no Maranhão. Sarney nasceu nas fraudes vitorinistas, chegou ao poder apoiado pela ditadura militar e se manteve nele sem passar pelo crivo popular.
Desde 1978, quando ele ainda era da tirânica ARENA, o candidato a faraó não “disputa” uma eleição em seu estado natal. No entanto, a ditadura acabou, mas o Maranhão seguiu no totalitarismo. Hoje, o substituto de Vitorino quer emplacar Roseana pela quarta vez como governadora. Para isso, não pode ter eleição. A história recente mostra que no voto é muito difícil para eles. Então, como seus antecessores, ele quer o poder, ignorando a vontade do povo.
Este artigo será publicado, antes da decisão final sobre o destino do PT. A previsão é que a direção nacional do partido se posicionará no dia 11 de junho. Até o momento, não se sabe até onde vai a violência. Se ficará na tentativa, ou se o estupro será consumado com a participação direta de Lula, Dilma e da cúpula partidária. Enquanto encerro este texto, Manoel da Conceição, por exemplo, ainda não sabe como tratarão suas inúmeras cicatrizes (físicas e psicológicas). O clima é de expectativa e resistência. Diante do enorme assédio moral, o partido segue se debatendo.
Mas, independente do desfecho, é interessante que todo este processo tenha também um efeito pedagógico. O processo político/eleitoral do Maranhão em 2006 acabou com um golpe pela via judiciária. O de 2010 começa com uma tentativa de estupro. Estou convencido que esta nova estupidez é mais um fato contra a triste história do grupo de José Sarney. Mais um tiro no pé. Mais um exemplo para desmoralizar estas poucas múmias que insistem em querer, na base da força bruta, controlar o destino de milhões de maranhenses. A palavra de ordem é resistir!