Foto: Lula Marques / Agencia Brasil

Red Pills: o que significa a proliferação dos movimentos machistas na internet e como combatê-los?

No capitalismo, não é possível dissociar a luta pela emancipação das mulheres, pela igualdade de direitos e pela ampliação das conquistas existentes da luta pela derrubada do próprio sistema”.

A premissa acima – presente na Plataforma Política de Luta pela Emancipação da Mulher Trabalhadora, do movimento Mulheres pelo Socialismo – é válida não apenas para a questão da luta das mulheres, mas para o combate contra todas as formas de opressão e preconceito na sociedade de classes.

É através desta perspectiva que podemos compreender e nos organizar contra o assombroso movimento machista que recentemente voltou a se disseminar na internet: os chamados “Red Pills” ou “coaches da masculinidade”.

Em um primeiro olhar, a análise deste tema pode parecer o estudo do absurdo. Afinal, fazer isso significa se debruçar sobre ideias que remetem ao século retrasado e que parecem ter caído sobre nós como um raio em céu azul.

No entanto, o marxismo nos ensina que todos os fenômenos sociais têm, em sua origem, bases econômicas materiais. Neste contexto, a existência dos Red Pills e a propagação das suas ideias absurdas têm bases bem concretas em um capitalismo que vive sua pior e mais insolúvel crise.

Em uma busca desesperada por fôlego, esse sistema recorre à destruição de forças produtivas. Fazer isso inclui retirar conquistas históricas da classe trabalhadora (Reforma da Previdência/ Reforma Trabalhista), destruir a educação, a ciência e a cultura (Novo Ensino Médio/ corte de verbas), além de fomentar guerras em todo o mundo.

A base ideológica que resulta e ao mesmo tempo justifica esses ataques é a religião, o nacionalismo e todas as formas de preconceito, sejam elas contra mulheres, negros, imigrantes, homossexuais, entre muitos outros.

Mas, afinal, o que são os Red Pills?

Ironicamente, os Red Pills adotaram este nome em referência à pílula vermelha do conhecimento do filme Matrix. Isso porque eles acreditam serem os detentores da realidade nua e crua.

Autointitulados coaches ou influencers da masculinidade, eles afirmam enxergar “com consciência e sem firulas” um mundo que seria injustamente dominado pelas mulheres, que seriam privilegiadas, interesseiras e aproveitadoras.

Esse grupo nasceu nos Estados Unidos, em meados dos anos 2000, e voltou a se popularizar recentemente, com uma nova roupagem, por meio dos conselhos de coaches e influencers nas redes sociais. Com um discurso dito científico, que partiria das diferenças biológicas entre homens e mulheres, eles justificam velhos comportamentos de opressão contra as mulheres.

Tudo isso faz parte de uma indústria que fatura com livros, cursos, palestras e monetização de conteúdo.

No Brasil, um dos principais expoentes desse absurdo é Rafael Aires, que escreveu o “Antiotário”, uma espécie de cartilha com conselhos para o que ele chama de “Homens com coragem de encarar a realidade e tomar atitudes que homens fracos jamais teriam coragem de fazer”. Rafael defende que as mulheres manipulam os homens o tempo todo e que a parceira perfeita seria aquela de perfil obediente, que entende o homem como o chefe da casa, não usa roupas curtas e exala delicadeza.

Outro “coach da masculinidade” brasileiro que ficou famoso é Thiago Schutz, o “coach do Campari”, que reagiu com intimidações públicas a uma paródia feita pela atriz e roteirista Livia La Gatto. No Instagram dele há conteúdos como “Mulher de valor, valor mesmo, ela se adapta ao estilo de vida do homem. Ela se adapta à caminhada do homem. Então ela faz parte disso. Não é o contrário.”

O que há de concreto?

Voltando ao mundo real, o que há de concreto é um Brasil onde:

  • Nos últimos 12 meses, 28,9% (18,6 milhões) das mulheres relataram ter sido vítima de algum tipo de violência ou agressão, o maior percentual da série histórica (Datafolha – 2/3/2023);
  • A diferença de remuneração entre homens e mulheres, que vinha em tendência de queda até 2020, voltou a subir e atingiu 22% no fim de 2022. Isso significa que uma brasileira recebe, em média, 78% do que ganha um homem (IBGE);
  • 822 mil mulheres são estupradas a cada ano, duas por minuto (Ipea – 2023, com dados de 2019).
  • Uma mulher morre a cada dois dias por aborto inseguro (Ministério da Saúde – 2018).

Ampliando nosso olhar para o mundo, vemos as mulheres iranianas que protestam há sete meses enfrentando todo tipo de repressão, não apenas contra o uso do véu, mas contra um regime secular de opressão. Vemos ainda mulheres afegãs sendo proibidas de estudar e trabalhar (até mesmo para a ONU!).

Como combater o machismo e lutar em defesa da emancipação das mulheres?

Na luta pela emancipação das mulheres, pela igualdade de direitos e contra o machismo não podemos incorrer no erro de muitos movimentos feministas que separam a sociedade entre mulheres-boas e homens-maus.

O movimento Mulheres pelo Socialismo compreende o mundo a partir de uma perspectiva marxista, de que a sociedade é dividida em classes sociais, entre o 1% que explora e os 99% que são explorados no mundo.

Em meio a isso, as camadas sociais mais oprimidas são as mulheres da classe trabalhadora, negros da classe trabalhadora, homossexuais da classe trabalhadora, entre outros grupos, todos pertencentes à parte da sociedade que possui apenas a própria força de trabalho para sobreviver.

Por isso, a busca por nossa emancipação está intimamente ligada à luta pela superação do atual sistema de produção, o capitalismo. É ele o pilar central que sustenta o machismo, a homofobia, a violência e o racismo.

Entender isso profundamente é entender que a luta para extirpar grupos assim e pela verdadeira igualdade não é separada da luta de toda a classe trabalhadora.

É ao lado das mulheres e dos homens da nossa classe que devemos nos organizar contra esse sistema em decomposição, que fomenta a existência de grupos como os Red Pills, e em defesa de uma sociedade socialista sem nenhum tipo de opressão.

Se você concorda ou quer saber mais, leia a Plataforma Política de Luta pela Emancipação da Mulher Trabalhadora e junte-se ao Mulheres pelo Socialismo.