Foto: Divulgação MCTIC

Relato e discussões sobre o ensino remoto na Universidade Federal de Pelotas 

Artigo produzido pelo Comitê Fora Bolsonaro – Universidades Públicas. Para conhecer as posições da Esquerda Marxistas sobre a defesa da educação pública, gratuita e para todos e sobre o ensino em tempos de pandemia, confira o Foice&Martelo Especial 06 e a Plataforma da Esquerda Marxista para a Educação.

A Universidade Federal de Pelotas (UFPel), acompanhando o aumento de casos de Covid-19 no território nacional, tomou a decisão de se pararem as aulas (inicialmente do dia 16 até dia 31 de março) e desde este primeiro momento tem se mantido como referência ao embate contra o coronavírus. A instituição priorizou, no primeiro mês, a organização dos combates a doença e quais as medidas deveriam ser tomadas, além de reorganizar o hospital escola da UFPel, transformando-o na referência para o combate à pandemia na região sul do Rio Grande do Sul. 

As discussões sobre como funcionará a área educacional da UFPel, durante período de risco, no princípio ficaram em segundo plano, porém após algumas semanas foram sendo retomadas, mais especificamente na última semana de abril. Durante o dia 27 de abril ocorreu uma live na página do facebook da UFPel com o então reitor Pedro Curi Hallal, o vice reitor Luís Amaral e a pró-reitoria de ensino Maria de Fátima Cóssio para, junto a comunidade acadêmica, discutirem a definição de como a universidade deve recuperar este primeiro semestre de 2020, e talvez o segundo semestre também. Neste momento da discussão, foi sugerido o ensino remoto na Instituição, optando por dar a liberdade aos cursos definirem como será a aplicação desta modalidade de ensino, incentivando a oferta do máximo de disciplinas possível. 

Os pontos favoráveis para ocorrer o ensino remoto, seriam da continuidade do calendário acadêmico, com supostas “menores consequências” ao rumo da educação brasileira, e de que isso traria a “volta à normalidade”. Isso faz parte de um jogo político-ideológico, e que possuem diversos adeptos a esta mudança, que conscientemente ou inconscientemente, colaboram para que pensamento seja difundido e aceito por uma parcela da sociedade. Os apoiadores do ensino remoto estão em diversos planos, desde o governo Federal, até camadas da sociedade brasileira, como representantes de Escolas, Institutos, Universidades, professores de rede pública e/ou privadas, pais e filhos. Pela parte de alguns estudantes universitários da UFPel, por exemplo, alguns argumentam que não querem atrasar sua organização acadêmica. 

A maioria das pessoas tem dificuldades de compreender que os tempos que estamos vivendo, fazem parte de um momento único da sociedade global, em que pressionados pelas grandes forças capitalistas no mundo, que não querem que o Capital se quebre, difunde na sociedade que devemos voltar a normalidade. Mas que normalidade é essa? Normalidade na qual enquanto alguns estudam, outros veem seus parentes sendo mortos? Normalidade em que, alguns são excluídos e que só voltariam a ter contato com a universidade depois que o surto da pandemia passasse? Normalidade que faz com que estudantes fiquem trancafiados em casas tendo surtos e crises de ansiedade, depressão e outras mais? 

A sistemática da política brasileira, desde seu princípio, durante a colonização, tem como um de seus pilares a alienação política (conceito marxista que demonstra a falta de compreensão de todas as partes do sistema político, às vezes sabendo somente de uma pequena parte, mas não do maquinário total), logo a sociedade fica mais maleável e adepta ao discurso do seu líder. Atualmente essa sistemática fica evidente com o alto número de seguidores as falas presidenciais, os quais justificam a necessidade de cuidado com seus trabalhos e a economia brasileira, demonstrado por Roberto Leher: 

“A tentativa de difundir no senso comum a crença de que as escolas e as universidades estão funcionando normalmente, por meio de aulas remotas e educação a distância (EaD), é crucial, decisiva e fulcral para o fim do isolamento social sem preocupação com a vida, como quer o governo Federal. Somente antecipando uma falsa normalidade do sistema educacional será possível pressionar os trabalhadores a retornarem aos seus postos de trabalho, embora o país ainda esteja na parte inferior da curva que anuncia um pico de proporções catastróficas, conformando uma política de morte[2].” (LEHER, 2020)

Visto isso, alguns coletivos estudantis, docentes e técnico-administrativos da UFPel, pensam em algo diferente, gerando uma quebra de paradigma nas universidades. Juntos, alguns DAs e CAs da universidade, e alguns representantes da ADUFPel, pensam em uma outra forma de se conceber a Educação na Universidade, sem que tenhamos que voltar aos mesmos padrões que tínhamos antes, nos sensibilizando ao momento único que estamos passando. Com isso foi sugerido ao reitor da UFPel, que ao invés de retornarmos com as aulas remotas, dessemos ênfase nos três pilares que se baseiam a universidade pública, que são os Projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão. Com isso, impulsionar os alunos a participarem de grupos de estudos na intuição e/ou de laboratórios de Pesquisa da Universidade é fundamental para que a ideia dê certo. Sem a obrigatoriedade de notas, avaliações, créditos isso tiraria todo o peso dos estudantes, de uma volta a normalidade que já não existe. 

Além disso, mostraria o apoio da universidade com os problemas das outras camadas de ensino, que vem sofrendo com as imposições e ataques do governo bolsonaro, como por exemplo, o de não cancelar o ENEM, e expor e provocar ainda mais uma desigualdade surreal entre a população brasileira, onde enquanto as pessoas que têm condições financeiras de ter um ensino particular, tem mais condições de entrar na universidade pública, a maioria das escolas públicas estão paradas, por não haver condições de um ensino remoto. Nesse sentido, você ser contra a volta do ensino remoto é fundamental para não nos tornarmos meros agentes de manobra dos anseios e vontades político ideológica do governo e do capital, que por egoísmo, quer a todo custo excluir as pessoas que menos tem condições de se estabelecer estudando sob essa enorme crise existencial que o homem está vivendo. 

O abalo psicológico, gerado pela pandemia e suas incertezas, unindo-se aos argumentos aqui mostrados, faz com que uma parcela da comunidade acadêmica se ponha contra a modalidade do ensino remoto, levando em consideração a desigualdade econômica e social desenvolvidas historicamente e presentes na universidade. Mesmo que a reitoria diga que irão oferecer pacotes de internet para os que não tiverem acesso, esses pacotes são insuficientes para atender a demanda dos que necessitam, tanto em questão quantitativa quanto qualitativa. Não basta oferecer pacotes de internet 3G/ 4G, pois isso não será o suficiente, como relatado por outros alunos de instituições públicas como a USP, que adotou essa mesma estratégia. Logo, estará sendo feito um mal gasto público do dinheiro da universidade, sendo que nem todos os estudantes da UFPel vão ter condições e acesso aos meios necessários para conseguirem participar das aulas online deste modelo educacional, de uma forma ou de outra, reforçando a educação desigual entre os alunos. Aliando-se a este pensamento a outros fatores, o Centro Acadêmico de História, produziu uma nota pública sobre seu posicionamento contrário ao ensino remoto: 

“Entendendo que agora e sempre devemos preservar o direito de TODOS os alunos, em compreender que não é a maioria desses que tem de fato condições físicas, financeiras e psicológicas para realizar esse tipo de estudo, não permitindo então a exclusão de alunos do curso. Se não for uma educação de qualidade para todos, não será para poucos.”(CAHIS, 2020)

Como reflexo a todos estes pontos, PAIXÃO (2020) evidenciou que até a data 14 de maio das 69 universidades federais brasileiras, somente seis instituições haviam optado pelo o ensino remoto, ao todo elas possuem 8,7% (97,5 mil alunos) do universo acadêmico federal. A proporção entre institutos pró e contra o ensino remoto é favorável ao ensino presencial e a espera para o retorno das atividades, para que seja possível defender a comunidade acadêmica na sua totalidade, não somente um grupo de maior poder econômico. Sabe-se que mundialmente a prioridade é superar a pandemia, deixando para depois os demais áreas sociais, não há como manter à normalidade quando ocorrem mortes exponenciais no país. 

Para finalizar, gostaríamos de comentar que a discussão já não é mais por parte da direção da UFPel se haverá ensino remoto ou não. No último dia 22/05 em uma reunião da COCEPE (órgão máximo da instituição – onde se discute quais medidas a Universidade vai tomar), foi aprovado um calendário alternativo para que as atividades retomam no próximo dia 22/06, e que tenha uma duração de 12 semanas, terminando assim o semestre de 2020/1 no começo de Setembro. Alguns grupos estudantis, docentes e técnicos-administrativos da Universidade estão analisando e se opondo sobre como será esse ensino remoto. É evidente que há uma pressão governamental para que se aplique essa prática na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e em várias outras faculdades federais pelo país. Porém, é de fundamental importância que a reitoria continue os diálogos com todos os grupos que componhe a UFPel e que de forma democrática e ampla, resista ao plano de precarização do ensino público, gratuito e de qualidade, e que caso dê prosseguimento ao ensino remoto, que garanta a acessibilidade e condições de todo e qualquer aluno da Universidade de poder participar do ensino remoto ou não. 

Sendo assim, a única forma para que a Universidade garanta todos esses direitos do cidadão, que é ter condições e acesso de qualidade a esse ensino remoto é derrubando o governo federal, no qual nitidamente mostra a cada dia o seu descaso com a democracia e a educação brasileira, mandando prender membros do Judiciário e do Legislativo, cortando verbas das UFs e dos IFs, reduzindo bolsas de estudos nessas instituições, censurando trabalhos, faculdades e professores, e tentando aprovar PECs que nos remetem a tempos ditatoriais como no passado. Chega disso, chega de pagar dívida pública à bancos internacionais, e vamos investir no que realmente é essencial em um país, a Educação. 

  • FORA BOLSONARO! Por um governo dos trabalhadores sem patrões e nem generais! 

João Pedro Vitoriano Fabri é Estudante graduando do 5º semestre do curso de História Bacharelado da UFPel, pesquisador no Laboratório de Estudos em Cerâmica Antiga (LECA).

Larissa Ceroni de Morais é Estudante graduanda do 5º semestre do curso de História Bacharelado da UFPel, pesquisadora no Núcleo de Documentação Histórica (NDH) – Acervo da Delegacia Regional do Trabalho (DRT).

Referências Bibliográficas: CAHIS. Centro Acadêmico de História. Pelotas, 15 de maio 2020 LEHER, Roberto. Em virtude da pandemia é necessário discutir o planejamento do sistema educacional. Carta Maior, 2020. Disponível em: <https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Educacao/Em-virtude-da-pandemia-e-necessario- discutir-o-planejamento-do-sistema-educacional/54/47389>. Acessado em: 15/05/2020

PAIXÃO, André. Só 6 das 69 universidades federais adotaram ensino a distância após paralisação por causa da Covid-19. G1, 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/05/14/so-6-das-69-universidades-federais-adota ram-ensino-a-distancia-apos-paralisacao-por-causa-da-covid-19.ghtml>. Acessado em: 15/05/2020.